As famílias rurais nas feiras livres: espaços de produção, comercialização e consumo

AutorEzequiel Redin, Bruna Saldanha Vogelei
CargoCurso Superior de Tecnologia em Agropecuária: Sistemas de Produção (UERGS) - CREA RS 160488; Bacharel em Administração (ULBRA); Licenciatura plena para a Educação Profissional (UFSM); Licenciatura em Filosofia (UFSM); Pós-graduação em Gestão Pública Municipal (UFSM); Pós-graduação em Tecnologias de Informação e Comunicação aplicadas à Educação ...
Páginas111-136
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 45, n. 249, p. 111-136, jan./abr. 2020 | ISSN 2447-861X
AS FAMÍLIAS RURAIS NAS FEIRAS LIVRES: ESPAÇOS DE
PRODUÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO E CONSUMO
Rural families at free fairs: spaces of production, commercialization and
consumption
Ezequiel Redin
(Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
UFVJM - Campus Unaí, MG)
ORCID iD https://orcid.org/0000-0002-3750-8225
Bruna Saldanha Vogelei
(Faculdade Metodista Centenário-RS)
Informações do artigo
Recebido em 25/01/2020
Aceito em 19/05/2020
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2020.n249.p111-136
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Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Como ser citado (modelo ABNT)
REDIN, Ezequiel; VOGELEI, Bruna Saldanha. As famílias
rurais nas feiras livres: espaços de produção,
comercialização e consumo. Cadernos do CEAS:
Revista Crítica de Humanidades. Salvador, v. 45, n.
249, p. 111-136, jan./abr. 2020. DOI:
https://doi.org/10.25247/2447-861X.2020.n249.p111-136
Resumo
O trabalho objetiva analisar e compreender os motivos que
conduzem as famílias rurais a comercializar seus produtos na
feira livre, além de identificar o perfil socioeconômico das
famílias feirantes, a produção e suas relações de
comercialização e consumo em Santa Maria, RS. Para isso
utilizou-se um roteiro semiestruturado que foi aplicado na feira
da Tancredo Neves e na feira da Praça Roque Gonzales em Santa
Maria, RS. A pesquisa revelou qu e os agricultores escolhem as
feiras livres por constituir-se um canal flexível e pouco
burocrático onde conseguem maior preço pelo produto ao
comparado com os estabelecidos pelo mercado tradicional. As
famílias rurais feirantes possuem uma renda residual relevante,
dadas as restrições no tamanho da propriedade, sendo que a
feira representa um complemento na renda familiar,
demostrando a importância deste canal para a reprodução
econômica da família e também para o desenvolvimento rural
do município de Santa Maria, RS.
Palavras-chave: Agricultura familiar. Feiras livres. Construção
social de mercados. Circuitos curtos. Pluriatividade.
Abstract
This paper aims to analyze and understand the reasons that lead
rural families to market their products in the free market,
besides identifying the socioeconomic profile of the fair families,
the production and their relations of commercialization and
consumption in Santa Maria, RS. For this we used a semi-
structured script that was applied at the Tancredo Neves fair and
at the Roque Gonzales Square fair in Santa Maria, RS. The survey
revealed that farmers choose free markets because it is a flexible
and less bureaucratic channel where they get higher price for the
product compared to those established by the traditional
market. Farmers have a significant residual income, given the
restrictions on the size of the property, and the fair represents a
complement to famil y income showing the importance of this
channel for the economic reproduction of the family and also for
the rural development of Santa Maria, RS.
Keywords: Family Farming. Free fairs. Social construction of
markets. Short circuits. Pluriactivity.
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 45, n. 249, p. 111-136, jan./abr. 2020
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As famílias rurais nas feiras livres: espaços de produção, comercialização... | Ezequiel Redin e Bruna Saldanha Vogelei
Introdução
O Brasil é um país com grande potencial para a agricultura, pois possui vasta extensão
de terras, o clima é favorável e tem água em abundância, fatores propícios para o
desenvolvimento da prática agrícola, o que contribui para o seu desenvolvimento. Nos
últimos anos, o Brasil está vivenciando várias crises e uma instabilidade na economia.
Contudo, o Produto Interno Bruto (PIB) dos agronegócios cresceu 0,6% em fevereiro e
acumulou uma alta de 1,09% nos primeiros dois meses de 2016, segundo a Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA, 2006) e o Centro de Estudos Avançados em Economia
Aplicada da Universidade de São Paulo (CEPEA, 2016).
Nos últimos anos, a agricultura familiar intensificou o p rocesso de especialização na
agricultura em prol da produção de alimentos no Brasil. Segund o Schneider (2003), a
agricultura familiar utiliza a força de trabalho dos indivíduos que residem na propriedade, sua
produção é de pequena escala, pois enfrenta barreiras climáticas, pouca disponibilidade de
terra e tecnologia, o que os leva a procurar outros meios de complementar a renda.
Em 2006, no Brasil, a Lei n. 11.326 definiu a agricultura familiar com as características
que envolvem o desenvolvimento de atividades econômicas no meio rural e que atendem a
alguns requisitos básicos, tais como: não possuir propriedade rural maior que quatro módulos
fiscais; utilizar predominantemente mão d e obra da própria família nas atividades
econômicas de propriedade; e possuir a maior parte da renda familiar proveniente d as
atividades agropecuárias desenvolvidas no estabelecimento rural (BRASIL, 2006).
Os dados do Censo Agropecuário no Brasil, realizado no ano de 2006 pelo IBGE,
apontavam que, aproximadamente, 84,4% dos est abelecimentos agropecuários do país são
tipificados como de agricultura familiar. Em termos absolutos, eram 4,36 milhões de
estabelecimentos agropecuários, entretanto, a área ocupada pela agricultura familiar é de
apenas 80,25 milhões d e hectares, o que co rrespondia a 24,3% da área total ocupada por
estabelecimentos rurais (IBGE, 2006).
Entende-se que a agricultura familiar para o país é essencial para a produção de
alimentos e para a economia primária. No entanto, a restrição nos fatores de produção impõe
limitações na produção de culturas comerciais em larga escala quando comparados à
agricultura patronal, o que não os coloca em diferenciação na cadeia produtiva. Assim, as
famílias rurais com unidades de produção de pequena escala precisam diversificar a produção

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