Capitalismo tem a ver com felicidade?

AutorRômulo de Andrade Moreira
CargoProcurador do Ministério Público da Bahia
Páginas132-137
132 REVISTA BONIJURIS I ANO 31 I EDIÇÃO 658 I JUN/JUL 2019
SELEÇÃO DO EDITOR
Rômulo de Andrade Moreira PROCURADOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA BAHIA
CAPITALISMO TEM A VER
COM FELICIDADE?
Crescimento de produção, consumismo, livre mercado,
neoliberalismo. O que tudo isso diz sobre bem-estar segundo
Yuval Noah Harari?
Oprofessor Yuval Noah Harari, da Uni-
versidade Hebraica de Jerusalém, é
doutor em história pela Universidade
de Oxford e especializado em história
mundial. Autor de vários livros e escri-
tos, alguns dos quais já traduzidos para o portu-
guês, ele costuma tratar de questões históricas
de uma maneira bastante abrangente, relacio-
nando a história com a biologia, por exemplo.
Um dos seus livros mais conhecidos, que se
tornou best-seller internacional, publicado em
mais de quarenta países, chama-se Sapiens:
Uma Breve História da Humanidade1.
Trata-se de obra “realmente impressionan-
te, de se ler num fôlego só, pois questiona nos-
sas ideias preconcebidas a respeito do univer-
so”2, “ilumina as grandes questões da história e
do mundo moderno”3 e foi escrito “de verdade,
com gosto, clareza, elegância e um olhar clíni-
co para a metáfora4.
Neste pequeno trabalho, serão abordadas
apenas quatro questões muitíssimo bem ana-
lisadas pelo autor israelense: o capitalismo, o
livre mercado, o consumismo e a felicidade.
Ele faz essa análise de uma perspectiva abso-
lutamente original e surpreendente.
Harari começa por lembrar o economista es-
cocês Adam Smith, considerado o “pai da eco-
nomia moderna” e, certamente, um dos mais
influentes teóricos do liberalismo econômico.
Smith, em sua monumental A Riqueza das Na-
ções, publicada em 1776, apresentou um argu-
mento que pareceu a Harari ser visionário:
Quando um proprietário de terras, um tecelão ou um
sapateiro tem mais lucro do que precisa para manter
a própria família, ele usa o excedente para empregar
mais assistentes, a fim de aumentar seu lucro. Quan-
to mais lucro tiver, mais assistentes pode empregar.
Daí decorre que um aumento no lucro dos empreen-
dedores privados é a base para o aumento na riqueza
e prosperidade coletivas.5
Ora, diz Harari, “o que Smith afirma é, na
verdade, que a ganância é algo bom e que ao
ficar mais rico eu benecio a todos, e não só a
mim mesmo”. Logo, “egoísmo é altruísmo”.
Com isso, Smith “negou a contradição entre
riqueza e moralidade e escancarou os Portões
Rev-Bonijuris_658.indb 132 24/05/2019 10:53:36

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT