Alterações climáticas, avaliação técnica e opinião pública: perspectivas ibéricas no contexto europeu

AutorJoão Guerra, Luísa Schmidt, Iván López
CargoDoutor em Ciências Sociais, professor e investigador auxiliar no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Portugal/Doutora em Sociologia, professora e investigadora principal no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Portugal/Professor ajudante e doutor em Sociologia no Departamento de Psicologia e Sociologia...
Páginas39-65
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2020v19n44p39
3939 – 65
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Alterações climáticas,
avaliação técnica e opinião
pública: perspectivas ibéricas
no contexto europeu
João Guerra1
Luísa Schmidt2
Iván López3
Resumo
Tendo em mente o cenário desencadeado pelas Alterações Climáticas (ACs) e o contexto euro-
peu, este artigo pretende contribuir para fazer um balanço geral da situação nos países ibéricos,
com dois tipos de dados complementares. Por um lado, dados objetivos, assentes no conhe-
cimento técnico-científ‌ico, avançados pelo Índice de Desempenho em Alterações Climáticas
(Climate Change Performance Index – CCPI), que inclui a consulta de peritos. Por outro lado,
fazendo uso dos inquéritos à opinião pública europeia sobre as mesmas matérias (Eurobarômetro
Especial 490 de 2019), analisa-se o ponto de vista dos leigos (i.e., percepções e atitudes dos
cidadãos). Globalmente, pode concluir-se que existe um certo afastamento entre peritos e leigos
quanto ao problema das ACs e suas consequências, f‌icando clara a urgência da sua aproximação
para se conseguir um processo adaptativo mais rápido e ef‌icaz e, também, mais justo.
Palavras-chave: Alterações climáticas. Leigos. Peritos. Opinião pública. Políticas públicas.
1 Doutor em Ciências Sociais, professor e investigador auxiliar no Instituto de Ciências Sociais da Universidade
de Lisboa, Portugal.
2 Doutora em Sociologia, professora e investigadora principal no Instituto de Ciências Sociais da Universidade
de Lisboa, Portugal.
3 Professor ajudante e doutor em Sociologia no Departamento de Psicologia e Sociologia da Universidade de
Saragoça, Espanha.
Alterações climáticas, avaliação técnica e opinião pública: perspectivas ibéricas no contexto europeu | João Guerra,
Luísa Schmidt, Iván López
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Nota introdutória: contexto e objetivos
No panorama internacional, o fenómeno das Alterações Climáticas
(ACs) tem vindo a ganhar visibilidade e importância, surgindo atualmente
como uma prioridade central (ainda que assumida de forma diversa) quer
para decisores, técnicos e cientistas, quer para as organizações da sociedade
civil e os cidadãos (SMITH; BOGNAR, 2019). Assim, ainda que alguns
interesses, resistências e inércias continuem a impor divergências quando
à melhor forma de enfrentar o problema, no campo cientíco é já relati-
vamente consensual que as ACs se devem à ação humana (IPCC, 2014,
2018). Em causa está a emissão de gases com efeito de estufa (GEEs),
que cresceu exponencialmente a partir da Revolução Industrial, apresen-
tando nos nossos dias – apesar de todos os alertas – um grau de retroces-
so manifestamente insuciente para garantir a sustentabilidade almejada
(SCHMIDT; GUERRA, 2016, 2018). Além do mais, e ao contrário do
que se chegou a acreditar aquando do Acordo de Paris (COP21, 2015), a
disparidade persistente entre as metas a que os governos nacionais se com-
prometeram, a redução de emissões efetivamente alcançada e os valores
necessários para garantir o equilíbrio ecológico vital para as sociedades hu-
manas, perpetua-se ou, nalguns casos, até se agrava (BURCK et al., 2019).
O ponto de não retorno emerge, portanto, como uma hipótese a não
descartar, como não descartável é a agudização das consequências soci-
oecológicas das ACs que já se fazem sentir (UN CLIMATE CHANGE,
2018; IPCC, 2018). Nesse panorama, de fenómeno meramente geoclimá-
tico, as ACs têm vindo a impor-se como um facto social: uma “das forças
motrizes da dinâmica social” nas sociedades contemporâneas (PARDO;
ORTEGA, 2018, p. 366). Quer isso dizer que é da relação crescentemente
desequilibrada entre mundo social e mundo natural que decorrem (ou
se aprofundam) os próprios desequilíbrios entre países, comunidades e
grupos sociais. Nesse contexto, os económica e socialmente mais débeis
e, portanto, menos preparados para enfrentar os desaos da mudança
climática tenderão a sofrer maiores impactos (AGYEMAN et al., 2016;
HIRSCH et al., 2016; RIOCCADAPT, 2020).
Com tal cenário, se a sempre crescente emissão de GEEs e o aumento
do aquecimento global trouxeram visibilidade e capacidade de inuência

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