Caso 12. Negrinho 'Puxa Saco'

AutorAntonio Carlos da Carvalho Pinto
Ocupação do AutorProfessor de Direito Processual Penal. 'Ex' Coordenador de Direitos e Prerrogativas da OAB/SP.
Páginas143-146

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Uma das melhores e mais "badaladas" padarias de São Sebastião era e continua a ser a "Elite", localizada no centro nervoso da cidade praiana.

Numa tarde de final de semana, época de temporada, hora de grande movimento, uma viatura da Polícia Militar encostou à frente do estabelecimento e dois policiais se dirigiram ao balcão onde um deles solicitou ao balconista que lhe servisse um pedaço de "torta de frango".

Dado o número de clientes, acatando ordem do proprietário, o balconista condicionou a guloseima à "ficha do caixa", onde, naquele momento, havia "fila" formada por nove ou dez fregueses.

Irritado, o policial "furou a fila" e, mesmo advertido pelo "caixa", solicitou a "ficha para a torta", no que foi atendido.

Sucedeu que, tendo havido majoração do preço do fran-go, a "torta" havia sofrido reajuste, de tal modo que de 1,20 passou para 1,50.

Ignorando a majoração, o policial pretendeu pagar com uma nota de um real e, ao ser comunicado do novo preço da

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mercadoria, literalmente indignado, de público e em público, o militar exclamou que 1,50 era um "roubo", insistindo em pagar somente um real.

Nesse momento, o "caixa" não entregou a "ficha" e o policial, "descompensado", exclamou:

- Você não passa de um "Negrinho Puxa Saco", não sei por que não dou um tiro na sua cara.

Acontece que o "Negrinho Puxa Saco", chamado Severino, é um baiano, de Chique Chique, sangue quente, por isso que, numa fração de segundos, sacou um "oitão" e, sem pestanejar, atingiu a testa do policial que, embora socorrido, não resistiu.

Enquanto o outro policial, auxiliado por fregueses, prestava socorro ao colega alvejado, Severino fugiu, por forma e modo incomum, para não dizer, inacreditável.

Ao invés de ir para sua casa ou de parentes, ao revés, por incrível, o baiano se escondeu na copa de uma árvore, próxima da padaria, de onde pôde assistir a "chuva" de policiais virando o estabelecimento ao avesso, de ponta cabeça.

Como não houvesse sido encontrado em lugar algum, pelas onze horas da noite, informados que o "fusca" do Severino estava estacionado próximo da padaria, os policiais simplesmente incendiaram o veículo, dando por encerradas as diligências, naquele final de tarde.

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Três dias após, fui contratado pelo dono da padaria, de nome Paulo, apresentei o homicida e acompanhei a instrução, desde a fase policial até a judiciária.

Correu boato na cidade no sentido de que, tão logo Severino transpusesse quaisquer das divisas da...

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