Caso 22. Rubão da Sucata

AutorAntonio Carlos da Carvalho Pinto
Ocupação do AutorProfessor de Direito Processual Penal. 'Ex' Coordenador de Direitos e Prerrogativas da OAB/SP.
Páginas229-236

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Outro encontro de pedras!

O meu amigo Dr. Rubens, ex da Candinha, além de inteligência, cultura jurídica e simpatia, era de compleição atarracada, estatura média e cabelos crespos.

O Rubens, "da sucata", era ou ainda é loiro, um metro e oitenta, olhos azuis, dentes perfeitos e conservados, enfim, como se diz entre os criadores de equinos, um verdadeiro "garanhão de pista", lindo, sem defeito, comparável a qualquer modelo, para não dizer um "Apolo".

Casado, dois filhos e muito religioso, reconhecido na igreja como "papa-hóstia", de confessar e tomar comunhão mensalmente, não faltava às missas dominicais.

O "sucateiro" foi criado na profissão de seu pai, humilde "catador de latas", pelas ruas de Osasco, terra do deputado e "ex" Presidente da Câmara Federal, João Paulo Cunha, condenado pelo Supremo Tribunal Federal.

Muito conhecido na cidade, todos aplaudiam o sucesso socioeconômico do "Rubão da Sucata", que sucedeu o falecido progenitor nessa mesma atividade, percorrendo as

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ruas com a mesma "carrocinha" que lhe foi deixada como herança.

Tudo não obstante, a duras penas, sabe Deus quais e quantas, Rubens conseguiu terminar o segundo grau.

Seu vernáculo era compatível com a escolaridade, indene de vícios graves, exceção de verbalização recheada de gírias, muito comuns no meio policial e de fácil entendimento por qualquer criminalista que, como eu, não nasci em "berço de ouro", iniciando a advocacia criminal na "porta da cadeia", como antes referi.

Numa segunda-feira, Rubens procurou-me em São Paulo, contando que "estava fugido" porque dias antes havia matado um indivíduo que lhe houvera agredido "em público" e desejava ser apresentado à autoridade policial para se defender, livre da prisão, até porque, isso já estava "acertado" na Delegacia.

O cliente relatou que na sexta-feira, por volta de uma hora da manhã, voltava com sua mulher de uma festa de casamento quando, depois de guardar o carro, se deu conta de estar sem cigarros, motivo pelo qual, sozinho, foi até a padaria.

Rubens trajava terno de "Linho branco-120".

Essa cara indumentária era compatível com o "estilo de vida e poder econômico" do sucateiro, que havia construído um verdadeiro império no setor de coleta, separação e reciclagem de metais.

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Essa atividade empregava cerca de duzentas famílias, desde "catadores", "apanhadores" de panelas velhas, até metalúrgicos e empresas desse ramo, de onde as sobras e limalhas eram recolhidas, derretidas e...

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