Caros amigos
Autor | Francesco Carnelutti |
Ocupação do Autor | Advogado e jurista italiano |
Páginas | 15-19 |
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Devo à paz de sua casa hospitaleira a possibilidade de ter continuado meditando a respeito de um tema altíssimo; tão alto que talvez não seja possível chegar mais acima na es cala do saber ou, ao menos, na de saber o Direito. Para ninguém senão para vocês poderiam ir dedicadas as breves páginas em que se recolhem estas meditações.
O problema da pena, que é no fundo, uma servidão, é, e não pode deixar de ser, o problema da liberdade. Constitui uma casualidade que o fruto, já maduro, tenha caído da árvore entre vocês? “Liberi, come gli avi; e prià morte che, vivendo, il servaggio”*.
Não há casualidades na vida, senão só um divino desígnio que os homens, com frequência, não conseguem decifrar. O fruto separou-se da árvore com a brisa, que me reanimou em Val di Muggio quando, em um meio-dia de domingo, a bondade me veio ao
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encontro, entre um repicar de sinos e de tosquias, com a antiga vestidura de um pastor.
O pequeno livro tem, infelizmente, o defeito dos últimos meus: o pensamento destilado, o mesmo que a água: não é boa para o consumo sem uma certa preparação. É necessário que o leitor tenha paciência e “se vire” como puder. Ademais, nos meus livros mais recentes (par ticularmente na Introdução ao Estudo do Direito), poder-se-ão encontrar os elementos para isso. Em certo momento do seu desenvolvimento, ocorre, a certos pensadores, um fato singular e, além de tudo, desagradável: toleram cada vez menos a confusão das palavras. Do que quase não me atrevo a aduzir um grandíssimo exemplo que, ainda reconhecendo as distâncias, constituiria um ato de soberba da minha parte; mas, finalmente, o desdém de Beethoven pelo “maldito instrumento” o experimento eu também. Da servidão da linguagem, que é um corpo, o espírito gostaria de se ver livre; também este é um anseio de liberdade, da suprema liberdade, que daqui
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a pouco me espera, se Deus me ajudar a saber merecer.
Faço esta observação a fim de pedir perdão a vocês e aos demais leitores, por não ter sabido escrever um livro preparado, diria, para a degustação. Porém, não estando destinada esta obra a entreter, mas a fazer pensar por sua vez àqueles aos quais incumbe a tremenda responsabilidade do poder, espero que o defeito não o faça completamente inútil.
Redigido e publicado entre vocês, o livro está desti
nado a voltar à Itália, onde, em grande parte, foi idealizado. Na reconstrução de nossas leis, que – com a ajuda de Deus – se deverá fazer, o Direito Penal...
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