Antonio Bento e Romero Brest: o movimento abstrato como fluxo universal

AutorAraceli Barros da Silva Jellmayer Bedtche
CargoBacharel/Licenciada em História pela FFLCH-USP. Mestre em Estética e História da Arte pelo PGEHA-USP. Doutora em Ciências pelo PROLAM-USP
Páginas167-188
Araceli Bedtche
Cadernos Prolam/USP, v.16, n.30, p.167-188, jan./jun.2017
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ANTONIO BENTO E ROMERO BREST: O MOVIMENTO
ABSTRATO COMO FLUXO UNIVERSAL
ANTONIO BENTO AND ROMERO BREST: THE ABSTRACT
MOVEMENT AS A UNIVERSAL FLOW
Araceli Barros da Silva Jellmayer Bedtche
Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil1
Resumo: Este artigo apresenta uma análise das contribuições do crítico de arte argentino,
Jorge Romero Brest, para o panorama artístico brasileiro, estabelecendo aproximações
políticas e culturais entre Brasil e Argentina. Enfatiza-se a importância da Revista argentina
Ver y Estimar como veículo de difusão das idéias vanguardistas e a atuação de uma crítica de
arte especializada no Brasil, como a de Antonio Bento de Araújo Lima e Sérgio Milliet, no
processo de divulgação da arte abstrata como fluxo universal. Constituem as principais fontes
utilizadas: Revista Ver y Estimar (1951) e textos críticos de Antonio Bento da década de
1950.
Palavras-chave: Ver y Estimar; abstracionismo; Bienais de São Paulo; Romero Brest;
Antonio Bento.
Resumen: En este artículo se presenta un análisis de las contribuciones del crítico de arte
argentino Jorge Romero Brest para la escena artística brasileña, con miras en las
aproximaciones políticas y culturales entre Brasil y Argentina. Acentuase la importancia de la
revista argentina Ver y Estimar como un vehículo para la difusión de ideas vanguardistas. Este
artículo se ocupa también de las producciones de una crítica de arte especializada en Brasil,
como la propuesta por Antonio Bento de Araújo Lima y Sérgio Milliet, en el proceso de
difusión del arte abstracto como un flujo universal. Son las principales fuentes utilizadas:
Revista Ver y Estimar (1951), producciones críticas de Antonio Bento de la década de 1950.
Palabras Clave: Ver y Estimar; abstraccionismo; Bienales de São Paulo; Romero Brest;
Antonio Bento.
Abstract: This article presents an analysis of the contributions of Argentine art critic Jorge
Romero Brest to the Brazilian artistic scene, establishing political and cultural approaches
between Brazil and Argentina. The importance of the Revista Argentina Ver y Estimar as a
vehicle for the diffusion of avant-garde ideas and the performance of a specialized art critic in
Brazil, such as that of Antonio Bento de Araújo Lima and Sérgio Milliet, in the process of
disseminating abstract art as universal flow. They are the main sources used: Revista Ver y
Estimar (1951) and critical texts of Antonio Bento of the 1950s.
Keywords: Ver y Estimar; abstracionism; Biennials of São Paulo; Romero Brest; Antonio
Bento.
1 Bacharel/Licenciada e m História pela FFLCH-USP. Mestre em Estética e História da Arte p elo PGEHA-USP.
Doutora em Ciências pelo PROLAM-USP. Email: araceli.bedtche@usp.br.
Araceli Bedtche
Cadernos Prolam/USP, v.16, n.30, p.167-188, jan./jun.2017
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1 INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objetivo analisar o desenvolvimento e expansão do
abstracionismo, após a Segunda Guerra Mundial, em dois países: Brasil e Argentina.
Estabelece-se também uma aproximação política entre os países citados, considerando-se uma
atuação diferenciada da iniciativa privada brasileira na criação de órgãos culturais. Mediante
a construção do movimento abstrato como fluxo universal, destacam-se dois importantes
críticos de arte: Antonio Bento de Araújo Lima2 (1902-1988) e Jorge Aníbal Romero Brest3
(1905-1989). Contemporâneos entre si pertenceram a realidades artísticas diferenciadas,
recorrendo a soluções distintas para um mesmo desígnio: a promoção e defesa do
abstracionismo.
A trajetória intelectual, profissional e acadêmica de ambos os críticos promove pontos
de contato e de distanciamentos. Porém, o mais importante é que, iniciando suas vidas com
formações alheias à arte, mas com um interesse intrínseco pela mesma, ambos decidem
exercer a crítica de arte por julgarem o cenário artístico de seus países displicentes com as
manifestações modernas. Para Antonio Bento, será a rejeição a obra do artista modernista
Ismael Nery que conflagrará seu ímpeto crítico, através de uma crônica publicada no jornal A
República, de Natal, em 1930. Já para o crítico argentino, sua adesão à crítica foi induzida
pela apatia cultural vivenciada pelo panorama artístico argentino e a ineficácia dos órgãos
oficiais na promoção de uma linguagem artística atualizada. Em 1937, Brest publicou seu
primeiro ensaio crítico El problema del arte y el artista contemporáneos / Bases para su
dilucidación.
Junto com a fundação do Museu de Arte Moderna de São Paulo, em julho 1948,
instituía-se o debate figuração x abstração. A Bienal, por sua vez, foi a via pela qual se deu o
2 Antonio Bento de Araújo Lima nasceu em Araruna na Paraíba em 1902. Passou sua infância e adolescência no
Engenho Bom Jardim (RN). Após viver sua infância e adolescência no Engenho Bom Jardim no município de
Goianinha, Rio Grande do Norte, emigrou em 1920 para iniciar um curso de Direito, no Recife. Em 1934, passou
a fazer parte do Diário Carioca, mantendo uma coluna diária, de 1945 até 1965 na seção ARTES.
3 Romero Brest nasceu em Buenos Aires em 1905. Foi Professor de Educação Física, advogado, mas abando nou
essas funções para dedicar-se ao estudo das artes plásticas. A partir de 1934 iniciou sua Especialização,
convertendo-se tempos depois em professor de História da Arte na Universidade Nacional de La Plata, cargo que
exerceu até março de 1947. Em 1946 ministrou curso s particulares em Buenos Aires (Cursos de Estética e
História da Arte). Organizou a Cátedra de Investigação e Orientação Artística do Colégio Livre de Estudos
Superiores, na qual lecionava desde 1 939. Atuou como conferencista, ocupando desde 1939, as principais salas
de quase todas as universidades de seu país e de várias instituições públicas e privadas. Em 1943 foi docente na
Universidade do Chile e, em várias ocasiões, lecionou na Universidade de Montevidéu. Em 1950 era professor
de História da Arte na Faculdade de Humanidades e Ciências da Universidade de Montevidéu. Se u primeiro
ensaio crítico, El problema del arte y el artista contemporáneos / Bases para su dilucidación, foi publicado em
1937. (Edición del autor, Buenos Aires, 1937, 44 páginas).

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