Água, saneamento e sustentabilidade: um debate a ser enfrentado

AutorCarlos Sanseverino
Páginas83-98
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ÁGUA, SANEAMENTO E
SUSTENTABILIDADE: UM DEBATE
A SER ENFRENTADO
CARLOS SANSEVERINO
INTRODUÇÃO
Uma série de publicações, especialmente editadas pela ONU, nos
ajudam a entender o impacto dos recursos hídricos e da falta de sanea-
mento sobre o meio ambiente. Em 1987, por exemplo, o histórico e
pioneiro Relatório Brundtland: nosso futuro comum, da Comissão Mundial
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, da ONU, já apontava que
as aglomerações urbanas contribuem de forma efetiva para a degradação
ambiental. Este texto, que completa 30 anos, já demonstrava uma grande
preocupação nesse sentido, ao destacar que 41% da população mundial
vivia em áreas urbanas, sem saneamento, como consta dessa descrição:
“Das 3119 vilas e cidades da Índia, somente 209 tinham esgotos
parciais e somente oito tinham uma rede completa de esgotos e serviços
de tratamento de esgoto. No rio Ganges são despejados diariamente os
esgotos sem tratamento das 114 cidades que ele banha”.
O texto também chamava atenção para a poluição das águas,
decorrente de rejeitos químicos lançados pela indústria (efluentes
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carregam resíduos tóxicos e metais pesados) e agricultura (agrotóxicos e
fertilizantes):
As fábricas de DDT, curtumes, fábricas de papel e polpa, com-
plexos petroquímicos e de fertilizantes, fábricas de borracha e
inúmeras outras indústrias lançam seus resíduos no rio.... As in-
dústrias chinesas, cuja maioria utiliza carvão em fornos e caldei-
ras antiquados, se concentram em cerca de 20 cidades e fazem
com que o ar apresente um índice elevado de poluição. A mor-
talidade por câncer de pulmão nas cidades chinesas é quatro a sete
vezes mais alta do que no país como um todo, e a diferença é
atribuída em grande parte à forte poluição do ar. 1
Atualmente, o relatório “Perspectivas da Urbanização Mundial”
(World Urbanization Prospects, 2014), realizado pela Divisão das Nações
Unidas para a População do Departamento dos Assuntos Econômicos e
Sociais (DESA), aponta que 54% da população mundial vive em cidades,
índice que tende a crescer e agravar a degradação ambiental, como re-
gistrado há três décadas pelo Relatório Brundtland.
No Brasil, dados do 20º Diagnóstico dos Serviços de Água e Es-
goto (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS, 2016),
mostram que pouco mais da metade dos brasileiros residentes em áreas
urbanas (57,6%) tem acesso ao esgotamento sanitário, ou seja, os outros
100 milhões não contam com coleta de esgoto.
Pior: mesmo os esgotos coletados não são 100% tratados. Somen-
te as capitais brasileiras lançaram, em 2013, cerca de 1,2 bilhões de m³
de esgoto. (Instituto Trata Brasil, 2017). As grandes cidades, embora
com melhor cobertura de saneamento, são os principais centros de po-
luição. (Ranking do Saneamento, 2017)
Dados complementares do Ministério das Cidades apontam que,
do esgoto coletado no país, apenas 25% passa por tratamento e os outros
1 COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO.
Relatório Brundtland. ONU/Oxford University Press, 1987.

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