Algumas considerações sobre o privilégio

AutorAdilson José Moreira
Páginas229-240
229
CAPÍTULO IX
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
SOBRE O PRIVILÉGIO
Pensar como um negro requer que consideremos como indivíduos
que são sempre excluídos de oportunidades sociais em função da raça,
mas exige também reflexões sobre os benefícios sistemáticos que pessoas
brancas obtêm do racismo, direta ou indiretamente, e mesmo quando
não o pratiquem ou até mesmo o condenem. Quero iniciar esse debate
seguindo o mesmo caminho: demonstrando as articulações entre espaço
público e espaço privado. Penso que essa será a estratégia mais adequa-
da para falar sobre esse tema. A primeira pessoa que namorei era branca.
Estava no terceiro ano do segundo grau. Fiquei muito feliz; foram me-
ses de grande alegria, pois pensei que nunca conseguiria encontrar alguém
porque, reconheço, não sou uma pessoa muito atraente. Vivia em um
mundo inteiramente branco e meus colegas e minhas colegas queriam
namorar pessoas brancas que pertencessem à mesma classe social. Um
namoro com uma pessoa de raça diferente e de classe social diferente
parecia muito improvável. Tudo estava correndo muito bem até o ves-
tibular. Tive a felicidade de ser aprovado em uma universidade pública;
essa pessoa não teve a mesma sorte. Um dia tivemos uma discussão por
um motivo muito tolo, aquelas ocasiões nas quais você se pergunta por
que uma discussão daquela natureza teve início. Essa rusga terminou
com uma frase que eu jamais esquecerei: “Você pode ter passado na
UFMG, mas eu sou branca!”. Esse foi o fim de nosso relacionamento.
Jurei nunca mais namorar pessoas de outras raças.

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