Boletim de Pesquisa - Nelic
- Editora:
- Universidade Federal de Santa Catarina
- Data de publicação:
- 2011-03-10
- ISBN:
- 1984-784X
Descrição:
Número de revista
Documentos mais recentes
- Notas para um passeio no parque de diversões com Dalton Trevisan e Katherine Mansfield
O ser que escreve, por ser-assim, quer a liberdade de escrever sem responder a um projeto. Por ser-assim, se encontra, neste lado de fora do esperado, com outros que vieram antes e continuam seu estar-no-mundo, entre viventes e não-viventes. Neste inesperado lugar, este artigo constrói as bases de um parque de diversões, convidando para um passeio. Na roda-gigante, na montanha- -russa e na sala de espelhos, estão Dalton Trevisan (1925- ) e Katherine Mansfield (1888-1923), acompanhados de uma comunidade de outros amantes de Mansfield, como Vinicius de Moraes, Clarice Lispector e Ana Cristina César. O mote do passeio são as ficções de Dalton dedicadas a Mansfield, iniciadas com uma (suposta) carta integrante do número 14 da revista Joaquim (1947). A versão mais recente do conto, que teve outras republicações, está em Até você, Capitu (2013), com significativas alterações.
- Vivo até a morte: a experiência limite na Crônica da Casa Assassinada
Se, com a Crônica da Casa Assassinada, Lúcio Cardoso quer desvendar, em profundidade, a condição humana, ele o faz dramatizando a relação do ser humano com a morte e com a sexualidade. Neste artigo, proponho uma leitura do diário de André (uma das narrativas da Crônica) com o objetivo de evidenciar as implicações da morte enquanto fator responsável por ditar, não só o andamento da trama de seu relato, mas também as experiências e os sentimentos que exprimem a condição humana no que ela tem de mais essencial e definitiva. Para isso, acompanho a história de paixão e de morte entre Nina e André à luz das noções de "experiência interior" e de "erotismo", propostas por Georges Bataille, e de "comunidade dos amantes" que, inicialmente tratada por Bataille, vai ser retomada posteriormente por Jean-Luc Nancy e Maurice Blanchot.
- Literatura indígena: escrita-eco e [re]tomadas a partir do regime estético das artes de Jacques Rancière
O presente artigo realiza uma reflexão sobre a expansão do comum e as novas tomadas de parte no sensível decorrentes da revolução estético-política provocada por sujeitos indígenas na esfera das artes que apresentam fraturas no consenso, de modo a reaflorar o dissenso e remodelar a vida democrática. O ponto de partida é a legitimação do indígena enquanto sujeito político de direitos, a partir da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, tendo como fio condutor as concepções de Jacques Rancière acerca de regime estético das artes, política e democracia. Para diminuir a lacuna ruidosa entre o contexto que concebe os aparatos teóricos aqui mobilizados e o contexto em que se inserem os sujeitos indígenas de Pindorama, se procede um ajuste nas lentes que evidencia o eco da palavra indígena e contemporiza sua existência.
- Do sujeito em seu ponto de ebulição: o anacronismo narrativo, o exotismo e a imagem em El santo, de César Aira
Este texto parte da ideia batailliana de um "sujeito em seu ponto de ebulição" para pensar alguns aspectos da narrativa El santo (2015) de César Aira: o anacronismo narrativo, o exotismo e a imagem. O monge milagreiro, protagonista da narrativa, é esse sujeito em ponto de ebulição que está implicado (seu corpo, sua experiência) na dispendiosa dinâmica dos acontecimentos no mundo. Argumenta-se que essa implicação parece deslocar a subjetividade para a ordem do impessoal, já que a única instância pessoal - a voz anacrônica do narrador - segue a lógica do exotismo de trazer o silêncio da imagem para dentro da linguagem: não há a organização das experiências visando um desfecho narrativo (a comunicação de um saber adquirido); pelo contrário, toda a sucessão de acontecimentos não mostra nada além de um gasto de energia sem retorno a partir de um sujeito em seu ponto de ebulição (a comunicação de um excesso).
- É possível pensar em comum?
- A experiência comum
que sustenta a ideia de comunidade? É uma propriedade substancial dos membros que a integram? Ou é um vazio, uma ausência, uma falta? Como dizer "nós" sem apelar a discursos essencialistas que fazem da comunidade um corpo fechado e unitário constituído em oposição a um "outro"? A partir destas questões, o ensaio propõe indagar o problema da comunidade, em relação às noções de subjetividade, identidade, corpo e experiência. Num primeiro momento, expõe algumas considerações de Giorgio Agamben acerca do papel dos dispositivos nos processos de subjetivação, e problematiza certos enunciados dicotômicos subjacentes em seu pensamento. Num segundo momento, recorre ao pensamento de dois autores que, desde diferentes óticas, questionam todo substrato ontológico tanto do "ser" quanto dos sujeitos coletivos: Jean Luc Nancy e Judith Butler. Por último, retoma o conceito de "comunidade" elaborado por Roberto Esposito e o relaciona com a experiência interior de Bataille.
- Salón de belleza: comunidade e morte
No presente ensaio, lemos Salón de belleza (1994), do escritor mexicano Mario Bellatin, a partir de um olhar voltado para o funcionamento do Moridero enquanto uma comunidade de morte. Na tensão entre um gesto e uma gestão, assim como na manutenção de uma continuidade através da conversão de um espaço de beleza num espaço de morte, investiga-se o modo como comunidade e morte se articulam no texto.
- Imunidade e progresso: o caso Lesabéndio
Em 1913, na Alemanha, Paul Scheerbart publicava, em plena véspera da Grande Guerra, uma narrativa sobre um planeta habitado por formas de vida alienígena que se organizavam em um sistema social e econômico muito diferente daquele da população da Terra. Opondo o progresso como modo de desenvolvimento individual característico do imperialismo dos séculos XIX-XX a um sistema social que privilegia todas as formas de vida, a ideia renovada de técnica promovida por Scheerbart ajuda a responder as questões que surgiram junto com a pandemia da COVID-19, principalmente aquelas que dizem respeito às políticas de controle dos corpos e às relações entre comunidade e imunidade.
- Relações entre o tema da comunidade e os jogos
Esta pesquisa tem por objetivo relacionar os textos de diversos filósofos a respeito do tema da comunidade com definições e conceitos advindos da área da teoria dos jogos. São apresentados três tópicos principais de discussão, os quais se entrelaçam de diferentes maneiras. O primeiro tópico discute a tarefa de repensar a comunidade através dos estudos de Georges Bataille, Jean-Luc Nancy e Maurice Blanchot, relacionando-os à atividade lúdica. Em seguida, analisa-se os aspectos estéticos e políticos do jogo, com base nos pensamentos de Jacques Rancière. Finalmente, apresenta-se um breve estudo do videogame The Stanley Parable de forma a relacionar o jogo ao tema da desobediência dentro da comunidade através dos entendimentos de Frédéric Gros. A pesquisa conclui que a esfera lúdica se apresenta como um meio propício para se discutir a comunidade, relacionando-se a todo momento com as dinâmicas de grupo e de sociedade.
- Ensaiando uma conversa em um bar ao sul: felizes Juntos em La Doce, comunidades em Wong Kar-Wai e no Boca Juniors
A diferença radical entre comunidade e sociedade aparece em Nancy evidenciando que a comunidade necessita da partilha entre os diversos. O presente ensaio trata sobre questões da comunidade a partir do filme Felizes juntos, dirigido por Wong Kar-Wai, e do envolvimento da torcida organizada la doce com o Club Atletico Boca Juniors. Nessas relações, a comunidade parece estar sempre ainda a vir, e a lemos assim: sem a fixação de um projeto a ser operado e sim como o próximo passo de uma dança de tango, contando ainda com a entrega incondicional sobre a qual escrevia Esposito em seu Communitas.
Documentos em destaque
- Estado gel do corpo ficcional em 'Rosa canina' e 'Flores', de Mario Bellatin
Mario Bellatin cria um espaço de sentido peculiar na ficção, relacionado à expressão visual e performática da linguagem. Assim, escrever se apresenta como linguagem do corpo em seu projeto literário, um território de significância constantemente desterritorializado por sensações conectadas ao jogo...
- A escuta selvagem
Estamos tão pendentes do que se escreve que perdemos o que se diz. O aturdito é aquilo que se diz e permanece esquecido atrás do que foi dito naquilo que se ouve. Os leitores são sempre aturditos e atordoados em relação ao universal e à existência da...
- Contemporâneos do futuro: Raúl Antelo e Maria Gabriela Llansol, gestos que destotalizam
Este artigo propõe uma conversa entre as ideias heterogêneas desenvolvidas pelo crítico cultural Raúl Antelo e o trabalho incomum da escritora Maria Gabriela Llansol, em suas respectivas articulações com noções de “Tempo” e “História”, “Passado” e “Futuro”, mas, sobretudo, evidencia a potência do...
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- Templos que são fantasmas: bandeira, ouro e megahype
O capitalismo contemporâneo entendido como modernidade metropolitana marca uma virada nos escritos estéticos de Bandeira. Em algumas das crônicas dos anos 20, ele empreende uma pesquisa sobre a essência da tragédia cultural como jogo de contrastes entre os impulsos da verossimilhança apolínea e a...
- Muitas rosas e um enigma a partir de 'O Relógio do Rosário
Nosso trabalho busca reler algumas tópicas tradicionais da crítica que se voltou para Claro enigma, de Carlos Drummond de Andrade, retomadas a partir de seu último poema, “O Relógio do Rosário”. Buscamos observar o quanto o poema em questão parece articular alguns dos mesmos elementos que se...
- Um túmulo para a crítica (?)
A partir de uma proposição de Serge Daney, um túmulo para o olhar, enquanto lê algo dos filmes de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet e arma um pensamento para o que toma como uma não-reconciliação, contra todas as forças de homogeneização e porque tudo está no presente, pensar e reler essa proposiç...
- Primeiro de abril - narrativas da cadeia: um diálogo com o passado
Nosso objeto de estudo centra-se na análise do livro Primeiro de abril: narrativas da cadeia, do escritor Salim Miguel, o qual apresenta a experiência do autor durante os quarenta e oito dias em que esteve preso pela Ditadura Militar, em Florianópolis. A prisão arbitrária, no dia subsequente à...
- Olhar para 'Talco de vidro
Aqui se busca uma forma de olhar para as histórias em quadrinhos emprestando as lentes e olhares de Maurice Merleau-Ponty. O objeto em estudo é a obra de Marcello Quintanilha, mais es-pecificamente o álbum Talco de Vidro. Através das ideias propostas por Merleau-Ponty, tentou-se entender os...
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Este texto percorre alguns escritos de Raul Antelo onde ele desenvolve uma reflexão sobre o conceito de objeto a desenvolvido pelo psicanalista francês Jacques Lacan. Lacan vai pensar o objeto a como abrindo um fora de lugar na estrutura, portanto, um não lugar, uma espécie de farol que interpela o ...