Caso 6. Advogado desenhista

AutorAntonio Carlos da Carvalho Pinto
Ocupação do AutorProfessor de Direito Processual Penal. 'Ex' Coordenador de Direitos e Prerrogativas da OAB/SP.
Páginas87-90

Page 87

As pedras se encontraram...

Engenheiro-chefe de uma das maiores indústrias de metalurgia deste Estado, pelas 22h de um sábado, Valdir Ivo, de braços com sua namorada chamada Vera, linda, corpo escultural, deixava um restaurante situado na esquina das Ruas Augusta com Martinho Prado quando, no cruzamento, sinalizado por semáforo, o motorista de um carro ali parado, no aguardo do "sinal verde", olhou para a mulher e, chamando-a de "gostosa", sinalizou um beijo.

Valdir sacou uma "Beretta", pistola semi-automática.

Nesse fatídico instante, o motorista abriu a porta do carro, mas, antes dele descer, a namorada bateu na mão do namorado, com receio do pior, sendo que, destravada, a arma disparou, atingindo mortalmente um diretor de banco, de sobrenome Esteves, que ocupava o assento de passageiro.

O casal fugiu e fui procurado e contratado dois ou três dias após, logo providenciando a apresentação do autor do

Page 88

fato à autoridade policial do 4º D.P., onde estava instaurado o inquérito.

O "caderno inquisitorial" (nome afrescalhado de inquérito) já contava com o depoimento do motorista galanteador, relatando estória absolutamente mendaz.

O motorista negou o galanteio, dizendo que não abriu a porta do carro, mas que Valdir havia se aproximado da jane-la do motorista e, desse local, encostado, é que a arma havia sido disparada.

Detalhe:

A distância do atirador para a vítima foi o que acabou decidindo o julgamento.

Uma vida por alguns centímetros.

Antes mesmo da conclusão do inquérito, a família da vítima contratou os serviços do competente e renomado criminalista José Roberto Batochio, com quem iniciei minha carreira.

Denunciado o réu e admitido como Assistente do Minis-tério Público, a cada audiência, o "meu amigo-advogado" vinha com pedido de decretação de prisão preventiva, pleitos sempre endossados pelo Promotor de Justiça, mas que, sem justificativa legal para tanto, eram indeferidos.

Pronunciado, Valdir Ivo foi submetido a júri popular e a acusação foi dividida entre o Promotor Dr. Leon Vidal e o colega.

A vítima era casada e, à Sessão de Julgamento, fizerem-se presentes a viúva, que, na ocasião dos fatos estava grávi-

Page 89

da de oito meses, bem como a sogra, mãe da vítima, contratantes do advogado-assistente.

Em plenário, a namorada confirmou a versão do réu.

Em meio ao discurso do causídico-assistente, com maestria e competência, o acusador auxiliar focou a prematura viuvez e o fato da criança haver nascido sem conhecer o...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT