Introdução

AutorFábio de Oliveira
Ocupação do AutorProfessor do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Páginas13-18

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Assistimos, desde a década de 1990, no Brasil, ao crescente interesse de vários setores sociais pelo cooperativismo. Esse interesse demonstra-se, por exemplo, pelo maior número de empresas formalmente registradas como cooperativas nesse período, pelo número cada vez maior de publicações sobre o assunto, pelo surgimento de organizações destinadas a fomentar a constituição de cooperativas ou empreendimentos semelhantes, pela inclusão do cooperativismo entre as políticas sociais públicas de governos de diferentes orientações políticas, pelo crescente debate em torno da chamada "economia solidária" (Singer, 2002).

Para se ter uma ideia desse crescimento, segundo dados da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), foram abertas no período compreendido entre 1980 e 1989, um total de 766 novas cooperativas. Na década seguinte, observou-se um salto significativo: 3.340 novas cooperativas foram constituídas ent re 1990 e 1999. E mais 1.636 surgiram entre 2000 e 2003.

A OCB contabilizou em dezembro de 2003 um total de 7.355 cooperativas em atividade no país, distribuídas, segundo classificação3 da própria entidade. Vale lembrar que o registro de cooperativas na OCB não é obrigatório.

Note-se também que a OCB não representa mais o conjunto das cooperativas do país, especialmente aquelas pertencentes ao que Pinho (2003) chamou de "vertente solidária", em oposição à "vertente pioneira". Isto é, uma parte considerável das chamas "cooperativas populares" não consta dos registros oficiais da OCB.

Ainda não há informações precisas sobre o número de empreendimentos de economia solidária no país, mas dados preliminares de um amplo levantamento4, ainda em andamento, conduzido pela Secretaria Nacional de Economia Solidária (2005a, 2005b) indicam a existência de 9.593 empreendimentos espalhados pelo território nacional, dos quais, 1.373 estão organizados como cooperativas5.

Nesse universo de cooperativas incluem-se aquelas nas quais pessoas se reúnem para consumir algum tipo de bem ou serviço, para ter acesso a crédito ou, em um número considerável de casos, para oferecer mão de obra ou serviços, produzir ou comercializar bens.

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É esse último conjunto de cooperativas - que segundo as diversas classificações poderiam ser chamadas de cooperativas de produção, de serviços, de trabalho e que têm em comum o fato de acenarem com a possibilidade de geração de renda para seus sócios -, que tem se destacado nas propostas econômicas contemporâneas de resposta à crise do emprego (Singer, 1998; Singer & Souza, 2000; sobre a crise: Antunes, 1999; Mattoso, 1995; Pochmann, 1999).

Estamos falando de empreendimentos que se apresentam como alternativa ao trabalho assalariado, no interior dos quais se pode encontrar terreno profícuo para o estabelecimento de relações de trabalho distintas daquelas que acompanham a produção nos moldes capitalistas.

Várias cooperativas de trabalhadores e empresas geridas por ex-empregados surgiram na década de 1990 a partir, dentre outras razões, da falência de empresas tradicionais, que foram reerguidas por trabalhadores com o apoio de seus sindicatos ou de outras organizações (Anteag, 2003; Esteves, 2004; Holzmann, 2001; Oda, 2001).

Exemplos desse fenômeno são as cooperativas da União e Solidariedade das Cooperativas (UniSol), que congrega empreendimentos de diversos ramos de atividades, especialmente cooperativas industriais da região do ABC Paulista surgidas da massa falida de empresas privadas (Oda, 2000). Destacam-se aqui a atuação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC no auxílio à formação desses empreendimentos e suas tentativas de renovar as formas de ação sindical diante da nova ordem econômica.

Um segundo exemplo é a Associação Nacional de Trabalhadores de Empresas de Autogestão e de Participação Acionária (Anteag), fundada em 1994. Embora boa parte das empresas a ela associadas sejam registradas como cooperativas, a Anteag não se define como uma associação de cooperativas, mas de "empresas de autogestão". Isso porque, independentemente da figura...

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