O caminhar de deus na terra: arte, religião e filosofia na construção política do estado

AutorHugo Rezende Henriques
Páginas142-148
O CAMINHAR DE DEUS NA TERRA: ARTE, RELIGIÃO E
FILOSOFIA NA CONSTRUÇÃO POLÍTICA DO ESTADO
Hugo Rezende Henriques1
1. INTRODUÇÃO
A preocupação central da Filosofia sempre será a possibilidade
de se compreender, por meio da Razão, o fato do Absoluto. Deste
ponto de vista, nunca seria muito repetir a brilhante exposição de
Hegel que nos clarifica que o Absoluto pode ser captado pelo
humano de três formas: na intuição estética da Arte; na
representação mítica da Religião; e pela lógica racional (e, portanto,
dialética) da Filosofia.2 O Absoluto não é apenas o Belo da Arte, o
Bom da Religião, ou o Justo da Filosofia. É, inegavelmente, tudo
isso. Mas é também aquilo que dá sentido ao Humano, isto é, que
confere profundidade à mera existência – é, em síntese, o que de
infinito a Razão humana capta para escapar de sua intolerável
finitude. É ele que permite ao homem escapar do vazio
existencialista. É o Eros que se opõe àquela pulsão de Thanatus.3
A questão que nos colocamos, portanto, é que relação poderia
haver entre o Absoluto e a Política. Se, como dissemos, o Logos se
manifesta na intuição artística, na representação mítica, e na
racionalidade filosófica – estas manifestações tão sublimes e altivas
da Razão –, como poderíamos ousar aqui nos colocarmos a tarefa
de pensar uma relação entre tão perfeitas formas e esta
manifestação tão aparentemente comezinha e tão frequentemente
destratada que é a política?
2. DESENVOLVIMENTO
As Ciências do Espírito têm por tarefa primordial a produção de
diferentes níveis de realidades que só podemos desenvolver a partir
do vislumbre e da interpretação deste riquíssimo fenômeno que
denominamos “Cultura”. Uma tarefa que exige uma imensa dose de
politicidade! É justamente a identificação e principalmente a disputa

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