Austregésilo de Athayde: breve história de um palácio
Autor | José Roberto Fernandes Castilho |
Páginas | 97-120 |
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[ III ]
Austregésilo de Athayde:
breve história de um palácio72
A nossa Academia Brasileira tem já o seu
aposento como deve saber. Não é separado
como quiséramos; faz parte de um grande
edifício dado a diversos institutos.
Machado de Assis,
Carta a Joaquim Nabuco, 28 de junho de 1904
1 Introdução
Chamada de Casa de Machado de Assis, a Academia foi criada
em 1896/1897 na sede da Revista Brasileira à travessa do Ouvidor,
nº 31, no Rio de Janeiro. O “grande edifício” a que se refere Machado
de Assis na epígrafe foi uma das primeiras sedes da Academia Bra-
sileira de Letras – ABL, um prédio da União Federal73 já demolido
72 Publicado, em versão anterior e reduzida, no jornal de opinião Pio-pardo, em
maio de 2014.
73 O Decreto n. 726, de 8.12.1900, “autoriza o Governo a dar permanente instalação,
em prédio público de que possa dispor, à Academia Brasileira de Letras, fundada na
capital da República, e decreta outras providências”. Ele é devido, notadamente, a
José Roberto Fernandes Castilho
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situado em frente ao Passeio Público, no Rio de Janeiro, chamado de
Silogeu Brasileiro74. Com outras instituições (como o nome indica), ela
instalou-se em 1905 na ala direita do “próprio nacional” construído na
gestão Pereira Passos – depois de devidamente mobiliado à custa do
Erário –, e permaneceu lá até 1923, quando se mudou para um pré-
dio “separado”, como queria Machado, o Petit Trianon, que, ampliado,
hoje continua sendo a sede da instituição ou uma parte dela.
A história da atual sede da Academia Brasileira de Letras – ABL
será um bom exemplo de custo público para benefícios privados – e
por isso merecerá particular atenção daqueles que estudam a cida-
de e a conformação do espaço urbano. De acordo com seu estatuto,
de 1897, a academia é entidade privada que tem por m “a cultura
da língua e da literatura nacional” (art. 1º). Além disso, há nele a
previsão de que, “no caso de extinção da Academia, liquidado o seu
passivo, reverterá o saldo, que houver, em favor da União, se antes não
se resolver seja transferido a algum estabelecimento público ou outra
associação nacional que tenha ns idênticos ou análogos aos seus”
(art. 9º). Portanto, se extinta for a ABL, a União ou outra entidade
privada como ela (associação) poderá receber seus ativos, o que será
decidido pelos acadêmicos. Mas quais são os ativos da ABL?
Quem vê hoje, no centro do Rio de Janeiro, entre a Avenida
Presidente Wilson e a rua Santa Luzia, o imenso Palácio Austregé-
silo de Athayde, uma edicação brutalista de 30 andares projetada
pelo arquiteto Maurício Roberto e inaugurada em 1979, desconhece
quase sempre sua longa e tortuosa história que tem seu desenlace
no regime militar. Ela começa no Poder Público e começa porque,
na opinião do principal personagem dessa história – o presidente
Mário de Alencar, lho de José de Alencar que, tratalhava no Ministério da Justiça,
ingressando no ano seguinte na ABL.
74 Para vericar as várias sedes da ABL antes de 1923, v. José Murilo de Carvalho,
“As casas da Casa”.
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