Cidade, cultura e turismo: para além do entretenimento

AutorInês Ulhôa - Karina Dias
CargoJornalista e mestranda no Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília - Professora doutora no Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília
Páginas146-162
Cidade, cultura e turismo: para além do entretenimento
City, culture and tourism: beyond entertainment
Inês Ulhôa
1
Karina Dias
2
Resumo
Este artigo tem por objetivo traçar algumas considerações acerca da relação
possível entre cidade, cultura, memória e turismo na produção dos espaços voltados
a atividades turísticas. Trazemos o debate com o propósito de discutir se a
paisagem urbana apropriada e ressignificada pelo turismo está implicada nas tramas
da ordem global capitalista.
Palavras-chave: Cidade. Turismo. Cultura. Memória. Entretenimento.
Abstract
This article aims to bring some considerations about the possible relationship
between city, culture, memory and tourism in the production of spaces geared to
tourism activities. Our purpose is to discuss if the urban landscape appropriate and
re-signified by tourism is implicated in the plots of the global capitalist order.
Key words: City. Tourism. Culture. Memory. Entertainment.
A cada instante, há mais do que o olho pode ver,
mais do que o ouvido pode perceber, um cenário ou
uma paisagem esperando para serem explorados.
Kevin Lynch, A imagem da cidade
1 Introdução
O turismo, uma singularidade dentre tantas atividades exercidas pelos
homens, serve para que as pessoas possam conhecer lugares, culturas, além de
contribuir para a compreensão do lugar que ocupamos e da percepção de nós
mesmos, como sujeitos ativos, capazes de interagir no mundo. E se pensarmos o
turismo como um fenômeno pluridimensional, que envolve outros fenômenos sociais,
1
Jornalista e m estranda no Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília. E-mail:
inesulhoa@gmail.com.
2
Professora doutora no Centro de Excelência em Turismo da Univ ersidade de Brasília. E-mail:
karinadias.net@gmail.com.
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não Adaptada.
Resumo
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.12, n.101, p.xxxxx ago/dez 2011
culturais, políticos e econômicos, principalmente na sociedade contemporânea,
guiada pelos progressos técnico-científicos e com o advento da internet, com seu
enorme fascínio sobre as culturas humanas, em que as distâncias são encurtadas,
unindo lugares e pessoas, disponibilizando o conhecimento e proporcionando nos
comunicarmos abertamente para o mundo, temos uma práti ca complexa, que exige
uma compreensão da produção dos espaços pelo homem.
Nessa contextualidade, pode-se verificar o caráter contingente da acumulação
do capital na criação de grandes cidades e sua rápida urbanização e a consequente
concentração no espaço de forças produtivas e do poder político e econômico.
Ademais, a reflexão e o debate sobre as cidades revelam simultaneamente a
crescente necessidade de rever conceitos, tal como a globalização
3
(e seu uso
político) e a emergência de valorização do lugar ou dos lugares c omo reveladores
das realidades sociais.
Se a cidade é obra dos homens, seu cenário es sempre se modificando,
conjugado às forças sociais que se interagem pelas relações cotidianas. Kevin
Lynch (2010, p.1), ao traçar a fisionomia das cidades, do fato dessa fisionomia ter ou
não importância e da importância de modificá-la, analisa como a paisagem urbana
também é algo a ser visto e lembrado. Cada cidadão, diz ele, tem vastas
associações com alguma parte de sua cidade, e a imagem de cada um está
impregnada de lembranças e significados.
A imagem da cidade é alinhavada em meio à inventividade dos que a
habitam. Mas como o mundo dos homens, de acordo com o pensamento marxista, é
resultado da atividade dos próprios homens, a subjetividade e a objetividade se
determinam mutuamente e sintetizam o ser social, que possui a crença na
transformação e superação da contradição antagônica opressor/oprimido... Nessa
paisagem urbana não somos meros observadores, somos parte. Por isso, devemos
compreendê-la. E se a mudança faz parte necessária da experiência cultural fora da
qual não somos, como diz Paulo Freire (2000, p.31), o que se impõe a nós é tentar
entendê-la na ou nas suas razões de ser. Isso significa a importância de
3
Stuart Hall, em seu livro A identidade cultural na pós-modernidade (2006, p. 67) pergunta o que
pode estar tão poderosamente deslocando as i dentidades culturais nacionais [...]? Para ele, é a
globalização, e recorre à concepção que Anthony Macgrew (1992) dá ao termo: a globalização se
refere àqueles processos atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais,
integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo,
tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais interconectado.

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