A Agroindústria no Sistema de Dejetos Animais Suínos

AutorValmir Dartora
Páginas207-220

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1. Introdução

Nas regiões com alta concentração de suínos, grande parte dos dejetos é lançada no solo sem critérios e em cursos de água sem tratamento prévio, transformando-se em importante fonte de poluição ambiental e, por não receber tratamento adequado, também contribui para o processo de eutrofização das águas e proliferação de insetos nocivos, por exemplo, o borrachudo. Nessas regiões a poluição do ambiente é uma das maiores ameaças à sobrevivência e expansão da suinocultura.

Em termos práticos, observa-se que a maioria dos suinocultores utiliza sistemas de produções que propiciam elevada produção de dejetos líquidos ocasionados principalmente por vazamentos no sistema hidráulico, desperdício de água nos bebedouros e sistemas de limpeza inadequados. A problemática se agrava devido a sistemas de armazenagem subdimensionados, infra-estrutura de transporte e distribuição deficientes, e pequena área agrícola para aplicação dos dejetos.

Objetivando abordar essas questões, apresentamos neste trabalho, possibilidades para os dejetos suínos como: tratamento físico (preliminar); tratamento biológico aeróbio (compostagem, por exemplo, criação de suínos em cama sobreposta); tratamento biológico anaeróbio (lagoas anaeróbias, facultativas e aguapés); uso como adubo orgânico; e como fonte alternativa de energia.

2. Quantidade de dejetos produzidos

A concepção das edificações, alimentação, tipo de bebedouros, sistema de limpeza e manejo determinam, basicamente, as características e o volume total dos dejetos produzidos. Considerando esses aspectos, deve-se prever a instalação de bebedouros ade-

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quados, aquisição de equipamentos de limpeza de baixa vazão e alta pressão, construção de sistemas que escoam a água de desperdício dos bebedouros e de limpeza para sumidouros, evitar a entrada da água do telhado e das enxurradas nas calhas e esterqueiras.

A quantidade total de dejeto produzido por um suíno, em determinada fase do seu desenvolvimento, é um dado fundamental para o planejamento das instalações de coleta e estocagem, e definição dos equipamentos a serem utilizados para o transporte e distribuição do mesmo na lavoura. As quantidades de fezes e urina são afetadas por fatores zootécnicos (tamanho, sexo, raça e atividade), ambientais (temperatura e umidade) e dietéticos (digestibilidade, conteúdo de fibra e proteína).

A tabela 1 apresenta a produção diária de dejetos de acordo com a categoria dos suínos.

Tabela 1

Produção média diária de dejetos nas diferentes fases produtivas dos suínos

[VER PDF ADJUNTO]

Para determinar a quantidade de dejetos produzidos numa criação, sugere-se utilizar os dados médios de produção de dejetos líquidos diários apresentados na tabela 1, considerando o número de suínos presentes nas diferentes fases produtivas ou elaborando a composição do rebanho, conforme a capacidade de alojamento da instalação e cronograma de produção.

Na tabela 2, mostra-se um exemplo de cálculo da quantidade de dejetos líquidos produzidos por uma criação de 840 matrizes, nas fases de unidade de produção de leitões (UPL), terminação e ciclo completo. No exemplo, utilizou-se cronograma de produção com 21 lotes de 40 matrizes, com intervalo de cobertura entre lotes de 7 dias.

Para determinação do número de suínos presentes na criação utilizou-se os seguintes indicadores produtivos:

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· 20 suínos terminados / porca / ano;

· 2,2 partos / porca / ano;

· 9,5 leitões desmamados / porca;

· 9,2 suínos terminados / porca.

Tabela 2

Quantidade de dejetos líquidos de suínos produzidos por uma criação de 840 matrizes nas diferentes fases de produção

[VER PDF ADJUNTO]

Analisando os dados da tabela 2, constata-se que a atividade suinícola possui grande potencial de impacto no ambiente e as principais causas são:

· Grande volume de dejetos produzidos;

· Concentração das criações (escala de produção);

· Dejetos com alto grau de diluição;

· Sistema de estocagem e distribuição deficientes;

· Pequenas áreas para aplicações.

3. Possibilidades dos dejetos suínos

Embora a criação de suínos propicia elevada produção de dejetos líquidos e possui grande potencial de impacto ambiental, atualmente têm-se alternativas de edificações, dietas, bebedouros, sistema de limpeza e manejo que visam diminuir o volume dos dejetos produzidos, além de sistemas de tratamento e aproveitamento dos dejetos para reduzir o impacto no ambiente.

No nosso entendimento as principais possibilidades para os dejetos suínos são: tratamento físico (preliminar); tratamento biológico aeróbio (compostagem, por exemplo, criação de suínos em cama sobreposta); tratamento biológico anaeróbio (lagoas anae-

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róbias, facultativas e aguapés); uso como adubo orgânico; e como fonte de energia, por meio da produção de biogás.

3. 1 Tratamento físico (preliminar)

O tratamento consiste na separação da parte sólida da parte líquida dos dejetos de suínos e tem por objetivo aumentar a eficiência dos processos subsequentes e valorizar o material resultante (o lodo), para ser usado como adubo orgânico. A separação das fases (sólida e líquida) pode ser feita por meio de processo de decantação, peneiramento, centrifugação e separação química.

No entanto, antes da implantação deste sistema de tratamento devemos considerar que, após realizada a separação de fases, obrigatoriamente, teremos que tratar o efluente resultante, por meio de lagoas anaeróbias, facultativas e aguapés. Para a tomada de decisão deve-se avaliar a relação custo/benefício.

3.1. 1 Decantador de Fluxo Ascendente

O decantador remove aproximadamente 50% do material sólido dos dejetos, num volume em torno de 15% do total dos dejetos líquidos produzidos por uma criação.

3.1.1.1 Construção do decantador

O decantador deve ser construído de alvenaria com dois reservatórios de mesmo tamanho e uma parte central de menor profundidade, com base inclinada, dividida proporcionalmente por parede(s) que possibilita(m) a passagem do efluente. A base dos reservatórios deverá ser em forma de cone para facilitar o escoamento do lodo. Quando possível o decantador deverá ser localizado onde possa ser abastecido por gravidade e construído sem necessidade de estruturas de cimento armado (colunas, vigas e lajes prémoldadas ou de concreto).

A Figura 1...

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