Analysis of housing cooperatives in light of the structuring factors of network society/Analise de cooperativas habitacionais a partir dos fatores estruturantes da sociedade em rede/Analisis de cooperativas habitacionales a partir de los factores estructurantes de la sociedad en red.

AutorGiglio, Ernesto Michelangelo
CargoArtigo--Administracao Geral
  1. INTRODUCAO

    O objetivo do trabalho e analisar e apresentar exemplos do argumento de que todas as organizacoes estao em rede, quer utilizem, quer nao, suas conexoes. A partir da analise das convergencias de textos sobre o tema, elegeram-se os fatores estruturantes das redes e criou-se a proposicao orientadora de que e possivel investigar a presenca/ausencia desses fatores em qualquer empresa, obtendo-se um desenho da organizacao da rede na qual essa empresa esta imersa.

    A proposta decorre do fato de que as redes de negocios, incluindo as redes de cooperacao, constituem um tema de interesse atual, tanto no que diz respeito ao formato das organizacoes, quanto pela indicacao de alguns caminhos alternativos de desenvolvimento e competitividade de organizacoes, fundados na acao coletiva, que os modelos tradicionais de competicao isolada nao conseguem explicar adequadamente. Como esses modelos de competicao isolada sao dominantes entre pesquisadores e empreendedores do tema de redes (GIGLIO, 2010), e interessante e justificado discutir e investigar o argumento de que todas as empresas estao em rede, oferecendo uma alternativa a visao dominante. O trabalho pretende contribuir para a compreensao e valorizacao da abordagem da sociedade em rede, e investigar sua capacidade explicativa diante de fenomenos de acao coletiva, como as cooperativas.

    Como parte da argumentacao, foram analisadas as relacoes interorganizacionais de cooperativas habitacionais, ja que estas organizacoes sao muito caracteristicas, contando com funcoes e processos tipicos de empresas que concorrem no mercado da construcao civil e, ao mesmo tempo, com funcoes e processos tipicos de organizacoes de ajuda, com apoio do governo, com incentivos e ausencia de objetivos de lucro.

    A tarefa tambem se justifica porque existem sinais de que os ramos de negocio que lidam com relacionamentos complexos na producao, comercializacao e prestacao de servicos, caso da construcao civil, cada vez mais se organizam em formas associativas como cooperativas, consorcios, aglomerados locais e redes de negocios. Secundariamente, o estudo pode oferecer algumas sugestoes de acoes gerenciais as cooperativas habitacionais.

    Como base teorica, utilizam-se os argumentos da sociedade em rede. Para Castells (1999), a sociedade atual se caracteriza por seu formato em rede, em substituicao a estrutura anterior, formada por pequenos grupos, como familia e grupos de trabalho. Nesta nova estrutura modificam-se os padroes de estrategia e de competicao das empresas, agora definidos pela rede de relacoes em que a empresa esta imersa. Outra base teorica encontra-se em Nohria e Ecles (1992), que afirmam que todas as empresas estao em rede, quer utilizem, quer nao, suas conexoes.

    A pesquisa se caracteriza como um estudo de casos multiplos, considerando-se que se analisou mais de uma cooperativa e sua rede de relacoes, e de multitecnicas, ja que se realizaram levantamentos bibliograficos e coleta de dados secundarios e primarios, buscando as convergencias das informacoes.

    A escolha das cooperativas habitacionais e resultado de trabalhos anteriores dos autores (referencias omitidas) e motivada pela especificidade dessas organizacoes, que apresentam elementos comerciais bem definidos e elementos sociais (a inclusao de pessoas sem capacidade de comprar um imovel individualmente), nao sendo exclusivamente nem uma organizacao de negocios nem uma cooperativa social. Dessa forma, as relacoes sociais de aproximacao entre os atores, tais como as relacoes de confianca e comprometimento, e as relacoes sociais de conflito, tais como as relacoes de poder, estao inextrincavelmente unidas as relacoes comerciais, numa intrincada teia. Neste caso, afirma-se que a funcao de um gerente de rede e desenvolver as relacoes de aproximacao, resolver as relacoes conflituosas e criar os mecanismos de acoes coletivas de producao.

    O trabalho esta estruturado da seguinte forma: inicia com esta Introducao, apresentando a tarefa e sua justificativa; na secao 2 apresenta-se um painel de trabalhos sobre cooperativas, mostrando que a abordagem de redes esta ausente; a secao 3 expoe as afirmativas da abordagem da sociedade em rede, que fundamenta o argumento principal do trabalho e a proposicao orientadora--nesta secao ja se apresentam os fatores determinantes da organizacao em rede que serao utilizados na pesquisa; a secao 4 discorre sobre a metodologia, seguida da secao 5, que apresenta e analisa os dados; a secao 6 e dedicada aos comentarios finais.

  2. O CAMPO DE INVESTIGACAO DAS COOPERATIVAS

    Neste item comenta-se a tendencia das pesquisas e artigos brasileiros sobre cooperativas, especialmente as habitacionais, e a lacuna no raciocinio de redes, o qual, conforme aqui se defende, seria capaz de explicar o desenvolvimento, os limites e os problemas das organizacoes envolvidas.

    O cooperativismo surgiu da necessidade das pessoas de trabalhar em conjunto, como forma de alcancar seus objetivos (HOJER, 2011). Segundo Santos (2005), ha registros desde 1844, na Franca e na Inglaterra, de sociedades com caracteristicas de cooperativas, baseadas no conceito de ajuda mutua, igualdade, associativismo e autogestao. O nascimento de cooperativas esta associado a procura de alternativas economicas a existencia de grupos dominantes que criavam barreiras para os pequenos empresarios e comerciantes, alem de oferecerem condicoes pouco adequadas aos trabalhadores.

    O cooperativismo evoluiu e conquistou um espaco proprio, definido por uma forma alternativa de pensar o homem, o trabalho e o desenvolvimento social. Com seus principios coletivos e sociais, o cooperativismo e aceito pelos governos e reconhecido como formula democratica para a solucao de problemas socioeconomicos, especialmente nos ramos de cooperativas agricolas, de trabalho, de credito, de consumo e habitacional.

    Sendo uma interessante resposta alternativa as pressoes de mercado, era de esperar um relativo volume de investigacao e modelos gerenciais de cooperativas, comparativamente a temas como associacoes, fusoes e aquisicoes, mas nao e o que ocorre. A busca de trabalhos cientificos no banco de dados do Proquest e no motor de busca do Google Academico mostra a existencia de trabalhos de varias ciencias, entre elas a Economia, o Direito, a Sociologia Critica, mas pouco material sobre a cooperativa como organizacao de negocio (quando o foco tende mais para os aspectos economicos e produtivos) ou como rede de cooperacao (quando o foco tende mais para os aspectos das acoes coletivas). A expressao cooperativa circunscrita ao titulo gera em torno de 8 mil referencias nos dois modos de busca, e a expressao cooperativa e redes gera 55 referencias. A leitura dos titulos e dos resumos dessas referencias indica um leque de temas sociais, de Informatica, de Pedagogia e alguns poucos de Administracao, como em Oliveira e Goncalves (2011). A expressao cooperativas habitacionais gera 24 resultados, com dominancia de temas politicos (5) e economicos (5). As expressoes cooperativas habitacionais e redes de negocios, ou rede de cooperacao, geram zero resultados. Na pagina de busca da Anpad, que e a associacao que congrega o maior contingente de trabalhos de pesquisa e gerencia em Administracao no Brasil, a expressao cooperativa gera em torno de 120 referencias e as outras combinacoes geram resultado zero.

    Mesmo considerando a simplicidade da busca bibliografica, as relacoes entre os numeros sao claras. Num universo de referencias em dois motores de busca, a relacao entre trabalhos sobre cooperativas e a perspectiva de redes e praticamente nula. Existe uma lacuna a ser preenchida, ja que o tema do cooperativismo contem aspectos politicos, economicos e sociais de grande interesse, particularmente na perspectiva de redes e de acoes coletivas (OLIVEIRA, 2012). A propria palavra cooperativa ensejaria trabalhos na perspectiva de redes e de acoes coletivas.

    Especificamente no caso de habitacao, as cooperativas habitacionais brasileiras constituem um campo interessante de estudo, no aspecto de analise das relacoes de cooperacao e no aspecto gerencial. Segundo informacoes do censo divulgado pela Organizacao das Cooperativas do Brasil, cerca de 53% das cooperativas compram o terreno com recursos proprios e mais de 56% realizam a obra e disponibilizam imoveis por meio do autofinanciamento. A maioria das cooperativas (84%) visa construir exclusivamente moradias, enquanto as restantes (16%) se ocupam tambem da manutencao e reformas dos imoveis ocupados (SESCOOP, 2011).

    Ainda utilizando dados desse relatorio (SESCOOP, 2011), o Brasil tem 226 Cooperativas Habitacionais inscritas e ativas, que geram 2.472 empregos diretos, seja na administracao, seja na gestao de obras, tendo 104.908 socios cooperados. Esses dados sugerem, por exemplo, estudos comparativos entre as cooperativas.

    Segundo Santos (2005), as cooperativas habitacionais do tipo autogestionarias, ou seja, aquelas que nascem sem a interferencia direta do governo, constituem uma alternativa de habitacao no Brasil, bem como em varios paises de diversos niveis de desenvolvimento economico. Elas estao inseridas numa nova forma de politicas publicas, na qual se unem os interesses do governo, das empresas e da sociedade civil. Este tema tambem e raramente desenvolvido no Brasil. Um dos trabalhos e o de Bonduki (1997), que aplicou a perspectiva de redes ao tema de politicas habitacionais.

    Essa configuracao de um campo organizacional de instituicoes conectadas sugere temas interessantes de pesquisa, praticamente ausentes na producao cientifica brasileira, como a estrutura da cooperativa, a posicao e importancia de uma cooperativa em suas relacoes com outras instituicoes, os beneficios e limites de uma cooperativa em suas ligacoes em rede. Uma possivel explicacao para a ausencia de trabalhos sobre o tema e a dominancia do paradigma das formas de competicao isolada. Como sera exposto na proxima secao, e possivel ver o campo organizacional como uma teia de...

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