Caso 4. Bronquite com vinho

AutorAntonio Carlos da Carvalho Pinto
Ocupação do AutorProfessor de Direito Processual Penal. 'Ex' Coordenador de Direitos e Prerrogativas da OAB/SP.
Páginas67-73

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Como já esclarecido, meu primeiro contato com a Tribuna da Defesa deu-se através de indicação do Pro-motor de Justiça José Henrique Pierangelli, mestre, escritor, doutrinador e terrível acusador, oficiante no 1º Tribunal do Júri da Capital.

Pierangelli era natural de Brotas e havia estudado no ginásio, em Dois Córregos, de onde emergiu relação de amizade que desbordou em apresentações aos juízes das Varas do Júri, de onde se seguiram centenas de nomeações para atuações como advogado dativo, trabalho gratuito e muito dignificante, aos réus pobres.

Daí minha experiência e nome profissional, única e verdadeira herança que pretendo deixar para ser inventariada e, se possível, bem consumida.

Casado, já tinha minha filha, Ana Flávia, residia em "apertamento" alugado, na Aclimação, não possuía carro, poucos livros, e o dinheiro dava para a "feira" e a "caipira" nos finais de semana.

Nessa aflitiva expectativa de vida profissional e, com experiência de apenas três júris como advogado dativo, recebi

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um telefonema de um colega de classe da "PUCCamp", de sobrenome Nogueira, chefe dos investigadores de Campinas, indicando-me para a defesa de um amigo.

Cuidava-se de um senhor, de nome Mário Tasso, que estava no Presídio do Carandiru, autuado em flagrante por haver matado o filho de um industrial.

O ex-colega investigador adiantou que "tomava conta" de uma poupança do "Velho" (o Mário), dinheiro decorrente de uma indenização, por acidente de trabalho, acrescentando que eu podia cobrar R$ 15.000,00, sem qualquer "comissão", eis que se cuidava de um amigo de família.

Na manhã seguinte, um sábado, fervendo de ânimo e já imaginando a aquisição do meu primeiro "pois é", fui de metrô para a Casa de Detenção, logo requisitando o preso Mário Tasso.

Passados quarenta minutos, o preso foi conduzido ao "parlatório", oportunidade em que lhe esclareci o motivo da minha presença, "a pedido" do Nogueira.

Mário tinha 58 anos, baixo, gordo, careca e demonstrava que era "maneta".

Contou que havia sido padeiro e perdera a mão na "masseira", aleijão que desaguou no homicídio do filho do industrial.

Esclareceu que morava sozinho, ao lado da indústria, sendo que, mesmo com enorme dificuldade, sem uma das mãos, lavava e esfregava suas roupas no tanque, dependurando-as no varal para secar.

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O "bendito" Futebol:

Na hora do almoço, os operários, liderados pela vítima, filho do industrial, jogavam bola que, habitualmente caía no seu quintal, sujando as...

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