Classe média e lutas sociais no capitalismo contemporâneo

AutorFernanda Iracema Moura Arnaud
CargoAssistente social. Mestre e Doutoranda em Serviço Social (PPGSS-UFPA)
Páginas98-114
CLASSE MÉDIA E LUTAS SOCIAIS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
1
Fernanda Iracema Moura Arnaud
2
Resumo
Este artigo objetiva problematizar a posição política da classe média nas lutas sociais contemporâneas, refletindo
criticamente se ela tende a se aproximar da classe trabalhadora ou da classe burguesa, diante do acirramento dos conflitos
sociais na atual fase capitalist a. É baseado em revisão bibliográfica de categorias caras à teoria social crítica,
particularmente: classe social, classe média, luta e consciência de classe. O artigo evidencia que a classe média não dispõe
de unidade político-ideológica e sua posição nas lutas políticas é definida pelo movimento histórico determinado pelas
contradições e pelos conflitos entre as classes fundamentais do antago nismo social, sendo imprescindível a consciência de
classe para desmistificar os processos ideológicos que impedem a unificação das lutas sociais.
Palavras-chave: Classe social. Classe média. Lutas Sociais. Capitalismo Contemporâneo.
AVERAGE CLASS AND SOCIAL STRUGGLES IN CONTEMPORARY CAPITALISM
Abstract
This article aims to problematize the political position of the middle class in contemporary social str uggles, critically reflecting
on whether it tends to approach the working class or the bourgeois class, given the intensification of social conflicts in the
current capitalist phase. It is based on a bibliographic review of categories dear to critical social theory, particularly: social
class, middle class, str uggle and class consciousness. The article shows that the middle class does not have a political -
ideological unity and its position in political struggles is defined by the historical move ment determined by the contradicti ons
and conflicts between the fundamental classes of social antagonism, and class consciousness is essential to demystify
ideological processes. that impede the unification of social struggles.
Keywords: Social class. Middle class. Social struggles. Contemporary Capitalism.
Artigo recebido em: 24/11/2021 Aprovado em: 20/05/2022
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v26n1p98-114
1
O presente trabalho foi elaborado com financiamento de bolsa de estudos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior/Brasil (CAPES), no âmbito do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia
(PROCAD Amazônia), processo nº 88881.318045/2019-01.
2
Assistente social. Mestre e Doutoranda em Serviço Social (PPGSS-UFPA). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas
“Trabalho, Estado e Sociedade na Amazônia” (GEP-TESA/UFPA/Brasil). E-MAIL: fernandamour a315@gmail.com.
Fernanda Iracema Moura Arnaud
99
1 INTRODUÇÃO
Este artigo propõe a problematizar a posição da classe média nas lutas sociais no
capitalismo contemporâneo, fundamentado em revisão bibliográfica de autores clássicos e
contemporâneos da teoria social crítica. É resultado de estudos e pesquisas realizados no âmbito do
Grupo de Estudos e Pesquisas “Trabalho, Estado e Sociedade na Amazônia/GEP Terça", vinculado ao
Programa de Pós-Graduação em Serviço Social/PPGSS-UFPA, e do Grupo de Estudos do Trabalho e
dos Conflitos Sociais, vinculado ao Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de
Lisboa. Neste sentido, pretende trazer subsídios para responder ao seguinte questionamento: a classe
média tenderia a se aproximar da luta da classe trabalhadora ou da classe burguesa diante do
acirramento dos conflitos sociais na atual fase do capitalismo?
A resposta a essa questão requer considerar que os conflitos de classe têm origem na
agudização das contradições sociais inerentes ao desenvolvimento histórico do modo de produção
capitalista, assentadas na assimetria entre o desenvolvimento das forças produtivas e das relações de
produção (MARX, 1999). Em contextos de crise do capitalismo, essas contradições atingem o seu grau
máximo.
Essas crises, portanto, são inerentes ao modo de produção capitalista, cuja determinação
é estabelecida por sua contradição essencial, qual seja: a produção socializada da riqueza e a
apropriação privada desta pelos capitalistas. Nas palavras de Mészáros (2011, p. 795), a crise é “o
modo natural de existência do capital”, correspondendo a “maneiras de [o sistema] progredir para além
de suas barreiras imediatas e, desse modo, estender com dinamismo cruel sua esfera de operação e
dominação”.
Sabe-se que, desde a década de 1970, o capitalismo vive uma crise que vem se
rastejando até os dias atuais, com inflexões profundas no mundo do trabalho, especialmente na forma
de produção e reprodução social, assim como na complexificação da estrutura de classes
(MÉSZÁROS, 2011). Após uma onda longa de crescimento (MANDEL, 1985), que se manifestou nos
trinta anos gloriosos do fordismo-taylorismo e do Estado de bem-estar social nas economias centrais,
seguiu-se “a curva decrescente da eficácia econômico-social da ordem do capital” (NETTO, 1995, p.
69), a qual fermentou o surgimento e avanço das ideias neoliberais.
Ocorre que as medidas neoliberais que vêm sendo adotadas por governos de vários
países não têm se mostrado exitosas para a recuperação das taxas de lucro. Segundo Therborn (2012,
p. 39), o neoliberalismo consiste em uma “superestrutura ideológica e política que acompanha uma
transformação histórica do capitalismo moderno”, mas que está em declínio. Anderson (2012, p. 22-23),

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT