70 Anos depois: o holocausto e a sua atualidade nas relações internacionais

AutorFrancisco Carlos Teixeira Silva
CargoProfessor Titular de História Moderna e Contemporânea da UFRJ e da UCAM
Páginas41-64
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2014v21n32p41
70 ANOS DEPOIS: O HOLOCAUSTO E A SUA
ATUALIDADE NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
70 YEARS LATER: THE HOLOCAUST AND ITS CURRENT
REPERCUSSIONS IN INTERNATIONAL RELATIONS
Francisco Carlos Teixeira Da Silva*
Resumo: Este ano de 2015 marca os 70 anos do m da Segunda Guerra
Mundial, o mais brutal e extenso conito bélico do século XX e de toda a
História. A ocasião dos 70 Anos nos oferece a oprtunidade de debater alguns
dos pontos mais relevantes do grande conito: o papel dos genocídios na
História. Tal relevãncia torna-se ainda mais urgente em face da cada vez mais
frequente ocorrência da ressurgência nazistas (ou fascistas), dos racismos e
dos fundamentalismos perempetorios e excludentes no mundo atual.
Palavras-chave: Segunda Guerra Mundial; Holocausto; Genocídio; Relações
Internacionais.
Abstract: This year, 2015, marks the 70th anniversary of the end of the
Second World War, the most brutal and extensive military conict in the
twetieth century and in all of history. The observance of these 70 years gives
us the opportunity to discuss some of the most relevant points of this ter-
rible conict: the role played by genocides throughout history. Its relevance
is even more urgent in the face of increasing occurrences of Nazi (or fascist)
resurgences, of racism, and of peremptory and excluding fundamentalism in
the world today.
Keywords: World War II; Holocaust; Genocide; International relations.
* Professor Titular de História Moderna e Contemporânea da UFRJ e da UCAM, professor
emérito da ECEME. Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
E-mail: chicotempo@terra.com.br
42
Revista Esboços, Florianópolis, v. 21, n. 32, p. 41-64, out. 2015.
Something unforgettable is past
blown from a glimmer into nothingness, or less,
and nality has swept into a corner where it lies
in dust and cobwebs and silence.
(Something, Michael Burch)
INTRODUÇÃO: O PROBLEMA DA GUERRA E DOS GENOCÍDIOS
NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
O campo da História das Relações Internacionais possui, entre nós
um tremendo decit de abordagem no tocante à História da Segunda Guerra
Mundial e das suas consequencias. Nos últimos 15 anos, um pouco mais,
um pouco menos, a temática de “guerras” e de “paz” (esta sensivelmente
menos visitada) ocupa um bom pedaço dos cursos, das palestras e do mercado
editorial – com autores nacionais ou estrangeiros. As grandes escolas militares
do país, tal como Escola de Guerra Naval e a Escola de Comando e Estado-
Maior abriram-se notavelmente para os estudiosos acadêmicos e muitos
ocupam hoje um espaço relevante nas estruturas de formulação e debate de
defesa do pais, marcando uma maior soticação dos estudos sobre assuntos
militares no Brasil. Porém, um dos fenômenos mais marcantes da Segunda
Guerra Mundial, o Holocausto, e suas relações com o conitos (em especial
os aspectos propriamente bélicos e a condução do conito por seus generais)
ainda permanecem pouco estabelecidos. Além disso, as relações entre o
Holocausto, e outros genocídios, aparece, em tal produção, bastante reduzida
ou, mesmo inexistente.
Assim, trabalhos pertinentes, e também o cinema contemporâneo,
sobre o tema “guerra” vem sistematicamente ignorando o fenomeno
genocidário do século XX e, já agora, do século XXI. Na maioria das vezes,
de forma bastante mecânica, temos uma distinção informal, contudo porfunda,
entre estudos bélicos e estudos sobre o Holocausto, como se este fosse uma
“derrapagem”, um incômodo, numa história muitas vezes tratada de forma
heróica ou naturalizada, do tipo guerras são inevitáveis. Este é o caso, por
exemplo, dos notáveis estudos de John Keegan, patrono britânico dos estudos
bélicos quando trata da Segunda Guerra Mundial. Da mesma forma, com forte
impacto sobre a opinião pública, o cinema produziu belíssimas obras onde o
genocídio, a tortura, a resistência e a colaboração não desempenham qualquer
papel de relevo. É assim, por exemplo, com os lmes “ Stalingrado, a Batalha
Final” de Joseph Vilmaier, de 1993, ou “O Resgate do Soldado Ryan”, de Steve
Spielberg, de 1998. Tais obras contribuem, de forma clara, para distinguir
“guerra” e “genocídio”, expurgando este último, na contra-mão das pesquisas
mais recentes, para um espaço autônomo em relação à guerra e reservando à
esta um lugar de nobreza – muitas vezes de luta titânica entre poderes além
da comrpeensão humana -, não tocado pelo horror do extermínio em massa.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT