Caso 20. Mãe possessiva, Sogra dominadora

AutorAntonio Carlos da Carvalho Pinto
Ocupação do AutorProfessor de Direito Processual Penal. 'Ex' Coordenador de Direitos e Prerrogativas da OAB/SP.
Páginas209-214

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O réu era casado, tinha uma filha e havia sido demitido do cargo de Escrivão de Polícia sob a acusação de haver matado sua mulher, filha única, de uma alta funcionária do Tribunal de Justiça que, além de "força e poder", nutria verdadeiro ódio pelo genro.

Fui ao cartório do júri para examinar um processo quando uma Escrevente, chamada Candinha, veio ao balcão, convidando-me para "tomar um café", adiantando que desejava falar comigo, em particular.

Examinei os autos que tinha ido ver e em seguida fomos tomar café.

Nesse ensejo, a Escrevente relatou que estava trabalhando num "feito" movido contra um rapaz, que conheceu no "balcão" e que ali comparecia para perguntar sobre o "andamento" do seu processo e ela estava penalizada, porque o promotor, Rubens, por duas vezes havia requerido Prisão Preventiva e havia confidenciado que ele "precisava" conse-

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guir mandar o "cara" para a cadeia, por não aguentar mais a mãe da vítima, que, semanalmente, "enchia-lhe o saco".

Candinha ainda comentou que havia conversado com o advogado do réu, dele sabendo que iria renunciar, por conta de falta de pagamento dos honorários avençados.

Adiantei que não trabalhava de graça e que, se o tal Escrivão me pagasse e se acertasse com o colega, aceitaria "substabelecimento do mandato", ou seja, transferência do instrumento de Procuração.

Corria boato, "à boca pequena", que, embora casado, Candinha e o referido promotor eram amantes.

Dias depois, o réu veio ao escritório, assinou o necessário "Contrato de Honorários" e, tendo apresentado o subs-tabelecimento do colega, entrei no caso.

O réu tinha uma "boite", bem próxima da "Esquina da Avenida São João", na época, sucesso cantado pelo baiano Caetano Veloso.

Estudei o processo, a instrução estava concluída, adveio a sentença de pronúncia e o acusado foi mandado a júri, mas era permitida a liberdade provisória, ex vi a já mencionada "Lei Fleury".

O julgamento foi soberbamente noticiado e muito complicado.

Durante a sessão, em meio à colheita da prova, chegou ao conhecimento do juiz-presidente comentário do meio po-

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licial, segundo o qual parentes da vítima, também policiais, matariam o réu.

Em face dessa informação, embora o plenário estivesse superlotado, o Magistrado determinou a evacuação do local e "revista" em todos os presentes.

Curioso que esse juiz indagou o promotor e depois a mim se estávamos armados.

Só faltou mandar "revistar"!

A sogra do réu foi ouvida em plenário e procurou...

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