O Brasil no Século XXI nos circuitos da crise do capital: o modelo brasileiro de ajuste no foco da crítica

AutorAlba Maria Pinho de Carvalho - Eliana Costa Guerra
CargoUniversidade Federal do Ceará (UFC) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Páginas145-164
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O BRASIL NO SÉCULO XXI NOS CIRCUITOS DA CRISE DO CAPITAL: o modelo brasileiro de ajuste
no foco da crítica
R. Pol. Públ., São Luís, v. 19, n. 1, p. 41-60, jan./jun. 2015
O BRASIL NO SÉCULO XXI NOS CIRCUITOS DA CRISE DO CAPITAL: o modelo brasileiro de ajuste no
foco da crítica
Alba Maria Pinho de Carvalho
Universidade Federal do Ceará (UFC)
Eliana Costa Guerra
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
O BRASIL NO SÉCULO XXI NOS CIRCUITOS DA CRISE DO CAPITAL: o modelo brasileiro de ajuste no foco da crítica
Resumo: O presente artigo tem por objetivo discutir a inserção do Brasil na crise estrutural do capital, enfocando, em particular, as
especificidades do modelo brasileiro de ajuste, empreendido ao longo do século em curso, a partir do delineamento de elementos
analítico que nos permitam adentrar na complexa teia da vida social brasileira dos últimos anos. Trata-se de um ensaio teórico
produzido a partir da leitura crítica de texto de analistas, pesquisadores e estudiosos da realidade brasileira contemporânea. Partimos
de dois pressupostos fundantes: estamos a viver um novo momento e uma nova temporalidade, a demarcar o sistema do capital; a
crise brasileira é uma encarnação peculiar da crise do capital em seus permanentes deslocamentos geográficos. Delineamos, à guisa
de conclusão que, enquanto particularidade da crise do capital, a crise brasileira expressa o esgotamento de um ciclo de ajustes, com
graves implicações sociais, políticas, econômicas, ambientais.
Palavras-chave: Crise estrutural, ciclos de ajuste, modelo rentista-extrativista, disputa política, crise de hegemonia.
THE BRAZIL IN THE XXI CENTURY IN CAPITAL CRISIS CIRCUITS: the brazilian model set in focus of criticism
Abstract: This article aims to discuss the inclusion of Brazil in the structural capital crisis, particularly focusing on the specifics of the
Brazilian model of adjustment, undertaken throughout the current century from the delineation of the analytical elements that allow us
to enter the complex web of the Brazilian social life in recent years. This is a theoretical essay produced from the critical reading of
texts made by analysts, researches and scholars of the contemporary Brazilian reality. Starting from two fundamental assumptions:
we are living a new moment and a new temporality demarcating the capital system. The Brazilian crisis is a peculiar incarnation of
the capital crisis in its permanent geographical dislocation. We outline, by means of conclusion that whilst a particular of the capital
crisis, the Brazilian crisis expresses the exhaustion of a cycle of adjustments with grave social, political, economic and environmental
implications.
Key words: Structural crisis, setting cycles, rentier-extractive model, dispute policy, crisis of hegemony.
Recebido em: 01.03.2015 Aprovado em: 23.03.2015.
42 Alba Maria Pinho de Carvalho e Eliana Costa Guerra
R. Pol. Públ., São Luís, v. 19, n. 1, p. 41-60, jan./jun. 2015
1 INTRODUÇÃO
Nossa pretensão neste artigo é discutir
a inserção do Brasil no contexto da crise que
circunscreve o capitalismo contemporâneo,
adentrando, assim, nas particularidades do modelo
brasileiro de ajuste, ao longo do século XXI. O
desafio é configurar elementos analíticos para pensar
a contemporaneidade brasileira, que, à primeira
vista, parece mostrar um país em pedaços, em meio
a reviravoltas permanentes!
Partimos de dois pressupostos fundantes:
nos últimos quinze anos, nos circuitos da crise do
capitalismo, estamos a viver um novo momento e
uma nova temporalidade, a demarcar a civilização
do capital1; a crise brasileira, cujas manifestações
mais evidentes aparecem nos últimos dois anos, a
se revelar com dramática intensidade, neste primeiro
semestre de 2015, é uma encarnação peculiar da crise
do capital que, em seus permanentes deslocamentos
geográficos, materializa-se na América Latina e,
particularmente, no País.
Assim, pensar o Brasil no século XXI,
em seu padrão de inserção no plano mais geral da
acumulação mundial, delineando tramas do chamado
modelo brasileiro, impõe a exigência de configurar
o panorama contemporâneo nesta civilização do
capital, enfocando a crise, em seu reordenamento
geopolítico mundial, destacando a posição brasileira
no continente latino-americano. O esforço é partir
do cenário global para abrir vias analíticas que
possibilitem tecer as necessárias mediações para
desvendar o enigma Brasil, nesta segunda década
dos anos 2000.
2 CRISE DO CAPITAL E REORDENAMENTO
GEOPOLÍTICO MUNDIAL: o padrão latino-
americano de inserção no capitalismo
contemporâneo
Em meados da segunda década do século
XXI, vivemos um novo tempo na civilização do
capital: mudanças nas configurações do capitalismo
em crise, com redefinição de estratégias; avanço
conservador, com emergência de novas direitas, a
expressarem o ódio de classe, sem pudor e limites;
marcha da intolerância em nível mundial; retorno, com
força, do neoliberalismo, após a crise de 2007-2009,
impondo uma agenda política de ajuste aos Estados;
expressões da luta de classes, em um contexto de
sublevações, com insurgência de revoltas populares;
mutações e reviravoltas sócio-políticas e culturais, a
colocar em xeque partidos, governos, esquerdas e
todas uma tradição política militante.
Análises desta contemporaneidade do
capital circunscrevem momentos-limite. Paulo
Arantes (2015, p. 26), assim avalia o sistema do
capital:
[...] um sistema que se decompõe
sem a contribuição de qualquer
inimigo estruturalmente designado
para abatê-lo [...] a gangrena de
um sistema que não cresce mais e
só produz dívidas se alastra sendo
todos a favor [...] o capitalismo está
morrendo de uma overdose de si
mesmo.
E sustenta, então, o autor, ser
[...] totalmente vã a procura do
sujeito antagônico clássico, pois
seu apodrecimento ocorre pela
inexistência de qualquer molécula
anticapitalista. (ARENTES, 2015,
p. 26).
Cândido Grzybowski (2015, p. 2),
intelectual militante, emergente do campo das ONGs,
diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas (IBASE) também é categórico em sua
avaliação:
[...] a verdade é que o mundo está
em crise larval, mais forte aqui e
acolá, menos em outros lugares,
mas em crise profunda. Não há
saída à vista. A civilização capitalista
está se esgotando. A possibilidade
de um capitalismo verde, real, é
como postergar uma crise terminal.
É insustentável o modo como
produzimos as condições de vida
num planeta ameaçado em sua

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