'Alguém ter empresa offshore não significa que esteja fazendo algo ilegal'

Reprodução/YouTube

Entrevista concedida pelo jornalista investigativo americano Michael Hudson ao jornalista Jorge Pontual, para o programa Milênio — programa de entrevistas, que vai ao ar pelo canal de televisão por assinatura GloboNews às 23h30 de segunda-feira, com repetições às terças-feiras (17h30), quartas-feiras (15h30), quintas-feiras (6h30) e domingos (14h05).

Michael Hudson é um jornalista investigativo muito conhecido nos Estados Unidos e que faz parte de um consórcio, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. Durante 20 anos, o Michael investigou o mercado de hipotecas de alto risco, que acabou levando à crise de 2008. Ele foi um dos primeiros a investigar isso e resultou nesse livro, O Monstro, onde ele conta essa história toda, um livro que saiu em 2010.

Jorge Pontual — Você passou 20 anos investigando o mercado de hipotecas de alto risco. Primeiro nos explique o que é uma hipoteca subprime.

Michael Hudson — Há muitas definições, a mais simples é que é uma hipoteca de alto risco, uma hipoteca destinada a pessoas sem crédito na praça, com histórico de não pagar suas contas ou que simplesmente não têm muito dinheiro. Como são clientes de alto risco, pagam um pouco mais, mas a coisa ficou muito mais complicada e as hipotecas de alto risco se tornaram uma ferramenta usada pelos que emprestam dinheiro em Wall Street para ganhar muito dinheiro, em muitos casos explorando os proprietários, atraindo-os prometendo uma coisa e entregando outra, falsificando a assinatura dos clientes em documentos para que eles nem soubessem o conteúdo... Eles realmente roubaram as pessoas. Muita gente pegava cinco empréstimos em poucos anos, não só para pegar dinheiro, mas para tentar se livrar do 1º empréstimo ruim. US$ 6 bilhões foram tomados em empréstimos em 2001. Em 2004, esse valor subiu para US$ 82 bilhões. As inadimplências dos empréstimos de 2001 eram um percentual mínimo dessa massa continuamente em expansão de empréstimos, com mutuantes e mutuários sempre tentando melhorar as condições.

Jorge Pontual — Isso começou a desmoronar no final de 2006 e, em 2008, todo o sistema financeiro veio abaixo.

Michael Hudson — Exato. A crise começou no final de 2006, durou 2007 e 2008. As pessoas diziam que ia melhorar, e quando o mercado percebeu que todo o sistema financeiro estava podre, tudo desmoronou muito rápido.

Jorge Pontual — Falando sobre o seu trabalho como jornalista investigativo. Como você se envolveu na investigação desta história? Foi no início dos anos 1990?

Michael Hudson — Foi. Eu estava trabalhando num jornal da Virgínia de alcance médio, com tiragem de 120 mil exemplares. Naquela época, num jornal assim havia muito jornalismo investigativo. A equipe era grande, o jornal lucrava muito e nós podíamos nos dedicar a grandes reportagens. Eu queria escrever sobre a pobreza numa cidade pequena, e um advogado que representava clientes de baixa renda me disse: “Pense em como as pessoas tentam sair da pobreza, como tentam melhorar de vida.” Ou compram um carro para que possam se mudar para um bairro mais seguro e ir de carro a um emprego melhor, ou compram uma casa para ganhar estabilidade ou voltam a estudar, o que para os pobres significa fazer um curso técnico pago, como um curso de direção ou de informática. E ele percebeu que, em todos os casos, em vez de essas atitudes ajudarem as pessoas a melhorar financeiramente, as afundavam em dívidas. Elas ficavam...

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