Apresentação

AutorJorge Luiz Souto Maior - Regina Stela Corrêa Vieira
Páginas7-9

Page 7

"(...) Pero Vaz de Caminha mencionava: ‘quatro ou cinco mulheres moças que não pareciam mal’. Nessa espécie de certidão de nascimento do Brasil, ao lado de sua incontestável beleza, já nos fora possível constatar a ótica com que eram vistas as mulheres que aqui estavam". (Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil, em Dicionário Mulheres do Brasil, 2000)

Falar em história das mulheres começa por entender que a "história" sempre nos é contata a partir de determinado ponto de vista, pois a história tem lado. E o lado que prevalece, que chega aos nossos ouvidos e aos livros de história, é o lado do vencedor. No Brasil, até pouco tempo atrás, a versão do "descobrimento" português era ensinada como a única verdade do que ocorrera em 1500, ignorando-se os povos nativos que aqui estavam - a epígrafe acima revela que conhecemos a versão de Pero Vaz de Caminha, mas não das quatro ou cinco mulheres-moças descritas na carta escrita em 26 de abril daquele ano. Acrescente-se que o estudo da história e cultura afro-brasileira só passou a integrar os currículos escolares em 2003, apesar de sermos um país composto por mais da metade da população negra. Assim, o vencedor até hoje foi o homem branco, europeu, cujo relato histórico pretendia ser o único.

Partindo desta compreensão, não é difícil enxergar que as mulheres (os seus dilemas, as suas angústias, as suas lutas, os seus sofrimentos, as suas conquistas e as suas vozes) foram por muito tempo excluídas da versão oficial da história. Conforme explica Michelle Perrot,

O ‘ofício historiador’ é um ofício de homens que escrevem a história no masculino. Os campos que abordam são os da ação e do poder masculinos, mesmo quando anexam novos territórios. Econômica, a história ignora a mulher improdutiva. Social, ela privilegia as classes e negligencia os sexos. Cultural ou ‘mental’, ela fala do Homem em geral, tão assexuado quanto a Humanidade. Célebres - piedosas ou escandalosas - as mulheres alimentam as crônicas da ‘pequena história’, meras coadjuvantes da História!1

Dessa forma, colocar em evidência a história das mulheres sugere não apenas que a história que conhecemos está incompleta, mas também que o domínio dos historiadores sobre o passado é parcial, que tomam a ação "do homem" como regra e relegam as mulheres ao segundo plano2 - fenômeno explicado a partir da perspectiva de gênero, que releva as relações de poder que dividem e hierarquizam os seres humanos em dois grupos sociais de interesses...

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