Balanced Scorecard como modelo para implementar a internacionalização na universidade pública: um olhar interpretativo a partir da pesquisa participante

AutorRosenery Loureiro Lourenço, Maria Eugênia Petenuci
CargoDoutora em Ciências Contábeis (UFRJ)/Doutora em Ciências de Alimentos (UEM)
Páginas122-142
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Artigo
Original
Artigo
Original
Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 19, n. 50, p. 122-142, jan./mar., 2022.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DO I: https://doi.org/10.5007/2175-8069.2022.e78993
Balanced Scorecard como modelo para implementar a
internacionalização na universidade pública: um olhar
interpretativo a partir da pesquisa participante
Balanced Scorecard as a model to implement internationalization in public universities: an
interpretative glance through participative research
Balanced Scorecard como modelo para implementar la internacionalización en las universidades
públicas: una mirada interpretativa a través de la investigación participativa
Rosenery Loureiro Lourenço*
Doutora em Ciências Contábeis (UFRJ)
Professora do Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Regional e de Sistemas Produtivos
(UEMS), Dourados/MS, Brasil
rosenery@uems.br
https://orcid.org/0000-0002-7889-111X
Maria Eugênia Petenuci
Doutora em Ciências de Alimentos (UEM)
Técnica de Nível Superior lotada na Assessoria de Relações
Internacionais (UEMS), Dourados/MS, Brasil
maria.petenuci@uems.br
https://orcid.org/0000-0002-0689-1014
Endereço do contato principal para correspondência*
Rodovia Dourados-Itahum, km 12 Cidade Universitária, CEP 79804-970 – Dourados/MS, Brasil
Resumo
As universidades públicas brasileiras enquanto participantes do cenário neoliberal e globalizado são
conclamadas a dar muitas respostas diante das exigências contemporâneas, uma delas é a
internacionalização do ensino superior. O objetivo desse artigo é propor, sob uma lente interpretativa, um
modelo de Balanced Scorecard (BSC) para implementar a estratégia de internacionalização em
universidades públicas. Desenvolvido sob uma abordagem qualitativa, esse estudo de caso instrumental
usou a metodologia de pesquisa participante para construir um mapa estratégico, um painel de bordo e um
quadro de indicadores de desempenho para a internacionalização da universidade. A pesquisa oferece, por
meio do conceito de transferabilidade, a possibilidade de outras universidades refletirem e trabalharem seus
próprios planos sob uma perspectiva diferenciada da colonialidade do norte e mensurarem seu próprio grau
de internacionalização sem ficarem presas apenas aos rankings acadêmicos que a medem.
Palavras-chave: Balanced Scorecard; Universidade pública; Internacionalização do Ensino Superior;
Planejamento estratégico
Abstract
Brazilian public universities as participants in the neoliberal and globalized scenario are called upon to give
many answers in the face of contemporary demands, one of which is the internationalization of higher
education. So, this study proposed, under an interpretive view, a Balanced Scorecard (BSC) model for the
internationalization strategy of public universities. Developed under a qualitative approach, this instrumental
case study used the participatory research methodology to build a strategic map, a dashboard and a
framework of performance indicators for the internationalization of the university. The research offers,
through the concept of transferability, the possibility for other universities to reflect and work on their own
plans under a different perspective of northern coloniality and to measure their own degree of
internationalization without being tied only to the academic rankings that measure internationalization.
Keywords: Balanced Scorecard; Public University; Internationalization of Higher Education; Strategic
planning
Resumen
Las universidades públicas brasileñas como partícipes del escenario neoliberal y globalizado están llamadas
a dar muchas respuestas ante las demandas contemporáneas, una de las cuales es la internacionalización
de la educación superior. El objetivo de este artículo es proponer, bajo una lente interpretativa, un modelo
de Balanced Scorecard (BSC) para la estrategia de internacionalización de universidades públicas.
Rosenery Loureiro Lourenço, Maria Eugênia Petenuci
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Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 19, n. 50, p. 122-142, jan./mar., 2022.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DO I: https://doi.org/10.5007/2175-8069.2022.e78993
Desarrollado bajo un enfoque cualitativo, este estudio de caso instrumental utilizó la metodología de
investigación participativa para construir un mapa estrategico, un panel de control y tabla de indicadores de
desempeño para la internacionalización de la universidad. La investigación ofrece, a través del concepto de
transferibilidad, la posibilidad de que otras universidades reflexionen y trabajen sus propios planes bajo una
perspectiva diferente de la colonialidad del norte y midan su propio grado de internacionalización sin estar
atados únicamente a los rankings académicos que miden la internacionalización.
Palabras clave: Balanced Scorecard; Universidad pública; Internacionalización de la Educación Superior;
Planificación estratégica
1 Introdução
Os modelos gerenciais para acompanhamento da estratégia organizacional ganharam novo status
nas organizações públicas especialmente com a ascensão do neoliberalismo que, imbuído de significado
político, econômico e social, fortaleceu na gestão pública a adoção de ferramentas de gestão da iniciativa
privada sob as premissas da New Public Management (NPM) ao redor do mundo (Puello-Socarrás, 2017).
Quando aplicada irrefletidamente nas instituições de ensino superior (IES), a racionalidade
neoliberal torna-se “uma geradora de exclusão, atinge o pensamento pedagógico e trabalha em prol da
manutenção das desigualdades” (Martinez, 2017). Além de fomentar a terceirização e a precarização do
ensino superior (Andrade, Lima, Sales, & Souza, 2018), essa racionalidade tem promovido nas
universidades uma crescente pressão no trabalho, exigências por produtividade e adoção de indicadores de
avaliação. Esses elementos são sustentados por novos marcos conceituais baseados em planejamento
estratégico e responsabilização na gestão pública (Magro & Pinto, 2012; Silva & Carvalho, 2014). Isso
ocorre, pois, em termos amplos, o neoliberalismo pode ser visto como um programa político que se
operacionaliza no setor público por meio do gerencialismo e avança independente de coalizões
governamentais (Misoczky, Abdala, & Damboriarena, 2017).
O gerencialismo implementado via NPM inseriu inúmeros artefatos gerenciais para a estratégia e a
análise de desempenho das organizações públicas e, dentre eles, o Balanced Scorecard (BSC) se tornou
um dos modelos proeminentes para os sistemas de controles gerenciais dessas organizações (Cooper &
Hopper, 2007; Hopper, Tsamenyi, Uddin, & Wickramasinghe, 2009). O m odelo do BSC, construído
inicialmente para uso na iniciativa privada, possui 4 perspectivas de suporte à implementação da estratégia
organizacional - financeira, clientes, processos internos, aprendizado e crescimento - e cada uma delas é
organizada em torno de metas e indicadores (Kaplan & Norton, 1992, 1997). A perspectiva financeira é
composta por indicadores relacionados ao desempenho financeiro da empresa; a perspectiva clientes reúne
indicadores relacionados à satisfação e retenção dos clientes; a perspectiva processos internos refere-se a
indicadores que m ensuram a marca, a liderança no mercado de atuação, a qualidade de produtos e outros
aspectos estruturais da organização; a perspectiva aprendizado e crescimento foca na gestão dos
funcionários e os inúmeros aspectos ligados à qualidade da força de trabalho e liderança.
O BSC identifica a estratégia organizacional, os objetivos estratégicos e as relações de causa e
efeito entre as perspectivas por meio de um mapa estratégico. O processo de construção do BSC envolve
atividades de planejamento do projeto, definição dos objetivos estratégicos, escolha dos indicadores
estratégicos e elaboração do plano de implementação. Kaplan e Norton (1997) reconheceram que o modelo
inicial poderia ser aplicável às organizações públicas ou às sem fins lucrativos, no entanto, a perspectiva
financeira consistiria em uma limitação para essas instituições. Por isso, ao chegar no setor público o
modelo sofreu várias adaptações, os próprios idealizadores do modelo apresentaram um mapa estratégico
para o setor público desdobrado em 4 perspectivas - fiduciária, clientes, interna, aprendizado e crescimento
- ajustadas. Sauerbronn, Sauerbronn, Gangemi & Fernandes (2016) discorrem que alguns entes públicos no
Brasil utilizam o BSC a partir de três perspectivas, sociedade, processos internos e recursos, sob a
premissa de que essa adaptação metodológica traduz melhor os objetivos estratégicos de organizações
dessa natureza.
Muitas universidades públicas brasileiras têm proposto o modelo do BSC para implementação de
seus Planos de Desenvolvimento Institucional ou para implementação de estratégias de setores específicos
dentro da universidade (ver, por exemplo, Martins, 2015; Moreno, Costa, & Tessarini Junior, 2019). As
universidades públicas brasileiras estão inseridas no movimento global para a internacionalização da
universidade. A internacionalização da educação superior explora dimensões interculturais sob diversos
aspectos e tem na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) o principal
balizador para as ações de internacionalização da pós-graduação. Para as IES públicas, às vezes se torna
contraditório e desafiador responder aos imperativos da educação pública e aos imperativos e pressões da
educação mercadológica sustentada pelo neoliberalismo, que por vezes se impõe por meio de modelos
gerenciais como o BSC.
Recentemente, o governo do Estado de Mato Grosso do Sul implantou a gestão estratégica. A partir
do governo 2015-2018, uma gestão orientada por princípios de aprimoramento de desempenho do governo
e prestação de contas foi pactuada mediante a implantação da gestão por resultados e criação da Rede de

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