O capital simbólico de Medellin e as intervenções urbanas nas favelas cariocas / The symbolic capital of medellin and urban interventions in the favelas of Rio

AutorAny Brito Leal Ivo, Pasqualino Magnavita
CargoDoutora em Conservação e Restauro pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professora regular em regime de dedicação exclusiva da Faculdade de Arquitetura da Ufba e vice coordenadora da Residência em Arquitetura, Urbanismo e Engenharia do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBA. E-mail: anyivo@gmail.com - Doutor em ...
Páginas513-537
Revista de Direito da Cidade vol. 08, nº 2. ISSN 2317-7721
DOI: 10.12957/rdc.2016.19129
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Revista de Direito da Cidade, vol. 08, nº 2. ISSN 2317-7721 p p.513-537 513
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O texto busca refletir sobre algumas intervenções e projetos visitados em Medellin, apresentados
mundialmente como ícones de um novo tempo. Essas intervenções tornam-se referenciais dos
projetos de transformação do urbano e avançam como ações constituintes de uma dinâmica de
cidade inserida em uma política de segurança mundialmente divulgada e reconhecida como
exemplar. Esse texto busca não apenas a descrição e análise desses projetos, mas também objetiva
estabelecer nexos às recentes intervenções do Estado brasileiro nas favelas do Rio de Janeiro,
como partes de uma ação de segurança pública baseada na repressão/pacificação territorial - q ue
sob diversos aspectos, especialmente os mais estruturais, se relacionam com Medellín.
- Urbanismo, Violência, Medellin, Pacificação, Rio de Janeiro.
This paper aims to reflect on some interventions and projects visited in Medellin, presented
worldwide as icons of a new time. These interventions become benchmarks of urban
transformation projects and advance as a constituent stock of a city dynamically inserted into a
security policy globally publicized and recognized as exemplary. This text searches not only the
description and analysis of these projects, but also aims to establish links to the recent intervention
by the Brazilian State in the favelas of Rio de Janeiro, as part of a public safety action based on
repression / territorial pacification - that in many ways, especially the structural, relate to Medellin.
Urban Violence, Medellin, Pacification, Rio de Janeiro.
1 Doutora em Conservação e Restauro pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professora regular em
regime de dedicação exclusiva da Faculdade de Arquitetura da Uf ba e vice coordenadora da Residência em
Arquitetura, Urbanismo e Engenharia do Programa de Pós-g raduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBA.
E-mail: anyivo@gmail.com
2 Doutor em Arquitetura pela Universidade de Roma (1 964). Integra o quadro docente permanente do
Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBA.
E-mail: pasqualinomagnavita@terra.com.br
Revista de Direito da Cidade vol. 08, nº 2. ISSN 2317-7721
DOI: 10.12957/rdc.2016.19129
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Revista de Direito da Cidade, vol. 08, nº 2. ISSN 2317-7721 p p.513-537 514
A cidade de Medellín (Colômbia), até pouco tempo considerada capital mundial das drogas,
hoje é apresentada como modelo de intervenção urbana eficaz para a pacificação de áreas antes
controladas pelo tráfico de drogas. Como urbanistas e arquitetos da cidade, ao visitar Medellín,
indagamos sobre os significados dessas intervenções urbanas realizadas nas comunas e
apresentadas ao mundo como modelo exitoso de projetos de transformações do urbano. E mais,
indagamos: Em que medida é possível traçar nexos entre o modelo de Medellín e as intervenções
em outras cidades, a exemplo da pacificação do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro (Brasil)?
São essas as questões que irão nortear este texto, que faz da descrição das visitas
realizadas a Medellín e das percepções por elas suscitadas seu objeto de análise3. O texto irá
refletir sobre algumas intervenções e projetos visitados nessa cidade, apresentados mundialmente
como ícones de um novo tempo, e, num segundo momento, estabelecer nexos com as recentes
intervenções urbanísticas realizadas no Morro do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro.
Pinçar uma cidade das mais violentas do mundo da pobreza e do tráfico de drogas e torná-
la um exemplo de recuperação para o mundo inteiro, para além das funções urbanísticas materiais
e inclusivas, constitui uma experiência reforçadora de um marketing de cidade e afirma a
possibilidade, no nível da formação subjetiva da população da e na cidade, de transformar as
cidades em espaços pacificados. Sob a égide do capital, verifica-se a existência de uma
multiplicidade incomensurável e uma patente heterogeneidade de cidades violentas no mundo,
muitas das quais, agora, na era informacional e sob a égide das “Sociedades de Controles”, buscam
se afirmar como imagens e espetáculos atraentes, mediante construções simbólicas midiáticas que
as configuram como redutos “pacificados”.
A história de Medellín, segunda cidade mais importante da Colômbia, é marcada por
“guerra e paz”. Nos anos 80, a “aparente ‘paz’ urbana, mantida através de estratégias de controle e
repressão da dissidência política nas cidades, foi rompida pela guerra declarada pelas autoridades
de segurança aos narcotraficantes.” (COSTA; RAMÍREZ, 2012: 118).
A indústria da droga se consolidou como vetor econômico e político no campo e na cidade,
desenhando e redesenhando as dinâmicas urbanas da década de 80 em Medellín quer seja pela
população expulsa do campo, que migrou para cidade, quer seja pelas oportunidades de negócios
relacionados à economia da droga. No final dos anos 80 e início dos anos 90, com a desarticulação
do cartel de Medellín, os grupos do narcotráfico se aproximam dos grupos em confronto armado
no campo, originando as milícias urbanas. É nesse contexto que o Estado reage de forma
3 Os autores deste texto visitaram Medellín em 2009 e em 2014.

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