As interfaces entre a Geografia e as Políticas Públicas

AutorPaulo Henrique de Carvalho Bueno, Antônia Jesuita de Lima
Páginas140-160
http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2014v15n106p140
As interfaces entre a Geografia e as Políticas Públicas
Interfaces between Geography and Public Policies
Paulo Henrique de Carvalho Bueno
1
Antônia Jesuita de Lima2
Resumo
Este artigo discute os possíveis diálogos entre a Geografia e as Políticas Públicas,
tomando como referência analítica a Agenda 2015, de Teresina (PI), e a literatura
sobre a temática. Entende-se que as materializações espaciais são fruto das inter-
relações dialéticas entre sociedade e natureza; com efeito, as políticas públicas
empreendidas sobre um dado espaço (re)constroem práticas socioespaciais, que
tomam corpo nas formas e conteúdos do mesmo. Destarte, ao analisar a produção
espacial de uma realidade, pode-se fazer uso de decisões tomadas pelos entes
governamentais que (des)conformam a realidade social existente, evidenciando os
diálogos possíveis entre a Geografia e as Políticas Públicas.
Palavraschave: Geografia. Políticas Públicas. Espaço Geográfico.
Abstract
This article discusses the possible dialogue between Geography and Public Policy,
taking as reference analytical Agenda 2015 of Teresina (PI) and the literature on this
subject. It understand that the embodiments are the result of spatial interrelationships
between society, nature and society, so the policies undertaken over a given space
(re) construct socio-spatial practices that take shape in forms and contents. Thus,
when analyzing the production space of a reality it can use decisions made by
governmental entities that (dis) conform to existing social reality, showing the
possible dialogues between Geography and Public Policy.
Keywords: Geography. Public Policy. Geographical Space.
INTRODUÇÃO
As complexidades encerradas nos problemas cotidianos requerem das
ciências uma postura dialógica entre vários ramos do conhecimento, respeitando as
especificidades de cada campo disciplinar. Nesse sentido, supõe-se que as
interfaces entre a geografia e as políticas públicas podem auxiliar na análise das
problemáticas humanas, como no caso das questões urbanas. A suposição parte da
ideia de que as ações empreendidas pelo poder público se materializam sobre o
1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI). Professor de Geografia do IFPI.
E-mail: ph21bueno@hotmail.com.
2 Universidade Federal do Piauí (UFPI). Professora doutora associada ao Programa de Pós -
graduação em Políticas Públicas e ao Departamento de Serviço Social. E-mail: a.je.l@uol.com.br.
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não Adaptada.
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, Santa Catarina, ISSN 1984-8951
v.15, n.106, p. 140-160 jan./jun. 2014
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espaço, territorializando-se e imprimindo transformações nas diversas dimensões
das vidas contidas no território.
Este artigo procura analisar as complementaridades entre a geografia e as
políticas públicas, vislumbrando como os processos de sua formulação e execução
podem configurar, reconfigurar ou desconfigurar os (re)arranjos de produção
espacial. Destarte, busca-se evidenciar as articulações possíveis entre esses dois
campos disciplinares: a ciência geográfica, com suas análises acerca das
espacialidades das produções humanas impressas em formas que, dotadas de
conteúdos, conferem-lhe significações; e as políticas públicas, que se corporificam
em decisões dos agentes públicos, que promovem modificações na realidade e
fomentam mudanças nas produções espaciais. Nesse intento, parte-se do
entendimento que
[...] as políticas públicas repercutem na economia e nas sociedades, daí por
que qualquer teoria da política pública precisa também explicar as inter-
relações entre Estado, política, economia e sociedade. Tal é também a
razão pela qual pesquisadores de tantas disciplinas economia, ciência
política, sociologia, antropologia, geografia, planejamento, gestão e ciências
sociais aplicadas partilham um interesse comum na área e têm
contribuído para avanços teóricos e empíricos (SOUZA, 2006, p. 6).
No campo interdisciplinar, encerrado nos estudos das políticas públicas, a
geografia pode contribuir com o estudo das espacialidades das ações humanas. É
que, como diz Santos (2006, p. 13), “a geograficidade se impõe como condição
histórica”, pois
[...] nada considerado essencial hoje se faz no mundo que não seja a partir
do conhecimento do que é território. O território é o lugar em que
desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as
forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do hom em plenamente se
realiza a partir das manifestações de sua existência. A geografia passa a
ser aquela disciplina tornada mais capaz de mostrar os dramas do mundo,
da nação, do lugar (SANTOS, 2006, p. 13).
É nesse âmbito que se pretende discutir, explorando uma categoria central na
geografia, a produção do espaço e as políticas públicas, tomando como referência o
documento resultante dos debates em torno da elaboração do Plano Diretor de
Teresina (PD), intitulado “Teresina Agenda 2015 Plano de Desenvolvimento
Sustentável”.

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