A Abordagem de Hannah Arendt sobre as Ciências Sociais o historicismo alemão, o funcionalismo e o comportamentalismo

AutorHugo Araújo Prado
CargoDoutor em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Páginas1-19
A ABORDAGEM DE HANNAH ARENDT SOBRE AS CIÊNCIAS SOCIAIS:
O HISTORICISMO ALEMÃO, O FUNCIONALISMO E O
COMPORTAMENTALISMO
Hugo Araújo Prado1
Resumo: Este artigo pretende realizar uma análise da abordagem de Hannah Arendt sobre
Ciências Sociais, visando compreender as continuidades e disjunções em seu pensamento desde
a década de 1930 até o seminário de 1969. Para tanto, o texto se divide em três partes, a saber:
I. O problema das condições da teoria política no período de formação de Hannah Arendt: o
historicismo e a sociologia do conhecimento de Karl Mannheim; II. Teoria Política e Ciências
Sociais: o fenômeno da socialização do político e o funcionalismo das ciências sociais no
pensamento de Arendt a partir dos anos 40 até o curso de 1969; III. O Comportamentalismo e
A Condição Humana.
Palavras-chave: Hannah Arendt; Ciências Sociais; Historicismo Alemão; Funcionalismo;
Behaviorismo.
HANNAH ARENDT'S APPROACH TO THE SOCIAL SCIENCES: GERMAN
HISTORICISM, FUNCTIONALISM, AND BEHAVIORISM
Abstract: This article intends to carry out an analysis of Hannah Arendt's approach to Social
Sciences, aiming to understand the continuities and disjunctions in her thinking from the 1930s
until the 1969 seminar. For that, the argument is divided into three parts, namely: I. The problem
1 Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) . Doutorando em Direito pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor no Centro Universitário UNA e no Centro Universitário
de Sete Lagoas (UNIFEMM) | hugoaprado@yahoo.com.br | ORCID: https://orcid .org/0000-0002-3032-6859
Revista do Centro Acadêmico Afonso Pena, Belo Horizonte, Vol. 28, N. 1, jan-jun 2023
ISSN (impresso): 1415-0344 | ISSN (online): 2238-3840
Editora responsável: Ane Laura Rios Gouvea
Data de submissão: 5/9/2023 | Data de aceite: 16/10/2023
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Hugo Araújo Prado
Revista do Centro Acadêmico Afonso Pena, Belo Horizonte, Vol. 28, N. 1, jan-jun 2023
of the conditions of political theory in Hannah Arendt's formative period: Karl Mannheim's
historicism and sociology of knowledge; II. Political Theory and Social Sciences: the
phenomenon of the socialization of the political and the functionalism of the social sciences in
Arendt's thought from the 1940s to the seminar of 1969.
Keywords: Hannah Arendt; Social Sciences; German Historicism; Functionalism;
Behaviorism.
1. O problema das condições da teoria política no período de formação de Hannah Arendt:
o historicismo e a sociologia do conhecimento de Karl Mannheim
Uma das posições mais conhecidas de Hannah Arendt concerne a sua crítica da
tradição, mais precisamente à estrutura hierárquica entre contemplação e ação perpetuada ao
longo da tradição da filosofia política. Essa tradição foi primariamente responsável pela
sedimentação da ideia de que a política é um meio para um fim (ou que não possui um fim em
si mesma) (ARENDT, 2005a, p. 82-83). Arendt busca explorar as condições para se construir
um pensamento político que abrigue a crítica, compreendida como a consideração pela
pluralidade humana, restituindo a consideração da dignidade da política. Ocorre que se, por um
lado, o papel desse debate com a “grande tradição” é explicitado por Arendt e enfatizado pela
literatura sobre Arendt, por outro, por mais das vezes, não é tão claro o que suas leituras sobre
seus contemporâneos representam na sua investigação sobre as condições do pensamento
político e sua avaliação sobre os fechamentos e aberturas para a ação na modernidade.
dois momentos importantes a se considerar no intento de esclarecer o papel de
algumas dessas leituras. Em primeiro, cabe discutir em que medida a visão de Arendt sobre a
teoria política foi marcada pelo debate universitário sobre a crise do historicismo alemão em
seu ambiente de formação. Em segundo, cabe esclarecer o que Arendt tem em vista quando se
propõe a debater com tendências que estavam em consolidação na universidade dos Estados
Unidos. Nesse segundo caso, em suas principais obras, nota-se que a autora optou por utilizar
designações genéricas, tais como “ciências sociais” ou o “funcionalismo das ciências sociais”,
embora, por vezes, refira autores em específico. Tangencia também o debate, suas eloquentes
afirmações em A Condição Humana contra o comportamentalismo (behaviorismo).
Entre essas duas “fases”, há um ponto de ruptura e reelaboração nas reflexões de
Arendt. Em entrevista, ela comenta que sua virada para política é diretamente relacionada ao
evento da ascensão do nazismo, “quando a indiferença se tornou impossível” (ARENDT,
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