De Certas Aberrações dos Clientes, das quais os Juízes se Devem Lembrar como Atenuantes dos Advogados

AutorPiero Calamandrei
Ocupação do AutorJornalista, Jurista, Político e Docente universitário italiano
Páginas93-103

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É surpreendente a constância com que os clientes, ao escolherem os advogados, procuram encontrar neles as qualidades opostas àquelas que são apreciadas pelos juízes.

Os juízes gostam dos advogados discretos e lacônicos e os clientes querem-nos verbosos e prepotentes; os juízes detestam os “habilidosos” e os clientes veem na abundância de expedientes de habilidade a manifestação mais preciosa do gênio da advocacia; os juízes preferem o defensor que, na exposição da sua tese, conta com a excelência objetiva dos seus argumentos e não

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com o peso da sua autoridade pessoal, e os clientes procuram seus defensores entre deputados e professores.

Mas o mais estranho é o seguinte: quando o juiz, por qualquer motivo pessoal, tem necessidade de recorrer à justiça e de ter um advogado, cai na mesma aberração dos clientes profanos e vai procurá-lo, de candeia acesa, entre aquela categoria de advogados da qual, como juiz, sempre desconfiou.

O que quer dizer “grande advogado”? Quer dizer advogado útil aos juízes, para os ajudar a decidir de acordo com a justiça, e útil ao cliente, para o ajudar a fazer valer suas razões.

Útil é o advogado que fala apenas o estritamente necessário, que escreve clara e concisamente, que não estorva o Pretório com a grandeza da sua personalidade, que não aborrece os juízes com sua prolixidade nem os coloca desconfiados com suas sutilezas – isto é, exatamente o contrário do que certo público entende por “grande advogado”.

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Diz o cliente ao escolher o defensor: – “Eloquente e espertalhão: ótimo advogado!”. Diz o juiz ao negar-lhe a razão: – “Tagarela e trapalhão: péssimo advogado!”.

Certos clientes vão contar ao advogado seus males, na ilusão de que, ao contagiá-lo, fiquem subitamente curados. E saem sorridentes e leves, convencidos de que reconquistaram o direito de dormir sossegados a partir do momento em que encontraram quem assumiu a obrigação profissional de passar as noites agitadas por sua conta.

Certa noite, encontrei no teatro um cliente que nesse dia viera ao meu escritório confessar-me que estava à beira da falência. Parecia contrariado e surpreendido por me encontrar naquele lugar de prazer e, de longe, durante o espetáculo, olhava-me com certo mau modo, como para me fazer compreender que, dada a ruína que o ameaçava, não estava certo que eu pensasse em divertir-me, em vez de sentir o elementar dever de ficar em casa a suspirar por ele.

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Quando explicas a certos clientes que os...

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