O anel

AutorMônica Sette Lopes
Páginas80-84
O anel
A casa ainda está lá. Era verde na época e hoje tem
outra cor que não importa. Rezeram também o piso. Era de
uma madeira antiga, frágil, que estalava de ponto a ponto, me-
nos na cozinha, que tinha chão de ladrilho antigo. Tudo nela
tão antigo. A sala do oratório de prata sempre preservada e
escura. Minha bisavó sentada na beira da cama sem entender
as coisas. Minha bisavó velhinha já sem memória quando eu
tinha três anos. E a casa continua na Rua Macau de Baixo, mas
cou limpa, como se perdesse o segredo. Como se perdesse a
memória. Uma espécie de repartição pública. Organizada de-
mais. Asseada demais. A madeira do piso clara demais. Re-
gular demais. E ainda assim quei emocionada quando entrei
nela outro dia, de passagem, e pedi para ir até o m. Até a jane-
la com vista para o paredão da montanha que ilustra o fundo
do todo.
Da rua, vê-se apenas um andar. O lote é na descida
para o vale do rio (o Tijuco de onde vieram os diamantes) e,
por isto, a casa afunda para baixo, com três andares até onde
está o chão. Nunca fui à parte de baixo e, por isto, tinha sempre
a impressão de que aquele piso estava dependurado. O barulho
da madeira. Rangendo como se nada a segurasse. O silêncio da

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