Por que não a violência?

AutorRejane Batista Vasconcelos
CargoUniversidade Federal do Ceará (UFC). Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza (Fametro)
Páginas269-279
269
POR QUE NÃO A VIOLÊNCIA?
R. Pol. Públ., São Luís, Número Especial, p. 269-279, julho de 2014
POR QUE NÃO A VIOLÊNCIA?
Rejane Batista Vasconcelos
Universidade Federal do Ceará (UFC)
Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza (Fametro)
POR QUE NÃO A VIOLÊNCIA?
!"#$%&' !"#$%&'!(! )"#$*!+',-$%$.$%/"!0*!1%,2"! $*-*!0*!0'.$'#"0'!3.*! -*!'+.)'.!*1!0*1',-$#"#! 3.*!"!/%'45,+%"6!.1"!
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Sob intensidade e forma variadas, a violência encontra-se implícita ou categoricamente derramada por sobre as múltiplas
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Palavras-chave: Violência, mercadoria, Capital, sistema do capital.
WHY NOT VIOLENCE?
()*+ (,+&'The article is a constitutive part of my doctorate thesis which busied itself in showing that violence, an exclusive
human action and as old as the initial act of mankind, represents only, in the capital system, one among thousands of
commodities that put themselves disposable on the shelves of the merchant world. Under different intensity and shapes,
violence is found implicitly or categorically spilled in multiple human creative expressions, such as art, religion,
literature, politics and history. It’s a product that seems to contradict the market laws: the more plentiful it is,
$2*!1'#*!)#'E$"C4*!%$!-**1-!$'!C*<
Keywords: Violence, commodity, Capital, capital system.
Recebido em: 13.12.2013. Aprovado em: 06. 01.2014.
270 Rejane Batista Vasconcelos
R. Pol. Públ., São Luís, Número Especial, p. 269-279, julho de 2014
-'./+ 012340&'sobre violência convém saber
F*! +',-*&.%#*1! 3.*! /'+5! ="7"! "-!
perguntas erradas, eles não têm
de preocupar-se com as respostas.
(Pynchon, Thomas)
! 3.*! (! /%'45,+%"G! H%-! .1"! )*#&.,$"! ,*1!
certa nem errada, talvez. Mas, ainda assim, impõe-
se correção nas respostas. Tomando com a devida
severidade a observação feita pelo autor da frase
*1! *)?"=*6! )*#+*C*:-*! 3.*! "%,0"! -*! *-$I! 4',&*!
de ver demonstrada a necessária preocupação para
com as respostas ofertadas, ou pelo menos não se
$*1!4*/",$"0'! )#*'+.)"78'! +'1!'! %1)"+$'! 3.*! "-!
respostas a essa indagação causam ou deixam de
causar na sociedade.
JI!3.*1! 0%&"! -%1)4*-1*,$*! 3.*! "!/%'45,+%"!
(! %,$#?,-*+"! "'! -*#! 2.1",'
/%'45,+%"! .1"! ).4-8'! 0*! 1'#$*! 3.*! -*! ')>*! ;! 0*!
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"! #"L8'! ,8'! -*! *-/"%6! 3.*6! )'#$",$'6! -*! $#"$"! 0*!
um ato intencional. Alguns a ela se referem como
.1! )#'+*--'N! '.$#'-! "! +4"--%E+"1! +'1'! 1*%'
O',=.,0*1:,"! +'1! '! +',P%$'6! $'1",0'! *-$*! )'#!
"3.*4"! +'1'! -*! "1C'-! ='--*1! *9)#*--8'! 0*! .1!
só fenômeno. Endeusam-na e cantam-na na arte.
Introduzem-na bem cedo, lúdica e sutilmente no
cotidiano das crianças, ensinando-lhes e a todos a
torná-la banal por meio das canções de ninar, dos
)*#-',"&*,-! 0*! 0*-*,2'-! ",%1"0'-6! 0'-! E41*-!
infantis veiculados nas manhãs e nas tardes nos
variados e mesmos canais de TV.
Tornam-na mais pulsante e sangrenta na
1'-$#"!="#$"!*!0%/*#-%E+"0"!+'1!3.*!(!0%.$.#,"1*,$*!
levada com licenciosidade aos lares de todos,
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programações locais e nacionais. Uma marca
3.*! 0*%9'.! 0*! -*#! )*+.4%"#! "! *--"! )#'"1"78'!
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3.*6!'.$#'#"6!-*!0%-$%,&.%"1!0'!+"#I$*#!-",&.%,'4*,$'!
e espetaculoso dos primeiros. Houve um tempo –
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"$'-!/%'4*,$'-!-@!'+.)"/"!'-!$*4*R'#,"%-!3.",0'!,*4*!
2"/%"!.1!+'1)',*,$*!)'4?$%+'!'.!3.",0'!"!+#.*L"!0'!
*/*,$'!3.*!'!EL*#"!P.%#!0"!/*%"!+"#*+%"!0"!%,0%&,"78'!
+'4*$%/"T-!3.*-$>*-!
políticas, as econômicas, as sociais coagulam-se no
vazar abundante do sangue dos embates cotidianos
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)#'E--%',"4!Q!'.!,8'!1"%-!Q!+%'-'6!-*0*,$'!$",$'!)'#!
%,/"0%#!"!#*$%,"! /?/%0"!0'! "4&'L!3.",$'!'!RI!,.C4"0'!
'42"#!3.*6! ,'! +'#)'!)"#0"+*,$'!*! %,*#$*! 3.*!"&'#"!
R"L!+'1'!%42"!#.C#"6!E+'.!+',&*4"0'
inumano para fazê-lo dizer de sua dor; para arrancar
de suas vísceras um ai; para vender essa cena; para
$#'+I:4"!)'#!".0%5,+%" M*,"!3.*! *--*!+'#)'! RI!,8'!
1"%-! &*1*N! 3.*! 4"-$%1I/*4! ,8'! -*! )'0*#! #*&%-$#"#!
+"0"!"%!RI!%,".0?/*46!3.*!0*,.,+%"!'!E1D!U"1*,$I/*4!
não se conseguir fazer de cada ai numerário!
O espetáculo brutal cada vez mais
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/*,0I/*4! 3.*#! *1! /*#->*-! +'1)4*$"-6! 3.*#! -'C!
forma seriada ou na modalidade compactada. O
modo como esse espetáculo é posto em evidência
&"#",$*!".0%5,+%"6!-.+*--'6!)'#!+',-*3.5,+%"!4.+#'<
JI! 3.*! -*! #*+',2*+*#! .1! 3.5! 0*! ="-+?,%'!
instalado no espetáculo 11 de setembro: as torres
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3.*!-*1!0V/%0"!0*%9'.!,'--'-!'42'-!"$*,$'-6!,'--'-!
músculos retesados, nossa mente vígil.
W"3.*4"! 1",28! 0*! -*$*1C#'! 3.*! -*!
inaugurara comum, o inesperado iria irromper.
S.0'!'! 3.*! )"#*+%"6!2I!C*1! )'.+'6! %1)',0*#I/*46!
"3.*4"-!$',*4"0"-!0*!"7'!"+"C"/"1!0*!="L*#B!='#"1!
de encontro ao símbolo do capitalismo mundial;
puseram-no no chão, macularam-no, tingiram-no
com o sangue dos seus e o de estranhos. Embora
inelutavelmente reprovável, desse ato terrorista
4"1)*R"/"!.1! 3.5!0*! -%1C@4%+'6!$",$'!(! "--%1!3.*!
Bush, logo após a tragédia, aproveitando a plateia
1.,0%"46! *! +'1'! 3.*! "! +',/'+",0'! )"#"! .1"!
revanche, brada: O coração do mundo foi atingido.
T3.*4*!*/*,$'!+',&*4"0'6! )4"-1"0'6!)"--"/"!
a apresentar-se absolutamente ausente de conexão
factual. E, pelo mundo, chorava-se, velava-se, horas e
0%"-!"!E'6!)'#!+"0"!.1!*!)'#!$'0'-!"3.*4*-!+',2*+%0'-!
*! ",X,%1'-! 2'1*,-! *! 1.42*#*-! 3.*6! %,=*4%L1*,$*6!
)%-"/"16! 0%-$#"%0"1*,$*6! ,"3.*4*! 0%"! *! 2'#"6! o
coração do mundo. E o mundo gelado pelo horror
mantinha seus olhos, corpos e emoções congelados
)*4"!1*-1"!%1"&*1!3.*6!"!+"0"!/*L6!)"#*+%"!'.$#"<
W"! +*,"! #*)#%-"0"6! 3.*6! +'1! Y,-%"6! -*!
aguardava, surgiriam novos detalhes, antes
0*-)*#+*C%0'-N! 0*$"42*-! 3.*! *-+")"#"1! *! 3.*!
)'0*#%"1! -*#! %1"&($%+'-! '.! 3.*! -*! "+#*-+%"1!
– ou eram mesmo criados – na locução de um
)#'E--%',"4
cena. Incessantemente reinaugurava-se, refundava-
se o ato irascível, imobilizador. Uma aura, uma
1I&%+"! -*! +'4'+"/"! *1! $'#,'! 0"3.*4"! '+'##5,+%"!
estarrecedora. A violência do espetáculo imantava,
imobilizava; fazia ouvidos gritos e gemidos, mas
produzia, ao mesmo tempo, a mudez angustiante,
estranha, sufocante.
Diante do espetáculo do World Trade Center –
um incontestável horror –, o mundo não mobilizaria
as mesmas emoções no mesmo grau e intensidade
acaso tivesse tão-somente tomado conhecimento
do ocorrido, em vez de ter assistido a ele de seu
escritório, de sua sala, de seu sofá, de sua cama,
daí a importância de um espetáculo cuidadosamente
produzido, trabalhado. A depender do espetáculo
3.*!*1! $'#,'! 0*!.1! ="$'! -*!%,-$"4*6! -."! "/%0"0*!
pode ser inferiorizada ou maximizada: ela é menor
ou maior, menos ou mais impactante a depender
0"! 4.L! 3.*! 42*! R'&"16! 0'! $*1)'! *1! +*,"! 3.*! 42*!
+',E#"16!0'!%,/*-$%1*,$'!3.*!,*4*!="7"1
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POR QUE NÃO A VIOLÊNCIA?
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Como salienta Debord (2007, p. 44),
O espetáculo não exalta os homens
e suas armas, mas as mercadorias
e suas paixões. É nessa luta cega
3.*! +"0"! 1*#+"0'#%"6! "'! -*&.%#! -."!
paixão, realiza de fato na inconsciência
algo mais elevado: o devir-mundo da
1*#+"0'#%"6! 3.*! $"1C(1! (! '! 0*/%#:
mercadoria do mundo.
W8'! )"#*+*! 3.*! $*,2"1! -%0'! '-! 1%42"#*-!
0*! %,+".$"-! /?$%1"-! -'$*##"0"-6! ,"3.*4"! 1",28!
fatídica, no coração do mundo, a dar o tom do
espetáculo, mas sim a audácia traduzida no ato de
P*+2"#!"3.*4*!)($#*'!+'#"78'!%,"$%,&?/*46!"$(!*,$8'6!
incólume, simbolizador do poder econômico. Mas a
$#"&(0%"!$#",-E&.#"0"!*-)*$I+.4'6!,"3.*4*!)#%1*%#'!
ano do século XXI, fez-se eternizada nos instantes
$'0'-!3.*!-*!-*&.%#"1!"'!0*-"$%,"0'!/''!0"!1'#$*
E novamente tomo a fala de Debord (2007, p. 28,
30) para ofertar uma tradução, para lançar um olhar
sobre o 11 de setembro:
! 1.,0'! )#*-*,$*! *! ".-*,$*! 3.*!
o espetáculo faz ver é o mundo da
1*#+"0'#%"! 0'1%,",0'! $.0'! '! 3.*! (!
vivido. E o mundo da mercadoria é
assim mostrado como ele é, pois seu
movimento é idêntico ao afastamento
dos homens entre si e em relação a tudo
3.*! )#'0.L*1 Z<< ! *-)*$I+.4'! (! '!
1'1*,$'!*1!3.*! "!1*#+"0'#%"! ocupou
totalmente a vida social. Não apenas a
relação com a mercadoria é visível, mas
não se consegue ver nada além dela: o
1.,0'!3.*!-*!/5!(!'!-*.!1.,0'<
A violência atestam não apenas os
*-$.0%'-'-! Q! (! .1! "$'! 2.1",'! 3.*! -*! %,".&.#"!
com a estreia da humanidade. A ela, indevida e
intencionalmente, faz-se aderida a predicação
inerradicável, ineliminável, inelutável, inextinguível.
Às vezes também – e não raro – dela se disse uma
"4$*#,"$%/"!;!"1*"7"!0'!*-$"0'!0*!%,(#+%"!-'+%"4
="$'!(!3.*!"!/%'45,+%"!*!'-! $*1"-! "! *4"! +'##*4"$'-!
têm, desde as últimas décadas do século XX,
irrompido com relevância nos estudos de distintas
ciências, disciplinas. Saberes e dizeres em torno da
3.*-$8'! -*! "0*,-"1! *! "1)4%"1:-*
inesgotável de sobre ela saber e discorrer. Cada
/*L!3.*!.1!"$'!"--%1!3."4%E+"0'!="L:-*!"+',$*+%0'6!
*4*! -*! $'#,"! /*#C'N! )#'0.L! .1"! ="4"! "1)4%E+"0"6!
0%/*#-%E+"0"6!"C.,0",$* (! "! )#'0.78'!
$(+,%+"6! +%*,$?E+"6! 4%$*#I#%"6! 3.*! -*! *,+',$#"! ,'!
circuito de venda, cujo foco direto ou indireto é essa
$*1I$%+"3.*!-*!$'1"!,"-!18'-!
)"#"! 4*%$.#"! #*=*#*,+%"! .1! ,V1*#'! -%&,%E+"$%/'! 0*!
outras produções.
K1"! 3.*-$8'6! "3.%6! *1*#&*B! '! ="$'! 0*! .1!
"$'! 2.1",'! 0*! $8'! "/*! #*)*#+.--8'6! 3.*! $*1!
lançado sobre si tanta preocupação, ser, a um só
tempo, naturalizado e estranhado. São processos
3.*6!;!)#%1*%#"!/%-$"6!-'"#%"1!%,/*#-'-6!)"#"0'9"%-
Não o são, no entanto. São tão-somente, um do
outro, complemento. Naturaliza-se a violência para
com ela se conviver, para garantir sua existência;
existindo, instala-se contra ela um combate no
3."4!*4"! ,8'!-*! ="L!0*##'$"0" F*!,"$.#"46! 2.1","6!
inextinguível, ineliminável, inelutável, inerradicável,
'! 3.*! #*-$"! "! ="L*#! (! ")*,"-! *,+',$#"#*1:-*!
='#1"-!"0*3."0"-! 0*! +'1! *4"!+',/%/*#6! 1'0'-! 0*!
enfrentamento apropriados. Não havendo, pois,
sob tais argumentos, alternativas possíveis para o
-*.!*9$*#1?,%'6!)'-$'!3.*!-."!*4%1%,"78'!+',E&.#"!
expressão de si mesma – de violência. É intrigante
essa naturalização e esse estranhamento como um
lusco-fusco da violência.
Indiscutivelmente, a violência consolida um
*-$"0'!)*#*,*! 0*! 1*0' ]"-$"!3.*! -*R"1! $#"L%0'-!
;!1*1@#%"! #*-.4$"0'-!0*! 4*/",$"1*,$'-6!*,3.*$*-6!
)*-3.%-"-!0*!')%,%8'!/*%+.4"0'-!,"!1?0%"!"+*#+"!0'!
3.*!"!)').4"78'!1"%-!$*1*T!/%'45,+%"!-*!+4"--%E+"!
como, senão a primeira, pelo menos uma das
)#%1*%#"-! +".-"-! 0*! %,3.%*$"78'6! 0*! %,-*&.#",7"6!
0*!$*1'#!*,E1<
T--%1! -*,0'6! )'#! 3.*! '#0*1! 0*! #"L8'! *4"!
haveria de se inserir abusivamente no cotidiano
0"-! )*--'"-G! M'#! 3.*6! -'C! '.$#"-! ='#1"-! 0*!
apresentação, com outros invólucros a ela se
confere outro estatuto, outro status: o de produto
+'1*#+%"4%LI/*4G! M*4?+.4"-! +%,*1"$'IE+"-6!
músicas, videoclipes, games, revistas, livros,
desenhos animados, programas de entretenimento
veiculados na mídia televisiva, destinados a
públicos vários e faixas etárias distintas, recheiam-
-*!0*! +*,"-!*1!#*4"78'! ;-!3."%-! ,8'! )"%#"!0V/%0"!
"4&.1"!3.",$'!"!#*-*#/"#*1!.1!+',$*V0'!/%'4*,$'6!
3.",0'!,8'! -8'! *9+4.-%/"1*,$*! +',E&.#"0'-! +'1!
"!E,"4%0"0*!+#."!0*!")#*-*,$"#!"!/%'45,+%"!1*-1"
É irrefutável: a violência invade, com
licenciosidade, os espaços, os corpos e as mentes
0'-! -.R*%$'-! ,"! #"L8'! 0%#*$"! *1! 3.*! "3.*+*! '-!
medos e acelera as fomes de justiça, de vingança,
0*!)"L6!0*!&.*##"1"%-!"--.-$"0'#!(!3.*!Q!+'1'!
já disse – o aprendizado da violência inaugura-se
precocemente: na audição de cançõezinhas com
3.*! -*! *1C"4"1! '-! C*C5-! ^Boi da cara preta,
Atirei o pau no gato, Sambalelê está doente) ou de
2%-$'#%,2"-!3.*!0%-$#"*1! *!*-$%1.4"1!"! %1"&%,"78'!
e o aprendizado das crianças (Branca de Neve,
Joãozinho e Maria); na audiência de desenhos
animados (Tom e Jerry, Piu-Piu e Frajola). Passando
depois pelos games!*1!3.*!'!R'&"0'#!)"#"!"4+",7"#!
maior pontuação deve atropelar o maior número de
velhinhos, ou matar mais inimigos; por programas
destinados ao público juvenil (Malhação); por
assistência, submissão ou prática de bullying
nas escolas, nos grupos sociais agora, com
as cenas capturadas por celulares e divulgadas
,"-! #*0*-! -'+%"%- ! ="$'! (! 3.*! '! ")#*,0%L"0'! -*!
#*,'/"6! "$."4%L":-*6! &",2"! ='#1"6! #*3.%,$*6! +'#! *!
272 Rejane Batista Vasconcelos
R. Pol. Públ., São Luís, Número Especial, p. 269-279, julho de 2014
$'1! -*0.$'#*-
.1!-*1)#*! #*,'/"0'! *-$'3.*! 0*!$I$%+"-! 0*! /%4*L"6!
crueldade, ardileza e intolerância na audiência de
telenovelas nos diversos horários e emissoras.
os reality shows põem, sem censura
alguma, sob experimentação os limites físicos,
emocionais e morais dos sujeitos participantes, em
$#'+"!0*!.1!)#51%'!3.*!3."-*!-*1)#*!-.)4",$"!*1!
muito a renda anual de cada um de seus integrantes.
Um exemplo nacional dessa modalidade de
audiência – em tempo real – de cenas de violência
$#",-E&.#"0"-!*1! *,$#*$*,%1*,$'!*1! 3.*!$'0"-! "-!
tarefas a serem cumpridas pelos participantes eram
de esforço físico intenso, de sujeição a desgaste,
tensão, privação, constrangimento, estresse físico e
mental foi o No limite, produzido pela TV Globo. O
)#51%'!*#"!0*!3.%,2*,$'-!1%4!#*"%-<
Outro reality, Solitários, foi produzido pelo
SBT. O reality apresentava-se com a “promessa
0*! 4*/"#! '-! )"#$%+%)",$*-! ;! $'$"4! *9".-$8'_
permaneciam isolados e incomunicáveis em um
)*3.*,'! +'1)"#$%1*,$'! %,0%/%0."4! -*1! "+*--'! ;!
4.L!-'4"#6!-*1!0%#*%$'! ;!+"1"6!)#%/"0'-! 0*!+.%0"0'-!
higiênicos básicos como banho e troca de roupa.
Para deitar-se, sentar-se ou utilizar o banheiro o
)"#$%+%)",$*! $*#%"! 3.*! )*0%#! ".$'#%L"78'! )#(/%"
F"4%*,$*:-*!3.*! *--*!reality!='%! '!3.*! 0*.! '!1*,'#!
)#51%'B!+%,3.*,$"!1%4!#*"%-!*1!C"##"-!0*!'.#'<
Que objetivo subjaz a essa massiva
apresentação de espetáculos de violência?
M#*-.1'!3.*!,8'!)"#*7"!"'!4*%$'#!)#*+%)%$"0"!
'.!%,=.,0"0"!"!%0*%"6!3.*!RI!0*%9'!"3.%!0*=*,0%0"6!0*!
3.*!,*,2.1!'.$#'!1'0'!'#&",%L"$%/'!0*!-'+%*0"0*6!
3.*!,8'! '! /%&*,$*!,'!-%-$*1"! 0'! +")%$"46!)*#1%$%#%"!
;! /%'45,+%"! 0*-)',$"#! +'1! *--*! +"#I$*#! 1*#+",$%46!
+'1! *--*! )'$*,+%"4! 0*! $#",-E&.#"#:-*! *1! #%3.*L"
A origem mesma do capital, já o denunciava Marx
(1973), tinge-se de rubro. E no rubro faz-se ouro!
A violência é matriz do capital; por seu meio, ele se
gesta, mantém-se, multiplica-se.
Ela é, desde muito, mercadoria: eis o ponto
de partida. Ao ingressar no circuito do mercado,
passou por uma intensiva mercadização. É de fácil
“comercialização”. É rentável, de baixíssimo risco e
de garantia de elevados lucros. Como, então, não
a situar sob a égide do dinheiro, na lógica do lucro,
com base na estética fundada no metal, no universo
regido pelo capital? Como, pois, não traduzir seu
suposto combate como um encantador embute,
/%-$'!3.*6! *1!-8'! +',-+%5,+%"6! ,8'!-*! 0*-$#@%! .1"!
inesgotável fonte de lucro certo?
Haveria, na civilização do capital, razão
)4".-?/*4!)"#"!-*!+'1C"$*#!"!/%'45,+%"G!H%-!)'#!3.*!
se deve buscar a pergunta certa.
Não há c omo subestimar ess e dado de
#*"4%0" 0*B! "! /%'45 ,+%"! +',+#* $"6! -@4%0"6 ! 4%3.*=*%$ "!
ou rarefeita assombrosamente tem se derramado
)'#!-'C#*!$.0'!*!$'0'-!+'1 '!.1!= ",$"-1" !0*!3. *!
não se pode fugir. O capital é sua metáfora mai s
sólida.
5''('6.078/,.(&'um fenômeno de “pseudovoz”
O'1)#**,0*#! "3.%4'! "! 3.*! *-$"1'-!
="0"0'-!-%&,%E+"! *-$"#1'-! +',-+%*,$*-!
0*!3.*!%--'!(!0%=*#*,$*!0*!,'--'!0*-$%,'
H! +'1)#**,0*#! "3.%4'! "! 3.*! *-$"1'-!
fadados é conhecer a rede complexa de
+".-"-! 3.*! )#'/'+"1! *--"! ="$"4%0"0*!
*! -."! 0%=*#*,7"! 0"3.*4*! 0*-$%,'
operar no mundo (por contraste a ser
“operado” por ele) é preciso entender
como o mundo opera. (Bauman,
Zygmunt)
A ossatura da ideia de violência como
1*#+"0'#%"! ='%:-*! +',-$%$.%,0'6! &",2",0'! /.4$'! ;!
1*0%0"!3.*6!,.1!*9*#+?+%'!1*,$"4!#I)%0'6!0*%!+',$"!
0*!3.*! *1!1V4$%)4"-! ='#1"-! 0*!+#%"78'6! 0*! #*4"78'!
e de expressão humanas ela vinha como elemento
%,$*"$%/'6!3.*#!*--*,+%"46! CI-%+'6! 3.*#! "+*--@#%'6!
tangencial.
Entranhada no cotidiano das pessoas de
='#1"!3."-*! %##*+.-I/*46! 3."%-3.*#! 3.*! -*R"1! -."!
%,$*,-%0"0*6! -."! =#*3.5,+%"6! -."! *9)#*--8'6! -."!
modalidade, a violência é, a um só tempo, dor e
)#"L*#6!)*-"#! *! 4"L*#6! +'1'!+'1)#'/"!'!)-%3.%"$#"!
='#*,-*!F%1',!^`aab6!)
Ficamos aterrorizados e, ao mesmo
tempo, fascinados pelo lado obscuro
do ser humano. Milhares de cidadãos
respeitosos são ávidos consumidores
0*! E41*-6! )#'"1"-! 0*! $*4*/%-8'6!
/?0*'-6! 4%/#'-! *! "#$%&'-! 3.*! ="4"1! 0*!
assassinato, estupro e outras formas
0*! /%'45,+%"
produzidos em Hollywood, um tem
como tema o estupro. Quando o norte-
americano médio chega aos 18 anos
de idade, já assistiu a 250 mil atos de
violência, incluindo 40 mil assassinatos,
na televisão. [...]. Autores de livros de
mistério podem contar com boas vendas
-*! *9)4'#"#*1! "! $*-*! 0*! 3.*! 3."-*!
todas as pessoas podem ser levadas a
matar.
Simon (2009), nessa obra, visa
=.,0"1*,$"41*,$*! 0*1',-$#"#! 3.*! (! ,*+*--I#%'!
3.*!-*!-.-)*,0"!"!%0*%"!0%+'$X1%+"!3.*!+4"--%E+"!"-!
)*--'"-!*1!C'"-!*!1I- H!3.*6!"'!+',$#I#%'6!$'0"-!
as pessoas deveriam reconhecer-se dotadas de um
lado sombrio capaz dos mais condenáveis atos,
até como forma de municiar-se de mecanismos de
+',$#'4*6!=#*%'-H!"##*1"$"!0%L*,0'!3.*!Os impulsos
antissociais das pessoas são oportunistas (SIMON,
) ')'#$.,%0"0*!(!'!3.*!
o mercado não deixa escapar!
!="$'! (!3.*! "!/%'45,+%"! 3.*!-*! +'1C"$*!(! "!
1*-1"! 3.*! (! "4%1*,$"0"6! )#'+4"1"0"B! "! 3.",$'-!
não foi prescrita certa dose de violência necessária
;! -'C#*/%/5,+%"! 0'! 0%"! "! 0%"G! F'C! 3.*! ='#1"-!
sutis e explícitas a violência tem sido abertamente
273
POR QUE NÃO A VIOLÊNCIA?
R. Pol. Públ., São Luís, Número Especial, p. 269-279, julho de 2014
veiculada como entretenimento por meio de
E41*-6! -*#%"0'-6! $*4*,'/*4"-6! 0*-*,2'-! ",%1"0'-6!
programas infantis, vale-tudo (lutas), revistas
eletrônicas matinais, vespertinas ou noturnas,
0%I#%"-!'.!-*1","%-6! )#'"1"-!0*! /"#%*0"0*-!3.*!
$#"L*1!;! 1'-$#"!0'#*-!?,$%1"-6! 0#"1"-!)*--'"%-!*!
familiares? Em telejornais e programas estritamente
)'4%+%"%-6! 3.*! %,='#1"7>*-! "+*#+"! 0*! /%'45,+%"! -8'!
/*%+.4"0"-G! d*! 3.*! 1'0'6! +'1! 3.*! =#*3.5,+%"! *!
intensidade isso se dá?
T! /%'45,+%"6! %,3.*-$%',"/*41*,$*6! $'#,'.:
se um produto posto nas prateleiras do mercado
sob várias formas de apresentação, dosagem,
%,/@4.+#'-6!-*&.,0'!'!&'-$'! *!'!)'0*#!"3.%-%$%/'!0'!
consumidor. E a segurança – seu anverso, a outra
="+*!0*--"!1'*0"! Q6!3.*!-*! +',/*,+%','.!"! ='#1"!
0*!-*.!+'1C"$*6!%&."41*,$*6!*9)",0*:-*6!0%/*#-%E+":
-*!*!*,+2*!+'=#*-!0*!3.*1!-'.C*!Q!*!-"C*!Q6!"4(1!
de fazer a pergunta certa, oferecer uma resposta
*##X,*"!)"#"!'-!0*1"%-!3.*!EL*#"1!Q!*!/51!="L*,0'!
Q!"!)*#&.,$"!*3.%/'+"0"!"+*#+"! 0*!)'#!3.*!-*!*-$I!
a experimentar tanto a expressão real, concreta da
/%'45,+%"6!3.",$'!'!*-$"0'!)*#*,*!0*!1*0'!3.*!*4"!
instaura. Como nos alertava o autor da epígrafe com
3.*!"C#%! *-$*! "#$%&'6! '! *-='#7'! 0*! 3.*1!4.+#"!+'1!
a violência e seu pseudocombate é voltado para
3.*!,8'!-*!+',-%&"! *4"C'#"#!.1"!)*#&.,$"!)#*+%-"6!
+'##*$"6!+.R"!#*-)'-$"!="7"!$'0'-! *,$*,0*#*1!'!3.*!
a violência instaura para o sistema do capital. Eis o
nó górdio a ser desatado!
Os sujeitos devem sentir-se instados a
%,0"&"#B! M'#! 3.*! *--*! -*,$%1*,$'! 0*! %1)'$5,+%"!
0%",$*!0"!/%'45,+%"G!M'#!3.*!*--*!1*-1'!-*,$%1*,$'!
*1!#*4"78'!;!*-)*$"+.4%L"78'!0"!/%'45,+%"G!M'#!3.*!
a violência e seus produtos tornam-se agudamente
invasivos? Deve ser tarefa coletiva formular
indagações dessa ordem.
Deveria parecer intrigante o fato de a violência
fazer parte constitutiva da trajetória humana, de
responder pelo modo como se organizam os traçados
&*'IE+'-6!)'4?$%+'-6! -'+%"%-6!*+',X1%+'-6!+.4$.#"%-6!
morais das sociedades e, ao mesmo tempo, levantarem-
-*! /'L*-! *! +',+4"1"#*1:-*! 2'1*,-! *! 1.42*#*-!;!
marcha por seu extermínio. E mais intrigante ainda
0*/*#%"!)"#*+*#!'!="$'!0*!-*!0%L*#!3.*!(!0"!,"$.#*L"!
humana usar de violência, ser violento, como forma de
explicar o caráter inerradicável, ineliminável, inelutável,
%,*9$%,&.?/*4!3.*!-*!42*!"$#%C.%!
Em Arendt (1985), vê-se derrubada esta
$*-*6!"!)"#$%#!0*! 3.",0'!*4"!"#&V%! 3.*!/%'45,+%"!,8'!
(! )#'+*--'N! (! 1*%'
%1)'$5,+%"!3.*! *1","! "!/%'45,+%"! *! ,8'!0'! )'0*#6!
como se costuma inferir.
M*,-",0'6!+'1'!T#*,0$!^ebfgc6!3.*!/%'45,+%"!
(! 1*%'6! $'#,":-*! )'--?/*4! 0*=*,0*#! "! %0*%"! 0*! 3.*!
violência é uma entre outras tantas desembocaduras
"! 3.*! .1"! -%$."78'! 0*! +',P%$.'-%0"0*! )'0*! -*#!
levada. Sendo, pois, meio, recurso, instrumento, um
outro meio, um outro recurso, um outro instrumento
)'0*#%"! -*#! +")"L! 0*! "! -.C-$%$.%#
'+'##*G!H%-!1"%-!.1"!3.*-$8'!3.*!1*#*+*!-*#!)'-$"!
em debate.
Costa (2003, p. 39) apresenta violência como
“[...] o emprego desejado da agressividade, com
E,-! 0*-$#.$%/'-<_ hz>
da violência diluindo seu impacto e atenuando seu
2'##'#<_! T#&.1*,$"0'! 3.*6! "'! +',+*C*#! /%'45,+%"!
como sinonímia de morte, sacraliza-a; ao lhe conceder
o estatuto de “[...] condição de possibilidade natural’
do existir humano.” Banaliza-a (COSTA, 2003, p. 18).
O'-$"!^`aaic!$'+"6! -*1!4./"6!.1"! +2"&"!3.*!
poucos têm ousado, pelo menos, dizê-la existente:
a inarredável natureza perversa contida nas
expressões de violência. É de importância irrefutável
'!3.*!'! )-%+","4%-$"!0*,.,+%"B! "!,"$.#"4%L"78'! +'1!
3.*!"-!="4"-! "C"4%L"0"-! *! "4&.,-! ",0*-! *-$.0'-!
/51!*,='+",0'!.1!)#'C4*1"!+',E&.#"0'!+'1'!"4&'!
%,$#?,-*+'!;!+',0%78'!2.1","6!+'1'!'!(6!0*!="$'6!,'!
3.*!+',+*#,*!"!-."!#*"4%L"78'6!1"-!,8'!,'!3.*!0%L!
respeito a sua inevitabilidade, pelo menos sob outra
(&%0*!3.*!,8'!"!0'!+")%$"4)'#3.",$'!
desejado, mas passível de eliminação de algumas
0*!-."-!='#1"-6!0*!#*0.78'6!0*!-.C$#"78'!)'#3.",$'!
ser um meio, como nos advertiu Arendt (1985). Se
meio é a violência, um outro meio a substitui.
O'1'! *! )'#! 3.*! "! /%'45,+%"! "--.1*! *--"!
condição de inextinguível, ineliminável, inerradicável,
inexpugnável?
59-' 6:%;<=>:?' !' ,%=@:A%&' a indistinção como
embuste
O2"1'! "! "$*,78'6! "3.%6! )"#"! .1! "-)*+$'6!
grosseiramente, descuidado – diria, na melhor das
2%)@$*-*-6! .1! *3.?/'+'! Q6! P"",$*! ,"-! ="4"-! 0*!
alguns estudiosos da violência: a indistinção entre
+',P%$'!*! /%'45,+%"
termos tomados por iguais, como se fosse um, do
outro, sinônimo. Atribui-se a eles um mesmo status, ao
tratá-los como um mesmo evento, como um fenômeno
V,%+'!3.*!",0*!)"#$*!0'-! *1"#",2"0'-!
teóricos enraíze-se nesse terreno: tomar meio
^/%'45,+%"c!)'#!)#'+*--'!^+',P%$'c!*!/%+*:/*#-"<
Se é possível e absolutamente próprio falar-
-*! 0"! *9%-$5,+%"! 0'! +',P%$'! %,$*#%'#6!%-$'! (6! "3.*4*!
vivenciado por todos os – e cada um dos – sujeitos
,'! 3.*! $",&*! "-! -."-! 3.*-$>*-! %,$*#,"-6! ,8'! -*!
$'#,"!)'--?/*46!*,$8'6!)X#!'C-$I+.4'!;!"+*%$"78'!0*!
3.*!'!+',P%$'!*-$*R"!+'4"0'!;!+',0%78'!2.1","<
O sujeito, na condição de portador de um
+',P%$'! %,".&.#"4! *1! .1"! -%$."78'! +'1! '.$#*16!
=.,0"! *! #*=.,0"! /*42'-! *! ,'/'-! +',P%$'-! +'1!
faces e dimensões múltiplas, e de motivações e
encaminhamentos vários.
-! +',P%$'-! &",2"1! ='#1"! *! *9)#*--8'! *1!
todos os espaços, por todo o tempo, e inscrevem
como seus autores e atores todos os sujeitos,
%,0%-$%,$"1*,$* -! +',P%$'-! "--.1*1! )")(%-! *!
"$."1! +'1'! 0*E,%0'#*-! 0*! '.$#'-! $#"7"0'-! 0'!
cenário social.
274 Rejane Batista Vasconcelos
R. Pol. Públ., São Luís, Número Especial, p. 269-279, julho de 2014
H--"!,"$.#*L"!%,E,0I/*4!*!4"$*,$*! 0'!+',P%$'6!
Coser (1996, p. 123) reconhece-a:
! +',P%$'! (! )"#$*! %,*##"0%+I/*4! 0"!
vida conjunta dos seres humanos; é
um componente tão fundamental da
"--'+%"78'! 3.",$'! "! +'')*#"78' !
3.*! (! ="+$?/*46! )'#(16! (! $#",-='#1"#!
$%)'-!*-)*+?E+'-! 0*! +'1)'#$"1*,$'!0*!
+',P%$'! 3.",0'! *-$*-! -8'! *,$*,0%0'-!
como antifuncionais ou nocivos.
M"-3.%,'!^`aaj6! ) ``fc! +'##'C'#"! "!1*-1"!
ideia:
d*!="$'6!$'0'!+',P%$'!(!?,-%$'! ,"!1*-1"!
+',E&.#"78'!0"! -'+%*0"0*6! 0'! -%-$*1"!
político, das relações internacionais.
Ele resulta em elemento ineliminável
3.*!+',0.L! ;! 1.0",7"! -'+%"46!)'4?$%+"6!
internacional. Ineliminável em longo
)#"L'6!)'#3.*! "!+.#$'! *!1(0%'! )#"L'6!'!
+',P%$'!)'0*!-*#!-.='+"0'!'.!0*-/%"0'<
! 3.*6! *,$8'6! +',-$%$.%#%"! '! +',P%$'G! K1!
+',P%$'6! .1"! -%$."78'! +',P%$.'-"6! *,/'4/*! 0*-0*!
uma falta de entendimento entre duas ou mais
partes, uma discussão acalorada, um choque, um
enfrentamento, uma discordância no concernente
;-! +'1)*$5,+%"-6! ;-! R.#%-0%7>*-! 0*--"! '.!
0"3.*4"! ".$'#%0"0*6! "! .1! +',P%$'! 0%)4'1I$%+'! 3.*!
0*-*1C'3.*!,'!)4",'!0'!*,=#*,$"1*,$'!=?-%+'!*!+'1!
'!*1)#*&'!0*!"#1"-0*E,%7>*-!*,+',$#"0"-!
*1!J'."%--!^`aae6!)
! 4*9%+@"='! '=*#$"6! "%,0"6! "! -%&,%E+"78'!
0*! 0%-$%,$"-! *9)#*-->*-! *1! 3.*! '! +',P%$'! -*!
/5! %,".&.#"0'B! +',P%$'! 0*! "$#%C.%7>*-6! +',P%$'!
0*! +'1)*$5,+%"-6! +',P%$'! 0*! 0%#*%$'-6! +',P%$'!
0*! %,$*#*--*-6! +',P%$'! 0*! R.#%-0%78'6! +',P%$'! 0*!
R.#%-)#.05,+%"6!+',P%$'!0*! )'0*#6!+',P%$'!0*!)#'/"-6!
+',P%$'!0*!$#"C"42'6!+',P%$'!%,$#")-?3.%+'6!1*,$"4!'.!
)-?3.%+'
,"!+%$"0"!'C#"!"-!*9)#*-->*-!%,V1*#"-!3.*!$'1"!'!
+',P%$'!$",$'!,"!"#*,"!-'+%"4!+'1'!,'!='#'!?,$%1'<
T-! 0*E,%7>*-! 3.*6! ,'! +"1)'! 0"-! +%5,+%"-!
-'+%"%-6! ".$'#*-! /I#%'-! )>*1! )"#"! '! +',P%$'! ,8'!
#*+.-"1! -."! ,"$.#*L"! %,$*#"$%/"6! 3.*#! -*! %,-$"4*!
'! +',P%$'! *,$#*! '-! %,0%/?0.'-6! 3.*#! *,$#*! .)'-6!
organizações ou sociedades.
O'-*#!^ebbl6! ) "+*#+"!0*! +',P%$'6!
diz:
d*E,%0'!+'1'!.1"!+',$*,0"!"!#*-)*%$'!
de valores, ou por reivindicações de
status, poder e recursos escassos, na
3."4!'-!'CR*$%/'-!0"-!)"#$*-!+',P%$",$*-!
são não apenas obter os valores
desejados mas também neutralizar seus
rivais, causar-lhes dano ou eliminá-los,
'!+',P%$'! )'0*! '+'##*#!*,$#*! %,0%/?0.'-!
'.! *,$#*! +'4*$%/%0"0*-
intergrupos, bem como intragrupos, são
aspectos perenes na vida social.
Em Étienne et al. (1998, p. 78), se vai encontrar
+',P%$'!+'1!"!-%&,%E+"78'!0*
[...] expressão de antagonismos abertos
entre os indivíduos ou grupos para a
)*-3.%-"6!"!)'--*! '.!"!&*-$8'! 0*!C*,-!
1"$*#%"%-!'.!-%1C@4%+'-!^#%3.*L"6! )'0*#6!
prestígio, etc.), sendo o objectivo de todo
'!+',P%$'!"!1'0%E+"78'!0"-!#*4"7>*-!0*!
força.
Em Estudios sobre las formas de socialización,
F%11*4!^ebkk6!)`lgc!"E#1"6!"+*#+"!0'!+',P%$'6!3.*
Si toda acción recíproca entre hombres
*-! .,"! -'+%"4%L"+%@,6! 4"! 4.+2"6! 3.*!
constituye una de las mas vivas acciones
#*+?)#'+"-! m! 3.*! *-! 4@&%+"1*,$*!
imposible de limitar a un individuo,
ha de constituír necesariamente una
socialización.
T+#*-+*,$"!"%,0"!*--*!E4@-'='6!2%-$'#%"0'#!*!
-'+%@4'&'!"4*18'!3.*!'-!+',P%$'-!0*+'##*1!0'!@0%'6!
0"! %,/*R"6! 0"! ,*+*--%0"0*6! 0"! #%3.*L"! Q! 0*E,%,0'!
esses elementos como dissociadores, provocadores
0"!")"#$"78'd%L6!"0*1"%-6!3.*!0"!0%--'+%"78'!-*#%"!
dado cabo através da luta, esta “[...] una via para
44*&"#!0*! "4&V,! 1'0'! "! 4"! .,%0"06! ".,3.*!-*"!)'#!
*4!",%3.%4"1%*,$'!0*! .,'!0*! 4'-!)"#$%0'-_! ^F\nnHU6!
1977, p. 265).
S"1C(1! )"#"! n"#96! '! +',P%$'! (! *4*1*,$'!
0*!.,%E+"78' ! +',P%$'! 0*!%,$*#*--*-! )#')'#+%',"!
a consciência de classe para si6! 3.*! $*#1%,"! )'#!
assegurar a condição de pertença. E, como disse, a
identidade do grupo se forja na experimentação do
antagonismo e na sua expressão dramática – a luta
(MARX apud COSER, 1967).
No Manifesto do Partido Comunista, Marx
*!H,&*4-!^-<0"--*/*#"1!3.*!a história de todas
as sociedades inscreve-se na ou confunde-
se com a – história das lutas de classes. E mais,
3.*6! ,"-! -'+%*0"0*-! +")%$"4%-$"-6! )'4"#%L"1:-*!
+4"--*-!-'+%"%-6!E+",0'! *4"-6!"--%16!+',$%,."1*,$*!
)'-$"-! *1! -%$."78'! 0*! +',P%$'
$'#,":-*! +"0"! /*L! 1"%-! #*+#.0*-+%0"6! ;! 1*0%0"!
3.*! '! +")%$"4%-1'! -*! 0*-*,/'4/*
0"! 4.$"! 0*! +4"--*-! Q! '! +',P%$'! +*,$#"4! Q! "+"C"!
derivando o conjunto de fenômenos sociais. E
n"#9! ^`aaf6! )
,'--'! E16! "! -'+%"4%L"78'! 0"-! ='#7"-! )#'0.$%/"-6! (!
uma necessidade econômica, o nosso auxiliar, a
='#7"6! (! .1"! ,*+*--%0"0*! 2%-$@#%+"_
-."!0*=*-"! *1! )#'4! 0"! 4.$"6! "#&.1*,$"! 3.*! h$'0'-!
os progressos humanos, todas as transformações
sociais e políticas da nossa espécie têm sido obra
da força” (MARX, 2008, p. 33).
Gostaria de destacar, entre os vários autores
*-$.0"0'-6! n'#%44"-! ^`aaic6! 3.*! $"1C(1! 3."4%E+"!
+',P%$'! +'1'! ='#1"! 0*! %,$*#"78'! -'+%"46! +'1'!
parte constitutiva do processo de socialização
275
POR QUE NÃO A VIOLÊNCIA?
R. Pol. Públ., São Luís, Número Especial, p. 269-279, julho de 2014
entre indivíduos, como fonte de criatividade e de
#*,'/"78'!+',$?,."6!1"-!3.*!#*--"4/"!3.*!'!+',P%$'!
$"1C(1! )'0*! )#'0.L%#! #*-.4$"0'-! ",%3.%4"0'#*-6!
destrutivos.
Inúmeras são as concepções acerca dessa
='#1"! 0*! %,$*#"78'! -'+%"46! '! 3.*! $'#,"! %1)'--?/*4!
expô-las em um artigo. E, assim como a violência, o
+',P%$'!$"1C(1!,8'!"4+",7"!.,",%1%0"0*!+',+*%$."4
Embora até não se veja reservada totalidade
0*!+',/*#&5,+%"!,'!$'+",$*!;!$*1I$%+"!0"!/%'45,+%"6!
nas obras de Arendt (1985), Costa (2003) e May
^ebfec! Q! ".$'#*-! 3.*! *0%E+"#"1! '-! "4%+*#+*-6! "-!
)%4"-$#"-! 0'! *-$.0'! #*"4%L"0'! Q6! E+"! %1)#*--"! "!
+*#$*L"!0*!3.*!/%'45,+%"!+',-$%$.%!1*%'6!%,-$#.1*,$'6!
jamais processo.
Para May (1981, p. 148), a violência deve
ser entendida como “[...] uma explosão do impulso
)"#"! 0*-$#.%#! '! 3.*! (! %,$*#)#*$"0'! +'1'! .1"!
barreira ao amor-próprio, ao movimento e ao
+#*-+%1*,$'<_ class="_ _0"> 3.*6!")*-"#!0"! /%'45,+%"! -*#!
“[...] predominantemente um evento físico,” ela “[...]
ocorre num contexto psicológico.” (MAY, 1981, p.
149).
!".$'#! %,".&.#"! -*.! $*9$'! 0%L*,0'! 3.*!hZ<<
o poder é essencial a todas as coisas vivas.” (MAY,
ebfe6!) H!"0%",$*!*4*! "--%,"4"!3.*! "!)#'=.-8'!
de discursos emanados, sobretudo na década de
ebfa6!"+*#+"! 0'! )'0*#!0'!%,0%/?0.'! 0*! "03.%#%#6!0*!
)#'0.L%#!-%&,%E+"0'!)'4?$%+'!'.!)-%+'4@&%+'6! $#"0.L%"!
,"0"! 1"%-! 3.*! .1! *-='#7'! 0*! +'1)*,-"#! "4&'! 0*!
3.*!-*! *-$"/"! "! -*,$%#! "!="4$" *4*6! '! )'0*#! *!
'!-*,$%1*,$'! 0*! -%&,%E+"78'!-*!%,$*#4%&"1B! hZ<<
constitui a forma objetiva e o outro a forma subjetiva
da mesma experiência.” E seria a perda da sensação
!" #$%&$'()*+,! ^nTp6! ebfe6! )
indivíduo lançar mão das outras formas de poder
3.*! #*)*#+.$*1! -'C! "! 1'0"4%0"0*! 0*! "*--8'! *!
violência.
A materialização da violência revela a
falência ou insucesso em concretizar a sensação
!" #$%&$'()*+, por meio dos recursos disponíveis
nas fases ou níveis anteriores de poder. Eis a razão
)'#! 3.*6! 0%L! n"m! ^ebfe6! )
)#*0'1%,",$*1*,$*! =?-%+"B! hZ<<
="-*-6! 3.*! )'0*1! *,/'4/*#! "#&.1*,$"78'! '.!
persuasão, foram ipso facto!C4'3.*"0"-<_>
Falas de outros autores encontram ressonância
,"!"E#1"$%/"!0*! T#*,0$!^ebfg6!) `bc! 0*!3.*! hZ<<
violência sempre é dado destruir o poder; do cano
0*!.1"! "#1"! 0*-)',$"!'! 0'1?,%'!1"%-! *E+"L6!3.*!
resulta na mais perfeita e imediata obediência”.
O'1!"-!="4"-6!"3.%6!*9)#*--"-6!&",2"!,%$%0*L!
"!0%=*#*,+%"78'!*,$#*!'!3.*!(!+',P%$'!Q!.1!)#'+*--'!
%,*4%1%,I/*46! %,*9".#?/*4! ,"! -'+%*0"0*! Q! *! '! 3.*!
+',E&.#"!"!/%'45,+%"!Q!.1!1*%'!"$#"/(-!0'!3."4!)'0*!
-*#! 0"0'! $*#1'! "! .1! +',P%$'
suspender, em suprimir a predicação de inevitável,
%,*4%1%,I/*46!%,*4.$I/*46!%##*+.-I/*4! 3.*!='%!"$#%C.?0"!
"#0%4'-"1*,$*!;! /%'45,+%" #*"4%0"0*6! '!3.*! $*1!
*--"!)#*0%+"78'!(!'!+',P%$'!Q!3.*!(!.1!)#'+*--'!Q6!
,8'!"!/%'45,+%"!Q!3.*!(!.1!1*%'6!.1! #*+.#-'6!*,$#*!
outros, como a diplomacia (um seu oposto), para por
termo ao primeiro.
S'1"#!/%'45,+%"!+'1'!-%,',?1%"! 0*!+',P%$'! Q!
*-$*!-%1! %,*##"0%+I/*4! Q! (! '! 1'0'! 1"%-!/%4!0*! 3.*!
se vale o sistema capitalista para auferir lucros
-'C#*! .1"! 1*#+"0'#%"! $8'! -%,&.4"#B! 3.",$'! 1"%-!
abundante mais lucrativa.
!3.*!#*0.,0"!0'!*,$*,0%1*,$'6!0"!"+*%$"78'!
da violência com essa natureza? O resultado é a
imposição, a imprescindibilidade da convivência com
sua contraversão: a segurança – entendida como a
"3.%-%78'!0*!)#'0.$'-6!C*,-!*!-*#/%7'-!0*!*1)#*-"-!
3.*! +',-$#'*1! *! *9)",0*1! -*.! )"$#%1X,%'! "!
expensas da violência e de seu propalado – ou real
– crescimento. É uma relação precisa, sonante: se
a violência é inevitável, a segurança – a busca por
-*&.#",7"!Q! $"1C(1!'! -*#I 3.",$'! 1"%'#!"!
/%'45,+%"6!1"%'#! "! '=*#$"! 0'-! -*#/%7'-! +4"--%E+"0'-!
como de segurança.
M"#"4*4"1*,$*!;!=#",+"!*9)",-8'!0'!1*#+"0'!
da violência, o mercado da segurança, seu espelho,
apresenta-se como solução ao sentimento real
*! ='#R"0'! 0*! 1*0'6! 0*! %,$#",3.%4%0"0*6! 0*! )"/'#
! ="$'! (! 3.*! "! 1*#+"0%L"78'! 0"! /%'45,+%"6! 0'!
1*0'6! 0"! %,$#",3.%4%0"0*! &",2"! $*##*,'6! ".=*#%,0'!
lucros e assegurando fontes sempre renovadas
0*! #*,$"C%4%0"0*6! 3.*#! "! /%'45,+%"! in natura6! 3.*#!
"! 3.*! -*! *-)*$"+.4%L"6! 3.*#! "! $#",-E&.#"0"! *1!
-*&.#",7"
3."43.*#!.1!)'0*!/*#%E+"#!"!%,/"-8'!0"!)#')"&",0"!
0*!-*#/%7'-! *!*3.%)"1*,$'-! 0*!-*&.#",7"6! -*R"!,"!
mídia impressa, televisiva, radiofônica, digital. Cada
produtor, a seu modo, seduz o comprador.
n"-!0'%-!)"#"0'9'-!%$"16!-"4$"1!;!/%-$"!,*--"!
*3."78'B!)#%1*%#'6! -*! "! )#'1*$%0"!-*&.#",7"! Q! '-!
serviços, bens e produtos dessa cesta –, produzisse
#*-.4$"0'6!"!/%'45,+%"!*-$"#%"!,.1!0*-+*,-'3.*6!
então, cresce o número de empresas desse ramo
0*! ,*&@+%'-G!M'#! 3.*6! +"0"! /*L! 1"%-6!-*! #*E,"1!
'-! 0%-)'-%$%/'-6! '-! *3.%)"1*,$'-! *! "1)4%"1:-*! '-!
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;!'=*#$"!0*!)#'0.$'-!*!-*#/%7'-!0%$'-!1*42'#*-!*!1"%-!
*E+"L*-G!F*! *--"! -*&.#",7"!(! '! 1'0'! 0*! ')*#"#!
+',$#"!"!/%'45,+%"6!)'#!3.*!,8'! +',-*&.*!*4%1%,I:4"!
'.!#*0.L%:4"G!T!1?0%"!(!+',$.,0*,$*!*1!"E#1"#!3.*!"!
violência vem alcançando índices alarmantes, nunca
antes vistos. O segundo paradoxo: em ofertando um
-*#/%7'!*E+%*,$*6!0*!#*-.4$"0'-6!"-!*1)#*-"-!0*/*#%"1!
estar combatendo, ou, pelo menos, reduzindo esses
?,0%+*-!0*!/%'45,+%"!3.*!"!1*-1"!1?0%"!3.*!="L!-*.-!
anúncios, suas propagandas denuncia o aumento,
declarando, assim, subliminarmente – ou nem tanto
Q6! 3.*! '! -*#/%7'! 3.*! )#*-$"1! )#'0.L! #*-.4$"0'-!
%,-.E+%*,$*-!Q! '.! ,*1! '-! )#'0.L! 4"0'6!
-*6!0*!="$'6!4'"--*1!59%$'!,'!+'1C"$*!;!/%'45,+%"6!
*--"-!*1)#*-"-!$*#%"16!"!1(0%'!*!4',&'!)#"L'6!3.*!
ter ido buscar outro nicho de mercado, ao contrário
0'!3.*6!,"!#*"4%0"0*6!EL*#"16!3.*!='%!*9)",0%#!-*.-!
negócios.
276 Rejane Batista Vasconcelos
R. Pol. Públ., São Luís, Número Especial, p. 269-279, julho de 2014
W"!#*"4%0"0*6!'!3.*!-*!P""!(!"!%,$*,-%E+"78'6!
a ampliação avassaladora do mercado da
violência pela via de sua contra face: a segurança.
d%/*#-%E+"1:-*! 1*%'-6! %,-$#.1*,$'-! *! $*+,'4'&%"-!
3.*!-*!+'4'+"16!"!+"0"!0%"6!,'!+%#+.%$'!0'!1*#+"0'6!
;! 0%-)'-%78'! 0'! +',R.,$'! 0*! )*--'"-! 3.*! )'--"1!
"03.%#%:4'-6!"3.*+*,0'!'!+'1(#+%'!*-)*+%"4%L"0'<
É preciso, pois, pensar a violência e as
ações de seu combate, dentro da lógica do sistema
do capital, como bons e rentáveis negócios: um
alimenta-se do outro; um sobrevive a expensas do
'.$#'"7>*-!3.*!-*!)#'+4"1"1!+'1C"$%/"-!
e as ações de promoção de violência são, sim, uma
da outra, verso e anverso, faces de uma só moeda.
T'!E16!)*4'!3.*!="L*1!+%#+.4"#!*1!$*#1'-!0*!
capital, violência e segurança podem ser vistas, uma
*1!#*4"78'!;!'.$#"6!+'1'!*-)*+.4"#!Q!,"-!"+*)7>*-!
0%/*#-"-!3.*!'!/'+IC.4'!+'1)'#$"B!3.*#!-%&,%E+",0'!
%1"&*,-! %,/*#-"-! ,'! *-)*42'6! 3.*#! $#"0.L%,0'! "!
ação de realizar
Z<<')*#"78'!+'1*#+%"4!*1!3.*!.1"!0"-!
partes obtém lucros acima do razoável,
por abusar da boa-fé da outra, ou por
tirar proveito de período de exceção,
como guerras, catástrofes naturais,
safra ruim etc., oferecendo produtos em
falta, superfaturados. (HOUAISS, 2001,
p. 1227).
As acepções encaixam-se, mostram
consonância.
W'! 3.*! "$(! "3.%! ='%! *9)'-$'6! *9)4%+%$"#"1:-*!
"-!#"L>*-!)'#! 3.*!;!/%'45,+%"!)#*+%-"!-*#! "0*#%0"!"!
predicação de ineliminável, inerradicável. Mas algo
"%,0"! +"#*+*! -*#! 0*-/*4"0'6! 0*-,.0"0'6! %,3.%#%0'B!
)'#!3.*! "!/%'45,+%"! *!$.0'! 3.*!"!+*#+"! *!42*! "0*#*!
ganha! ".$','1%"G! M'#! 3.*! "! /%'45,+%"! )"#*+*! $*#!
%,0*)*,05,+%"6!/',$"0*6!/'4%78'G!F8'!3.*-$>*-!3.*!
apontam caminhos, ofertam luz para se reconhecer
3.*!"!/%'45,+%"6!,'!-%-$*1"!0'!+")%$"46!"03.%#*!.1"!
natureza mercantil.
B'('6.078/,.('CD'*C2'72*,0EF2*,0
É imprescindível perceber a tenuidade da
4%,2"!3.*!+'#$"6!0'!*%9'!3.*!0*1"#+"!'!/"4'#!0*!.-'!
e o valor de troca da mercadoria. Há uma sutileza
,*--"! )"--"&*1! 3.*! )*#1%$*! *+4%)-"#6! ,.C4"#! "!
percepção simultânea dessas duas faces, dessa dupla
0%1*,-8'!3.*!"! /%'45,+%"!"03.%#*
obnubilação não é prerrogativa, não é exclusividade
0"!1*#+"0'#%"!/%'45,+%"N!"'!+',$#I#%'6!*4*!(!P"",$*!
,"!'#%&*1!0"!1*#+"0'#%"!1*-1"6!3.*!RI!$#"L!*1!-."!
1"$#%L!"!".#"!0*!"4&'!3.*!0%L!)'#!-%6!3.*!*9%-$*!)'#!-%!
*!)"#"!-%!1*-1"6!3.*!-.-)*,0*6!")"&"!"!1"#+"!0"-!
#*4"7>*-!-'+%"%-!3.*!"!)#'0.L*1'!"4*#$"!0*!n"#9!
(1973, p. 38) para essa arriscada ilusão de enxergar
as mercadorias como se fuesen objetos evidentes y
trivialesT'!+',$#I#%'!0'!3.*!+"1.P"16!-'1*,$*!"!'42'!
,.!(!3.*!,8'!-*!)'0*!*/%0*,+%"#!'!%##*+.-I/*4!+"#I$*#!
1%-$*#%'-'!0"-!1*#+"0'#%"-!3.*!-8'6!0*!="$'6!objetos
muy intrincados, llenos de sutilezas metafísicas y de
resabios teológicos6!+'1'!"E#1"B
El carácter misterioso de la forma
mercancia [...]. Es algo así como lo
3.*!-.+*0*! +',! 4"! -*,-"+%@,! 4.1%,'-"!
0*! .,! 'CR*$'! *,! *4! ,*#/%'! /%-."46! 3.*!
parece como si no fuese una excitación
subjetiva del nervio de la vista, sino la
forma material de un objeto situado
fuera del ojo. (MARX, 1973, p. 38)
Quando Marx (1973) disseca as dimensões
/"4'#!0*!.-'!*!/"4'#!0*!$#'+"!+'1!3.*!"!1*#+"0'#%"!
se apresenta, ele brinda a todos com a revelação
0*--*!1'/%1*,$'!*,&",'-'!3.*!"!="L!-.#&%#!0'$"0"!
de anima, com uma natureza própria, com volição,
-.E+%*,$*1*,$*!='#$*!)"#"!*9).4-"#!"!1"#+"!2.1","!
3.*!"!&*-$"d*1',-$#"!3.*!0'!+'#)'!0"!1*#+"0'#%"!
viu-se repelida, expurgada toda a engenharia
humana de músculos, nervos, cérebro, criatividade,
2.1",%0"0*! *,E1 "! *--"!
,*&"$%/"! *! "! *--"! %4.-8'! 0*! 3.*! '! )#'0.$'6! 0*!
3.*!"!+'%-"! -*! ".$'&*-$"6! +"1%,2"! )'#! -%6! "03.%#*!
vontade, autodetermina-se, ganhando, assim,
traços humanos, ele descreve como o fetiche da
mercadoria.
Marx (1973, p. 39-40), metaforicamente,
sinteti za o mistério da apoteose do espet áculo do
grande circo de fantoche s – o mundo produtor,
consumi dor, colecionador vo raz de mer cadoria s
Q! *1! 3.*! ' -! C',*+' -! 0*-*#$ "1! 0"! 18' ! 0*!
seus m anipula dores, oc upando o lugar destes,
+',-.1" ,0':-*6 !"--%16! "!$%#",%"!0"!+'% -"!3.*! -*!
impõe por meio da evaporação da marca da ação
humana, do trabalho h umano – sempre presente
e semp re negado na mercadoria. Retomo a
)"--"&* 1! *1! 3.*! *4*! #*-. 1*! *--*! +"#I$*#! 0"!
mercado ria:
Z<<
la sensación luminosa de un objeto en
*4!,*#/%'! /%-."46!3.*!)"#*+*! +'1'!-%! ,'!
fuese una excitación subjetiva del nervio
de la vista, sino la forma material de un
objeto situado fuera del ojo.
Na precisão e concisão dessa analogia
transparece o grande engodo dessa coisa
"!3.*!-*!"$#%C.*1!)#*0%+"0'-!2.1",'-
aí, o lusco-fusco da mercadoria. E Marx (2006, p.
69), nessa intenção de desnudamento, ainda trinca
'!+#%-$"4!0"! #*0'1"! *1! 3.*! -*! ="L! &."#0"0'! *--*!
1%-$(#%'6!*--*!*,%&1"6!"'!"E#1"#!3.*!
O misterioso da forma mercadoria
consiste, portanto, simplesmente em
3.*! *4"-! #*P*$*1! "'-! 2'1*,-! "-!
características sociais de seu próprio
trabalho como características objetivas
277
POR QUE NÃO A VIOLÊNCIA?
R. Pol. Públ., São Luís, Número Especial, p. 269-279, julho de 2014
dos produtos mesmos do trabalho,
como propriedades naturais sociais
0*-$"-!+'%-"-!*6! 0"?6!#*P*$*! $"1C(1!"-!
relações sociais dos produtores com o
trabalho conjunto como uma relação
existente fora deles, entre os objetos.
Nesse processo descrito por Marx (1973,
`aalc6!*4*!0*%9"!*/%0*,+%"0'!+'1'!3.*!.1!1%-$'!0*!
delírio1 e de alucinação2. Mas não só isso aponta
'!E4@-'='B! *4*!)#*,.,+%"! "0*1"%-! 3.*!*--*! *,%&1"!
*,$#",2"0'!,"!1*#+"0'#%"6!1*-1'!3.",0'!0*+%=#"0'6!
não altera em nada o modo de apresentação, de
materialização da mercadoria, esse seu existir em
si, por si e para si, conforme diz:
T!0*-+'C*#$"!+%*,$?E+"!$"#0%"!0*! 3.*!'-!
)#'0.$'-!0*!$#"C"42'6!,"!1*0%0"!*1!3.*!
são valores, são simples expressões
+'%-%E+"0"-! 0'! $#"C"42'! 2.1",'!
despendido em sua produção, faz
época na história do desenvolvimento
da humanidade, mas de modo algum
afugenta a aparência objetiva das
características sociais do trabalho.
(MARX, 2006, p. 72).
O construto teórico de Marx ainda abre
largas pistas para o desvelamento do lado oculto
da falseada intenção de combater-se a violência.
!0%-+.#-'! 0*!+'1C"$*! ;!/%'45,+%"6! 0*!")*4'!;! )"L!
já emerge desautorizado. Esse discurso – também
mercadoria posta nas prateleiras para consumo
é confrontado, a todo instante, com a crescente
e ilimitada aparição de novos produtos lançados
,'! 1*#+"0'6! +.R"! E,"4%0"0*6! 1"#+"6! 1*,-"&*1!
-.C4%1%,"#! '.! */%0*,$*! $#"L*1! '! %,+*,$%/'! ;!
intolerância, o cultivo da violência. Flagra-se em um
sem-número de produtos um antidiscurso da paz.
A! %,3.*-$%',I/*4! "! *9%-$5,+%"! 0*! .1"!
*,&*,2"#%"6! 0*! .1! ")"#"$'! 3.*! -*! +'4'+"! +'1'!
possibilidade de converter a violência em produto
+'1*#+%"4%LI/*46!RI! E+'.! "3.%!0*1',-$#"0"
%,$#%,+"0"!#*0*!3.*!')*#"!+'1!0*-1*0%0'!4.+#'!$",$'!
no (-./$,",'($)0!3.",$'!,'!câmbio paralelo com essa
1*#+"0'#%"!-%,&.4"#!3.*!(!"!/%'45,+%"6!3.*!)"#*+*!"$(!
1*-1'!+',$#"#%"#!"-! 4*%-! 0*! 1*#+"0'B! 3.",$'! 1"%-!
)#*-*,$*6!3.",$'!1"%-!"C.,0",$*6!1"%'#*-!'-!4.+#'-<
F'C!"!(&%0*! 0'!+")%$"46!-'C! -."!4@&%+"6!3.*1!
em consciência6! 3.*! "$.*! ,*--*! 1*#+"0'6!
promoveria sua eliminação, seu controle? Óbvio
3.*!'! 3.*! /"%! C.-+"#! '!1*#+"0'!(! "! *9)",-8'! 0"!
violência sob suas múltiplas formas de apresentação
– inclusive sob a faceta de segurança –, com os mais
novos e sedutores invólucros, enlevada por uma
E,"!).C4%+%0"0*
violência, imprime seu ideário, sua propaganda3.
!+*,I#%'!0"!"$."4%0"0*!0I!C*1!1'-$#"!0'!3.*!
'! -%-$*1"! 0'!+")%$"4!="L! +'1! $.0'!'! 3.*! $'+"N!+'1!
$.0'! '! 3.*! -."! /'#"+%0"0*! "4+",7"-! )#"7"-! 0*!
metrópoles do mundo tomadas por jovens, adultos,
2'1*,-!*!1.42*#*-6!0*!3.*1!-*!$*,$"!"##",+"#6!"&'#"6!
'!3.*!#*-$'.!0"!%,-"+%"C%4%0"0*!+")%$"4%-$"B!"!0%&,%0"0*
n"$"1:-*!'-!+'#)'-6!",%3.%4"1:-*!"-!"41"-o*)#%-"1:
se, de algum modo, com volúpia perversa semelhante,
as cenas assistidas na Inglaterra e nos Estados Unidos
nos idos dos anos 1880.
O sistema do capital não é apenas
excludente; é também e, sobretudo, mortífero.
F."! 4*$"4%0"0*! (! -*1)#*! -.)*#%'#! "! 3."%-3.*#!
1*0%0"-! "+".$*4"$@#%"-! 3.*! -*! )#*$*,0"! $'1"#
Suas maiores vítimas, sempre as mesmas: os
sujeitos contidos pela premência da necessidade e
1",%*$"0'-! )*4"! 18'! ='#$*! 0'!H-$"0'!3.*!+',$(1!
"!$'0'-! 3.*! 'C-$"+.4%L"1!"! )"--"&*1! 0'! +")%$"46!
cada vez mais imaterializado, volátil.
Exatamente o Estado, cujo nascimento dá-se
pela arguição da tese da potencialidade da violência
humana e do temor de sua concreção, vai tornar-se
parceiro, avalista desse sistema – sistema do capital
Q! 3.*6! -*! 0*1',-$#"6! ,"-+*.! 0'!-",&.*! "42*%'! *!
+',$%,."! "! "4%1*,$"#:-*! 0*4*! $"4! 3."4! .1! /"1)%#'!
insaciável.
T!/%'45,+%"!='%!'! 1*%'!)*4'! 3."4!'!+")%$"4%-1'!
se constituiu. Não haveria como se instaurar sob
'.$#"-!C"-*-!3.*!,8'!"!='#7"!C#.$"-*.!)*#+.#-'!
,"0"!#*-$'.! -*1! 3.*! 0*%9"--*!"-!1"#+"-! 0*! =*##'!
e fogo, suas algemas, suas amarras tatuadas nos
+'#)'-
territórios banhados de sangue: colonizações,
guerras, extermínios físicos e culturais.
O capitalismo funda-se, expande-se,
consolida-se, totaliza-se pela via irrecusável da
/%'45,+%"N!/%'45,+%"!3.*6!"%,0"!)'#!+%1"6!(!%,$*"4!*!
multifacetadamente, convertida em lucro. Pasmem:
(!)*4'!*9"$'!%,$*#1(0%'!0'!H-$"0'!3.*!'!+")%$"4%-1'!
chega a constituir-se um modo de produzir coisas,
1*#+"0'#%"-! *! /%/*#
grassa o mundo, deixando rastros de desespero, dor
*!-",&.*N!.1!1'0*4'!*+',X1%+'! 3.*!0*/"-$"6!-*1!
atender a rogos, as vidas no planeta.
O sistema do capital é, indiscutivelmente,
um modo violento de organizar a vida no planeta.
A seu comando, tudo e todos são reordenados,
+4"--%E+"0'-6! +"$"4'&"0'-6! 0%-)',%C%4%L"0'-
mais grave: descartáveis. Sob a bainha de sua
espada, a alma humana é, a todo tempo e em
todo lugar, estrangeira de seu ser. As regras não
+'1)'#$"1!'!+")#%+2'!0*!-*.!*9%-$%#N!"-!*-3.%-%$%+*-!
de uma possível ponderação dela provinda. A roda
da vida, melhor, a roda da fortuna não se faz de suas
produções, de suas cautelas.
Não é vaticínio, mas somente se fosse tornada
um mau negócio, a violência poderia ser excluída do
horizonte da humanidade.
U"-$%1I/*4!(!+',$%,."#!$*,0'!3.*!"01%$%#!3.*6!
F*1!,*,2.1"!)#'/"!"+#*0%$"1'-!3.*!"!
paz era o estado natural e a substância
0'!.,%/*#-'! *!3.*! "!&.*##"! *#"!")*,"-!
278 Rejane Batista Vasconcelos
R. Pol. Públ., São Luís, Número Especial, p. 269-279, julho de 2014
.1"! "&%$"78'! $*1)'#I#%"! 3.*! '+'##%"!
em sua superfície. Reconhecemos
"$."41*,$*!,'--'! *##'B!'! E1! 0"!&.*##"!
(! -%1)4*-1*,$*! '! E1! 0*-$"! &.*##"
(SARTRE, Jean-Paul)
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de Laís Andrade, Rafael Rodrigues Torres. Porto
Alegre: Artmed, 2009.
NOTAS
1 Delírio, entendido como “falsa crença, baseada
em inferência incorreta sobre a realidade externa,
inconsistente com a inteligência e antecedentes
+.4$.#"%-! 0'! )"+%*,$*6! 3.*! ,8'! )'0*! -*#! +'##%&%0"!
pela argumentação” (KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J.
Compêndio de psiquiatria: ciências comportamentais
Q!)-%3.%"$#%"!+4?,%+"#"0.78'!0*!d"m-*!]"$%-$"M'#$'!
Alegre: Artes Médicas Sul, 1993. p. 235).
2! T4.+%,"78'!0*E,%0"! +'1'!h)*#+*)78'! -*,-'#%"4!="4-"!
não associada com estímulos reais externos [...]”
(Ibid., p. 237).
3 Acerca de propaganda, Marcondes Filho (2009, p. 291)
#*--"4$"!3.*6! *1C'#"!*1! ,'--"! +.4$.#"!*1)#*&.*1:
se de forma indistinta as expressões propaganda
e publicidade, elas não exprimem, na essência,
'! 1*-1'! -%&,%E+"0'
propaganda é mais amplo: abrange tanto a difusão de
/"4'#*-!*!%0*%"-!)*4"!).C4%+%0"0*!3.",$'!"!)#')"&",0"!
política, a religiosa, os sistemas ideológicos fundados
*1! +',/%+7>*-! E4'-@E+"-6! *1! *-$#.$.#"-! 0*! )'0*#6!
em práticas sociais comunitárias”. E conclui: “Sendo
assim, a publicidade é uma forma de propaganda,
mas esta não se limita ao caráter comercial” (p. 291).
279
POR QUE NÃO A VIOLÊNCIA?
R. Pol. Públ., São Luís, Número Especial, p. 269-279, julho de 2014
Rejane Batista Vasconcelos
Assistente Social
Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do
Ceará (UFC)
Professora da Universidade Federal do Ceará e da
Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza (Fametro)
E-mail: rejanebvasconcelos@gmail.com
Universidade Federal do Ceará - UFC
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