As maiores ocupações urbanas da cidade de Campinas-SP: resistências e permanência

AutorHelena Rizzatti
CargoUniversidade Estadual de Campinas, Campinas/SP, Brasil
Páginas183-204
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Revista de Ciências HUMANAS, Florianópolis, v. 49, n. 2, p. 183-204, jul-dez 2015
As maiores ocupações urbanas da cidade de Campinas-SP:
resistências e permanência
The largest urban occupations of Campinas City (SP): Resistance and
permanency
http://dx.doi.org/10.5007/2178-4582.2015v49n2p183
Helena Rizzatti
Universidade Estadual de Campinas, Campinas/SP, Brasil
Este artigo parte da compreensão da cidade de
Campinas-SP enquanto uma cidade corporativa e
analisa as duas maiores ocupações de terras urbanas
ocorridas em seu território, no ano de 1997. Nessa
década se destaca essa forma de luta por moradia
marcando o mais recente período de periferização
da cidade. Para tal análise, descrevemos a instalação
de infraestrutura e de serviços urbanos informais
realizadas pela própria população ocupante, deno-
minadas de “resistências”; e expomos como se deu
a permanência nesses lugares através do processo
de urbanização formal e regularização das áreas a
partir da implantação do Programa de Urbanização
de Assentamentos Precários do Programa de Acele-
ração do Crescimento (PAC), do Governo Federal,
denominado, no âmbito municipal, como Projeto
Social Vip-Viracopos. Buscamos assim demonstrar
de que maneira a população de baixa renda vem se
organizando para ter acesso à moradia e ao seu en-
torno nas grandes cidades e metrópoles brasileiras.
Palavras-chave: urbanização corporativa; ocupa-
ções urbanas; resistência; regularização; Campi-
nas-SP
This article seeks to highlight the ways in
which workers, who have occupied land for hou-
sing construction in Uberlândia (MG) between
the years 2000-2012, experienced some conditions
and productive relations. We discuss certain inter-
pretations of the “struggle for the city”, the “stru-
ggle for urban reform”, the “struggle” itself for a
“better life” or yet their “only alternative of life”,
in the attempt to explain the direct action of these
workers. From dimensions established between
housing, employment and struggle, we locate sub-
jects as agents of the ways they handle their own
experiences and how they elaborate discourses
about their own understanding on economy, politi-
cs, community and justice.
Keywords: Urban occupations - Workers - Agency.
Introdução
Ao analisarmos a história das sucessivas transformações da cidade de
Campinas-SP nota-se a constituição de uma importante densidade técnica,
cientíca e informacional (SANTOS, 1996) ao longo do século XX. Cam-
pinas participa ativamente da nova divisão territorial do trabalho fundada na
variável informação, acolhendo objetos (formas geográcas) e ações (com
destaque para as normas) condizentes com esta nova vaga de modernizações.
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RIZZATTI, Helena. As Maiores Ocupações Urbanas da Cidade de Campinas-SP: Resistências...
A cidade é hoje lugar para diversas redes privadas e públicas que perpassam
o território brasileiro e um centro de informações cientícas e econômicas
(SANTOS, 2011).
Ao abrigar diversas redes globais, busca-se reorganizar Campinas para
incorporar a nova divisão territorial do trabalho baseada na informação (LO-
JKINE, 1995), posto que a cidade se destaca como polo tecnológico nacional
(IBGE, 2011). Ao mesmo tempo, Campinas conhece acentuada expansão da
pobreza e é, hoje, a terceira cidade com maior número absoluto de população
residente em favelas e ocupações do Estado de São Paulo, e a décima quinta
do Brasil (Ibid.). A cidade acompanha, assim, o processo de urbanização bra-
sileiro, tendo se transformado nas últimas décadas numa cidade corporativa
e fragmentada (SOUZA, 2008; RIZZATTI, 2014). Com base nisso, temos a
intenção de apresentar neste artigo a atual periferização da cidade, resultado
de uma urbanização corporativa (SANTOS, 2008, p.120) que a caracteriza,
através da análise da formação e permanência das duas maiores ocupações
urbanas de Campinas. Segundo Santos,
Em primeiro lugar, o arranjo espacial das cidades muda, tanto
pelo seu tamanho consideravelmente aumentado, como pela sua
localização mais dispersa. Mudam, sobretudo, suas funções. As
cidades são, de um lado, os elos de uma cooperação e de uma
regulação que se devem dar em escala nacional, a serviço das
atividades com dimensão nacional, isto é, as grandes empresas
e o Estado. Por isso, devem ser localmente equipadas para o
exercício dessa vocação ‘nacional’, indispensável à realização
do modelo nacional adotado. As respectivas tarefas, considera-
das menos relevantes [como a moradia da população de baixa
renda], agregam-se, por necessidade funcional, mas de forma
subordinada, às tarefas hegemônicas. A cidade se dene segun-
do as modalidades dessas combinações dependentes do grau de
desenvolvimento regional e da amplitude da respectiva divisão
territorial do trabalho. As atividades não-hegemônicas são, em
geral, deixadas à ‘espontaneidade’ do mercado. De um ponto de
vista político, as atividades centrais, isto é, programadas como
condição de êxito para o projeto nacional, são as que interessam
ao próprio Estado e às corporações. Essas atividades centrais
se dispõem em rede e sistema, interessando à totalidade dos
núcleos urbanos, não importa onde estejam localizados. É nesse
sentido que podemos falar de uma urbanização corporativa.
(SANTOS, 2008, p. 120)
As ocupações de terras urbanas, cada vez mais presentes nas metrópoles
e grandes cidades do Brasil a partir do início dos anos 1980 (RODRIGUES,
1988), são manifestações dessa urbanização corporativa em andamento no
País. Entendemos as ocupações urbanas como a rápida ação de construção de
moradias, em terrenos privados e públicos, dentro do perímetro urbano, pela

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