Carioca será o primeiro rio tombado do estado

Uma piscina em pedra e concreto, no alto dos Guararapes, virou point para a garotada da comunidade do Cosme Velho. Os meninos do vizinho Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, pegam carona na diversão, que inclui saltos precisos na direção do tanque, construído pelo programa Favela Bairro, da prefeitura, no início dos anos 2000. A água que garante o mergulho vem do Rio Carioca, que, naquele ponto, ainda tem uma aparência límpida, como na nascente dentro do Parque Nacional da Tijuca, um pouco acima das Paineiras.

Com cerca de 5,6 quilômetros de extensão, segundo a Fundação Rio Águas, o Carioca serpenteia a céu aberto a Favela dos Guararapes, onde lixo e mata se acumulam, e passa encoberto por um trecho da comunidade da Vila Cândido. Da lá, segue seu curso pelo Cosme Velho, voltando a ficar visível no Largo do Boticário e no terminal de ônibus do bairro, envolto em grossas muralhas e já dando sinais de poluição. O rio percorre, então, submerso, uma densa área urbana até desaguar, turvo e malcheiroso, na Baía de Guanabara, na altura do Flamengo.

Pequeno, degradado, mas de grande importância histórica, ambiental e cultural, o Carioca, considerado o primeiro provedor de água potável do Rio, será precursor também ao virar patrimônio do estado. O presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), Marcus Monteiro, espera concluir o processo de tombamento este mês.

" Com a medida, será possível cobrar, com mais vigor, sua despoluição e sua valorização em todos os sentidos " diz Marcus.

Um passo para mudar o cenário foi dado. Há três meses, começaram obras na Caixa da Mãe D'Água e do Reservatório Carioca, de 1744 e 1865, respectivamente, no alto da Rua Almirante Alexandrino. Bens tombados pelo Inepac, estão desativados há décadas e malconservados. A restauração deve ser concluída este semestre. O projeto, porém, é mais amplo, conforme seu idealizador, o deputado André Corrêa (DEM), que foi secretário estadual do Ambiente. Com R$ 10,2 milhões em recursos do Fundo da Mata Atlântica, de compensação ambiental, ele prevê, numa segunda etapa, levar água do Guandu a comunidades do Cosme Velho, ainda abastecidas pelo Carioca. Essa obra deve terminar em 18 meses.

" Acabaremos com tudo que sangra o rio para aumentar sua vazão. Ele não vai mais servir para abastecimento " diz Corrêa.

Sem guardiões e com lixo

Líder comunitário que nasceu e mora nos Guararapes há 68 anos, Francisco da Silva, o Duca, conta que o Carioca já teve um volume de água muito...

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