Colocação pronominal no século 19 segundo o Conselheiro Zacarias

AutorMaria Tereza de Queiroz Piacentini
CargoLicenciada em letras e mestre em educação pela UFSC. Revisora da Constituição de Santa Catarina de 1989
Páginas284-284
REVISTA BONIJURIS I EDIÇÃO 650 | FEVEREIRO 2018
284
Maria Tereza de Queiroz Piacentini
LICENCIADA EM LETRAS E MESTRE EM EDUCAÇÃO PELA UFSC. REVISORA DA CONSTITUIÇÃO DE SANTA CATARINA DE 1989
linguabrasil@linguabrasil.com.br
NÃO TROPECE NA LÍNGUA
Colocação pronominal no século 19
segundo o Conselheiro Zacarias
O uso dos pronomes oblíquos átonos me,
te, se, o(s), a(s), lhe(s) e nos em relação ao
verbo é bastante livre no Brasil: depende
muito do ritmo, da harmonia, da ênfase e
principalmente da eufonia. Como a pronúncia
brasileira é diferente da portuguesa, a
colocação pronominal aqui também difere
da de Portugal. O português brasileiro é hoje
essencialmente proclítico, isto é, preferimos
usar o pronome na frente do verbo na maior
parte do tempo, mesmo em início de frase.
Mas nem sempre foi assim.
No século 19 havia uma predominância da
ênclise, mas com bastante liberdade de uso,
conforme podemos observar no “Relatório
do Presidente da Província do Paraná, o
Conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcellos,
na abertura da Assembleia Legislativa
Provincial”, de 15 de julho de 1854.
O Cons. Zacarias (Valença/BA, 1815-1877), que
já governara as províncias de Piauí e Sergipe,
tinha 38 anos de idade quando veio instalar
e presidir a província do Paraná, em 1853. Foi
deputado pela Bahia, professor de Direito
Administrativo e presidente do Conselho de
Ministros do Imperador D. Pedro II em três
períodos.
Das seis páginas desse relatório – que meu
pai, sobrinho-bisneto de Zacarias, me deixou
de herança – extraí as seguintes frases
(atualizadas ortografi camente para melhor
compreensão), nas quais destaco também
as palavras que hoje em dia consideramos
“atrativas” do pronome átono:
Grande júbilo toca-vos pela distinta honra de
serdes os primeiros representantes da nova
província.
Cumpria-me, senhores, ver-vos reunidos
o mais cedo possível para ter, nos
representantes da província, o apoio de que
tanto necessitava; mas ocorreram razões que
impeliram-me a usar da faculdade, concedida
pelo art. 24 § 2 do ato adicional, de adiar a
assembleia. Essas razões, eu substanciei-as na
portaria de adiamento de 4 de maio último.
Celebraram-se eleições de senador, deputado
geral, e membros da assembleia legislativa
provincial.
[...] os tristes acontecimentos de S. José
dos Pinhais em 7 de setembro de 1852,
pensarem que os partidos aqui medem-se
ordinariamente pela força  sica.
A segurança individual, se não é qual convém
e deseja-se, pode-se afi rmar que é superior ao
que permitem os escassos recursos.
Um pardinho, seu escravo, matou-o a facadas.
E na verdade assim foi, pois descobriu-se o
cadáver do infeliz sepultado defronte de sua
casa, e soube-se que, recolhido uma noite
ao seu quarto, foi, quando profundamente
dormia, acometido pela mulher, que
descarregou-lhe um golpe de machado, de
que instantaneamente perecera, ajudada
nesse horrível crime, e no ato de sepultar o
cadáver, pela fi lha, que acompanhou-a na
fuga.
O vasto poncho, de que serve-se a maioria dos
habitantes.
Banhada, de um lado pelo Oceano, onde
lhe não faltam bons portos, de outro
pelo majestoso Paraná, [...] com terrenos
fertilíssimos, que prestam-se aos mais
abundantes e variados produtos.
A catástrofe de fevereiro felizmente não tem-
se reproduzido.
O assunto continua na próxima edição.
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Revista_Bonijuris_NEW.indb 284 23/01/2018 21:08:15

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