Ciberativismo e a Dimensão Comunicativa dos Movimentos Sociais: repertórios, organização e difusão

AutorLivia Moreira Alcântara
CargoDoutoranda em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
Páginas315-338
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2016v15n34p315
315315 – 338
Ciberativismo e a Dimensão
Comunicativa dos Movimentos Sociais:
repertórios, organização e difusão
Lívia Moreira de Alcântara1
Resumo
Importantes atualizações das Teorias dos Movimentos Sociais a partir dos aspectos comunicati-
vos da ação coletiva vêm sendo realizadas em torno das discussões referentes ao ciberativismo
reduzindo o abismo existente entre os estudos em comunicação e movimentos sociais. No
entanto, boa par te dos trabalhos pode ser caracterizada por um foco excessivo nas tecnologias
e pela instrumentalização da noção de comunicação. Esse artigo repensa as teorizações da ação
coletiva e dos movimentos sociais a partir da comunicação, realizando dois esforços: primeiro por
meio de uma análise de caráter histórico, que busca demonstrar a centralidade da dimensão co-
municativa nas práticas dos movimentos sociais em momentos anteriores a internet, construindo
uma perspectiva não instrumental da comunicação; segundo, propõe uma interpretação de viés
teórico que possibilita olhar de forma integrada para três eixos analíticos das teorias da ação
coletiva e dos movimentos socais: os repertórios de ação coletiva, os processos de organização
e as dinâmicas de difusão.
Palavras-chave: Ciberativismo. Comunicação digital. Movimentos sociais. Sociologia dos
movimentos sociais.
Ciberativismo e as Teorias dos Movimentos Sociais
Desde a década de 90, as ações coletivas e os movimentos sociais têm sido
transformados pelas possibilidades de comunicação via internet e outras novas
tecnologias da comunicação e da informação (NTICs). Ocupações virtuais de
sites de corporações ou governos, ações hackers, petições on-line, mobilização
e coordenação de protestos através da utilização da internet, cobertura jorna-
lística alternativa e digital, são alguns exemplos. Assim, a utilização de NTICs
pelos movimentos sociais, vem “mudando a maneira pela qual os ativistas
1 Doutoranda em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro (IESP/UERJ).
Ciberativismo e a Dimensão Comunicativa dos Movimentos Sociais: repertórios, organização e difusão | Lívia Moreira de
Alcântara
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comunicam, colaboram e manifestam(GARRETT, 2011, p. 2002). Embora
esses processos recebam nomeações distintas, podem ser agrupados em tor-
no do nome ciberativismo, entendido de forma ampla, como a utilização de
NTICs por movimentos sociais e ativistas.
Compreender como a utilização da comunicação digital vem alterando as
dinâmicas da ação coletiva e dos movimentos sociais tem se tornado, assim,
uma questão importante para os atores e um desao para o campo cientí-
co. Algumas contribuições instigantes têm sido realizadas buscando superar
a lacuna existente entre os estudos de comunicação e as teorizações sobre a
ação coletiva e os movimentos sociais. Nas Teorias dos Movimentos Sociais,
a comunicação foi uma dimensão pouco explorada e abordada de forma pro-
blemática. Quase sempre lançou-se mão de uma concepção instrumental
da comunicação, que a restringiu aos instrumentos tecnológicos utilizados
pelos atores para executarem suas metas (CARROLL; HACKETT, 2006;
DOWNING, 2008; MAIA, 2009; TRERÉ, 2014)2.
Recentemente, contribuições interessantes têm surgido a partir de uma
atualização dos conceitos das teorias da ação coletiva e dos movimentos so-
ciais no contexto de comunicação digital, gerando termos como esfera públi-
ca interconectada (LANGMAN, 2005) e repertórios de ação digital (LAER;
AELST, 2010). Embora essas teorizações coloquem debates importantes, elas
têm sido construídas de forma rígida e muitas vezes instrumentalizando a no-
ção de comunicação a partir de um foco excessivo na tecnologia em si. Lang-
man (2005) reica a internet, como um espaço no qual as pessoas negociam
entendimentos, consensos, críticas, propõem alternativas e realizam metas;
reica também os “movimentos sociais interconectados” como atores que por
si só são descentralizados, democráticos e difíceis de serem controlados. Laer
e Aelst (2010), apesar de contribuírem com uma descrição dos repertórios de
ação do Movimento Antiglobalização, propõem uma interpretação baseada
em uma distinção rígida entre espaço on-line e o-line e referenciada mais nas
tecnologias do que no uso/criatividade dos atores. Pereira (2008) possui um
2 Como exceção podemos citar alguns autores desenvolveram abordagens mais complexas da comunica-
ção, como Atton (2002) que versou sobre a relação entre comunicação e estrutura organizativa dos ati-
vistas; Downing et al. (2001) que propõem pensar a comunicação em seus múltiplos formatos; e Peruzzo
(2004) que investiga movimentos de comunicação comunitária e popular no contexto de lutas democráticas
latino-americanas.

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