A aplicação do método Lume no estudo do trabalho de mulheres agroextrativistas em agroecossistemas amazônicos
| Autor | Alciene Oliveira Felizardo - Hueliton Pereira Azevedo |
| Cargo | Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil - Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil |
| Páginas | 1-24 |
Artigo
Original
Textos de Economia, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 1-24, jan./jul., 2020. Universidade Federal de Santa Catarina.
ISSN 2175-8085. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8085.2020.e71517 .
A APLICAÇÃO DO MÉTODO LUME NO ESTUDO DO
TRABALHO DE MULHERES AGROEXTRATIVISTAS EM
AGROECOSSISTEMAS AMAZÔNICOS
The application of the Lume method in the study of the work of
agroextractive women in Amazonian agroecosystems
Alciene Oliveira FELIZARDO
Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil
alcifelizardo@yahoo.com.br
Hueliton Pereira AZEVEDO
Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil
huelitontuba@hotmail.com
RESUMO
O artigo trata da avaliação do Lume como um método de investigação que permite considerar as relações de gênero nos
agroecossistemas. Para avaliar o método foi realizado um estudo de caso em um agroecossistema em Abaetetuba, no
Pará. Verificou-se que a riqueza produzida pela mulher foi maior que a riqueza produzida por todos os homens da família
e que a jornada de trabalho da mulher é maior que a soma do tempo total de trabalho realizado pelos homens. O trabalho
dela está distribuído em diferentes esferas da vida social, pois envolve-se com a pluriatividade, o trabalho doméstico e de
cuidados e a participação social. O método é capaz de tornar visível a relevância econômica do trabalho das mulheres e
seu envolvimento em várias esferas da vida social no contexto dos agroecossistemas amazônicos.
PALAVRAS-CHAVE: Pensamento Econômico. Análise Econômico-Ecológica. Valor Agregado. Amazônia.
ABSTRACT
The article deals with the evaluation of Lume as an investigation method that allows considering gender relations in
agroecosystems. To evaluate the method, a case study was carried out in an agroecosystem in Abaetetuba, Pará. It was
found that the wealth produced by the woman was greater than the wealth p roduced by all the men in the family and that
the woman's working day is longer than the sum of the total time worked by men. Her work is distributed in different spheres
of social life, as she is involved with pluriactivity, domestic and care work and social participation. The method is able to
make visible the economic relevance of women's work and their involvement in various spheres of social life in the context
of Amazonian agro-ecosystems.
KEYWORDS: Economic Thinking. Economic and Ecological Analysis. Added Value. Amazon.
Classificação JEL: Q1
Recebido em: 15-02-2020. Aceito em: 09-06-2020.
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Textos de Economia, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 1-24, jan./jul., 2020. Universidade Federal de Santa Catarina.
ISSN 2175-8085. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8085.2020.e71517
1 INTRODUÇÃO
O trabalho é essencial para a reprodução social de famílias, sejam elas do meio rural
ou urbano. Conforme Petersen et al. (2017), é a partir do trabalho que as famílias se
organizam para atender suas necessidades biológicas e socioculturais. Constituído por
dispêndio de energia humana, o trabalho distribui-se em diferentes esferas da vida social
(PETERSEN et al., 2017) sendo desenvolvido de forma distinta entre homens e mulheres.
Os homens são responsáveis pelas atividades produtivas e as mulheres assumem as
atividades domésticas (GARCIA JÚNIOR, 1989).
Essa distinção na divisão sexual do trabalho tem historicamente subjugado o
trabalho desempenhado pelas mulheres. Entretanto, a partir dos anos 60 o pensamento
feminista se fortaleceu e as mulheres foram ganhando seu espaço na sociedade (mercado
de trabalho, universidades, etc.), resultando no aumento de estudos que relacionam este
pensamento ao campo econômico (CARRASCO, 2005). Neste período, em contraposição
ao modo como os paradigmas dominantes (neoclássico e marxista) analisavam as
situações socioeconômicas das mulheres surge a economia feminista, conforme Carrasco
(2005). Desde então diversos estudos têm sido desenvolvidos no sentido de contribuir com
enfoques que analisem sua inclusão na sociedade.
As autoras e autores feministas, advindos de distintas “escolas” de economia
(neoclássica, institucional, marxista, etc.) têm-se dedicado a contribuir em processos que
busquem “repensar os fundamentos e métodos da ciência econômica” (COELHO, 2009,
p.128). A economia feminista busca ampliar para além da visão dominante dos
economistas, conceitos tais como: trabalho, valor e bem-estar (COELHO, 2009). Diferente
da economia neoclássica que vê o trabalho produtivo e reprodutivo de forma dissociada, a
economia feminista o vê como “estruturalmente constitutivos dos processos de geração de
valor” (PETERSEN et al., 2017, p. 23) e de bem-estar. A partir da crítica aos fundamentos
da economia convencional, a economia feminista sugere novos conceitos e instrumentos
analíticos visando reconhecer e visibilizar o trabalho das mulheres, tornando mais evidente
sua participação na “produção e na apropriação da riqueza social” (PETERSEN et al., 2017,
p. 11). Nesse sentido, a economia feminista elabora críticas à “divisão sexual do trabalho e
ao patriarcalismo, elementos culturais e ideológicos que estruturam as relações
econômicas dominantes nas esferas doméstica e pública” (PETERSEN et al., 2017, p. 11).
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