O conceito de classe social no marxismo: correntes e atualidade

AutorRafael Grohmann
CargoUniversidade de São Paulo (USP). Professor do Complexo Educacional FMU-FIAM-FAAM e integrante do Centro de Pesquisas em Comunicação e Trabalho (CPCT / ECA-USP)
Páginas3-18
http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2013v14n105p3
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, ISSN 1984-8951
v.14, n.105, p.3-18, ago/dez 2013
O conceito de classe social no marxismo: correntes e atualidade
The concept of social class in the marxism: currents and present
Rafael Grohmann
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Resumo
O artigo discute a relevância e a atualidade do conceito de classe e se propõe a
pensar o conceito de classe social em algumas correntes do marxismo, a partir de: i)
o próprio Marx; ii) Nico Poulantzas; iii) Adam Przeworski; iv) Erik Olin Wright e o
Marxismo Analítico; e v) Edward Palmer Thompson e os Estudos Culturais de
Birmingham.
Palavras-chave: Classe. Marx. Marxismos.
Abstract
This article discusses the relevance and importance of the current class concept and
proposes to think about the concept of social class in some currents of marxism,
from: i) Marx; ii) Nico Poulantzas; iii) Adam Przeworski; iv) Erik Olin Wright and
Analytical Marxism; and v) Edward Palmer Thompson and Cultural Studies in
Birmingham.
Keywords: Class. Marx. Marxism.
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não
Adaptada.
Introdução
O conceito de classe social não é estudado hoje do mesmo modo como há 30
anos, seja pelo deslocamento da pesquisa para outras identidades e sujeitos
coletivos a partir de categorias como raça, gênero ou etnia, seja somente por negar
categorias coletivas como passíveis de explicar a realidade. O conceito de classe,
para Therborn (2012a, p. 118), deslocou-se “por sua derrota na luta de classes
capitalista, mas também porque os desenvolvimentos da demografia pós -industrial o
desalojaram de sua centralidade teórica ou geográfica”.
1 Universidade de São Paulo (USP). Professor do Complexo Educacional FMU-FIAM-FAAM e
integrante do Centro de Pesquisas em Comunicação e Trabalho (CPCT / ECA-USP). E-mail: rafael-
ng@uol.com.br
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, ISSN 1984-8951
v.14, n.105, p.3-18, ago/dez 2013
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Pinto (2008) afirma que há encobrimentos lexicais que tendem a negar
conceitos como “exploração” ou “classe social”, despolitizando o debate e ocultando
as dinâmicas do conflito. Pois, se toda fluidez e toda interação são exaltadas nessa
estação da moda, há conceitos que são colocados como “mortos-vivos” (BECK,
1999), como se relegados ao segundo plano do cenário científico; como se fossem
peças de museus ou ultrapassados para a compreensão da realidade atual. Ao lado
de “ideologia”, o conceito de classe social é um desses exemplos. Há discursos,
como o liberal (HAYEK, 1990), que afirmam que as classes sociais não existem, e o
que existem são indivíduos soltos no mundo.
Cria-se, então, um “mito de uma sociedade sem classes”, como diz Munt
(2000). Segundo Harvey (2013, p. 324), “classe é uma categoria que os poderes
instituídos não querem que ninguém leve a sério”. Ele afirma que temos de perder o
medo de falar e de mobilizar estratégias em torno da “guerra de classes”. Para
Murdock (2009, p. 33),
a classe pode ter sido abolida retoricamente em muitos textos, mas uma
quantidade impressionante de evidência empírica confirma que ela
permanece como uma força essencial para modelar a maneira como
vivemos hoje. É extremamente irônico que a „virada‟ teórica pós-moderna,
que impulsionou questões de identidade, consumo e diferença para o centro
da atenção acadêmica, coincidiu quase exatamente com a revolução
neoliberal em diretrizes sociais e econômicas. É fácil „pensar que a classe
não importa‟ se você permanece relativamente „não-afetado por privações e
exclusões que ela causa‟.
Ou, como diz Eagleton (2012, p. 134), não é “só porque os presidentes de
empresa hoje podem usar tênis, ouvir Rage Against the Machine e implorar a seus
empregados para os chamarem de „fofos‟”, que a classe social foi varrida da Terra.
Therborn (2012b), em artigo recente na revista New Left Review, se questiona se
haverá um “século de classe média”, principalmente, considerando o papel dos
BRICs na reconfiguração da geopolítica contemporânea. “A personalidade social do
novo século ainda está para ser determinada, mas o conceito de classe certamente
será de vital importância” (THERBORN, 2012b, p. 37). Ou seja, parece haver um
renovado interesse na questão de classe.
Nos últimos anos, o conceito de classe retorna à cena com certo verniz, com
a imagem do “Brasil novo”. Com o crescimento econômico do país e o incentivo ao
crédito, uma parcela da população viu aumentar sua renda e seu poder de consumo.
Com isso, houve o aparecimento de termos como “nova classe média” ou “nova

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