Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza (Art. 169)

AutorFrancisco Dirceu Barros
Ocupação do AutorProcurador-Geral de Justiça
Páginas1293-1306
Tratado Doutrinário de Direito Penal
1293
Art. 169
1. Conceito do delito de apropriação de
coisa havida por erro, caso fortuito ou força
da natureza
O delito consiste no fato de o sujeito ativo apro-
priar-se de coisa alheia vinda ao seu poder por erro,
caso fortuito ou força da natureza.
Paulo José da Costa Jr.3660 leciona: “Ao contrá-
rio da  gura anterior (apropriação indébita), o agente
toma posse da coisa alheia móvel em razão de um
fato totalmente estranho à sua vontade: por erro, por
caso fortuito ou por força da natureza.”
Cleber Masson3661 diferencia: “... a diferença entre
os delitos é clara: enquanto na apropriação indébita a
vítima (ou alguém em seu nome) entrega a coisa sem
estar em erro, na apropriação de coisa havida por erro
(CP, art. 169, caput) é imprescindível que a vítima (ou
quem a representa) tenha uma falsa percepção da
realidade, a qual, no caso concreto, funciona como
motivo determinante para a entrega do bem”.
Rogério Greco3662 a rma: “Ao contrário do que
ocorre com a apropriação indébita, o agente não ti-
nha, licitamente, a posse ou a detenção da coisa.
Aqui, ela vem ao seu poder por erro, caso fortuito ou
força da natureza”.
Rogério Sanches3663 arremata: “A diferença
entre as duas  guras criminosas é a forma como a
coisa chega às mãos do agente. Na primeira (art.
168), o proprietário, baseado normalmente em situa-
ção de con ança, con a (entrega) a coisa ao autor;
na segunda (art. 169), o agente adquire a posse ou
detenção por erro, caso fortuito ou força da natureza
(não há deliberação do dominus)”.
3660 Obra citada.
3661 MASSON, Cleber. Ob. cit. p. 585.
3662 GRECO, Rogério. Ob. cit. Capítulo V – Da Apropriação
Indébita.
3663 CUNHA, Rogério Sanches. Ob.cit. p. 316.
Extraímos da lição de Hungria que: “O dispositivo
legal menciona o caso fortuito e a força da natureza,
fazendo, a exemplo, aliás, do Código suíço, uma dis-
tinção que se pode dizer desnecessária, pois o caso
fortuito abrange todo e qualquer acontecimento estra-
nho, na espécie, à vontade do agente e do dominus.
Tanto é caso fortuito se a coisa alheia vem ao meu
poder em consequência da queda de um avião em
meu terreno, quanto se foi trazida pela correnteza de
uma enchente. Se bois alheios, por mero instinto de
vagueação ou acossados pelo fogo de uma queima-
da, entram nas minhas terras, ou se peças de roupa
no coradouro do meu vizinho são impelidas por um
tufão até o meu quintal, tudo é caso fortuito.”3664
André Estefam e Pedro Campos3665 apresen-
tam a diferença com exemplos didáticos:
O caso fortuito e a força maior indicam situações
nas quais o bem ingressou na posse do agente
involuntariamente. Exemplos: bois pertencentes à
fazenda vizinha derrubam uma cerca e ingressam no
pasto de outrem (caso fortuito), que deles se apro-
pria; por ocasião de uma enchente (força maior),
móveis de uma pessoa são levados ao terreno de
outra, que se nega a devolvê-los.
Noronha,3666 em excelente lição didática, leciona
que o erro pode recair:
1. Sobre a pessoa (error in persona).
EXEMPLO DIDÁTICO
“Tício” manda, por um  âmulo, certa quantia a
Caio, seu credor; mas o dinheiro é entregue a um
homônimo que se apropria”.
3664 Comentários ao Código Penal v. 7, p. 151.
3665 No sentido do texto: ESTEFAM, André e CAMPOS Pedro.
Direito Penal. v. 3. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 55.
3666 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal, cit., v. 2, p. 343.
Capítulo 14
Apropriação de coisa havida por erro, caso
fortuito ou força da natureza (Art. 169)
Tratado Doutrinário de Direito Penal [17x24].indd 1293 08/02/2018 14:54:27

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT