O Brasil diante das Crises de Hegemonia: um estudo comparativo da política externa de Rio Branco e Araújo

AutorMateus Mendes, Daniel Máximo Goés de Lima, Stéphany Brum e Maria Isabel Santos Lima
Páginas83-101
83
O BRASIL DIANTE DAS CRISES DE
HEGEMONIA:
MATEUS MENDES
DANIEL MÁXIMO GOÉS DE LIMA
STÉPHANY BRUM
MARIA ISABEL SANTOS LIMA
Introdução
O início do século XX marcou uma redenição nas diretrizes
da Política Externa Brasileira (PEB) a partir da perspectiva da ascensão
dos Estados Unidos como grande potência econômica e militar na esfera
global. Hoje, uma das características da ordem internacional é a ascensão
da China à condição de potência econômica a desaar a hegemonia dos
Estados Unidos da América (EUA).
Este trabalho terá como objetivo comparar as diretrizes de atuação
da PEB durante esses dois períodos de transição hegemônica. Para tal,
primeiro deniremos hegemonia e alguns aspectos das transições de
hegemonia Reino Unido-Estados Unidos e Estados Unidos-China. A
seguir, abordaremos aspectos da PEB conduzida por Rio Branco que se
relacionam à primeira transição de hegemonia sobre a qual o trabalho se
dedica. Finalmente, uma análise quantitativa e qualitativa dos discursos
e da agenda pública do atual chanceler Ernesto Araújo. Nesse caso, a
análise abrange os dez primeiros meses do governo Jair Bolsonaro, uma
vez que o mês de outubro de 2019 foi o último mês completo antes da
conclusão deste trabalho.
um estudo comparativo da política
externa de Rio Branco e Araújo
CAPÍTULO V
84
Estado, democracia e sociedade
Nosso principal questionamento é identicar as diferenças entre
as abordagens adotadas pela PEB nesses dois períodos. Nossa hipótese é
que, se antes a PEB buscou se antecipar à transição de hegemonia, hoje
ela se mantém junto à ordem em decadência.
O conceito de hegemonia
O conceito de hegemonia tem origem na Grécia Antiga e possuía
duas ambiguidades: poderia signicar tanto “domínio” quanto “liderança
e não ca claro se ela resultaria do consenso, da coerção ou de uma
combinação entre ambos. Porém, resta claro que se tratava um fenômeno
de ordem interestatal (AGNEW, 2005). No início do século XX, Antonio
Gramsci transplantou esse conceito para a política interna, aplicando-o
à luta de classes dentro de um Estado nacional (COSPITO, 2017). Entre
os autores que se apoiam na acepção gramsciniana de hegemonia para
explicar os fenômenos internacionais, podemos destacar Agnew (2005)
e Arrighi (2013). Agnew (2005) explica que o hegemon é o Estado que
lidera os seus pares e que essa liderança é tributária do fato de ser ele
o mais importante da economia mundial, por isso, os demais Estados
buscariam mimetizar as práticas econômicas do hegemon. Arrighi
(2013) vai na mesma linha e dene hegemonia como a capacidade de um
Estado em liderar o sistema interestatal.
Além disso, Arrighi (2013) explica que hegemonias no sistema
capitalista coincidem com o que ele chamou de ciclos sistêmicos de
acumulação (CSA). A base teórica dos ciclos sistêmicos de acumulação
reside na extrapolação da fórmula geral de circulação do capital,
apresentadas por Marx, para a escala global.
A fórmula geral do capital apresentada por Marx (DMD’) pode ser
interpretada como retratando não apenas a lógica dos investimentos
capitalistas individuais, mas também um padrão reiterado do
capitalismo histórico como sistema mundial. O aspecto central desse
padrão é a alternância de épocas de expansão material (fases DM de
acumulação de capital) com fases de renascimento e expansão nanceira
(fases MD’). Nas fases de expansão material, o capital monetário “coloca

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