Competitividade de Mercado e Gerenciamento de Resultados: um estudo sob a ótica da teoria da contingência

AutorGeovanne Dias de Moura - Tiago Francisco de Camargo - Antonio Zanin
CargoDoutor em Ciências Contábeis e Administração - Mestrando em Ciências Contábeis e Administração pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó, UNOCHAPECÓ - Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS
Páginas86-101
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Resumo
O estudo objetiva verificar a influência da competitividade
de mercado no gerenciamento de resultados das companhias
abertas listadas na B3, sob a ótica da Teoria da Contingência.
Realizou-se pesquisa descritiva, documental e quantitativa. A
amostra da pesquisa foi composta por 277 companhias em
2010, 284 em 2011, 288 em 2012, 289 em 2013 e 287 em
2014. Os dados foram obtidos por meio do banco de dados
Economática. Como proxy para competitividade, foi utilizado
o índice de Herfindahl-Hirschman (HHI). O gerenciamento de
resultados foi analisado por meio dos accruals discricionários
baseados no modelo Jones Modificado (DECHOW; SLOAN;
SWEENEY, 1995). Os resultados revelaram que no setor
econômico de petróleo, gás e biocombustíveis havia
ocorrência de um monopólio, nos setores de tecnologia da
informação e de telecomunicações os índices indicaram
oligopólios e nos demais setores apontaram para uma
estrutura de concorrência perfeita. Quanto ao gerenciamento
de resultados, constatou-se que a maioria das empresas
realizaram gerenciamentos de baixas proporções. Por fim, os
resultados evidenciaram uma relação não significativa entre
competitividade e gerenciamento de resultados. Portanto,
não se pode afirmar que a competitividade é um fator
contingencial que influencia na prática do gerenciamento
de resultados.
Palavras-chave: Competitividade de mercado.
Gerenciamento de resultados. Teoria da Contingência.
Abstract
The objective of this study is to verify the influence of
market competitiveness on the earnings management of
listed companies listed on the B3, under the perspective
of Contingency Theory. Descriptive, documentary and
quantitative research was carried out. The survey sample
consisted of 277 companies in 2010, 284 in 2011, 288 in 2012,
289 in 2013 and 287 in 2014. The data were obtained through
the Economática database. The Herfindahl-Hirschman
Index (HHI) was used as a proxy for competitiveness.
Earnings management was analyzed using the Modified
Jones model (DECHOW; SLOAN; SWEENEY, 1995). The
results showed that in the oil, gas and biofuels economic
sectors there was a monopoly, in the sectors of information
technology and telecommunications the indexes indicated
oligopolies and in the other sectors pointed to a perfect
competition structure. Regarding earnings management, it
was verified that the majority of the companies carried out
management of low proportions. Finally, the results showed
a non-significant relationship between competitiveness and
earnings management. Therefore, it cannot be said that
competitiveness is a contingency factor that influences the
practice of earnings management.
Keywords: Market competitiveness. Earnings management.
Contingency Theory.
DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8077.2017v19n49p86
Recebido em: 09/11/2016
Revisado em:16/08/2017
Aceito em:30/08/2017
Competitividade de merCado e
GerenCiamento de resultados:
um estudo sob a ótiCa da teoria da ContinGênCia
Mercat competitivity and result management:
A study under the optic of the contingency teory
Geovanne Dias de Moura
Doutor em Ciências Contábeis e Administração. Professor do Mestrado em Ciências Contábeis e Administração da
Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ. Chapecó, SC. Brasil. E-mail: geomoura@terra.com.br
Tiago Francisco de Camargo
Mestrando em Ciências Contábeis e Administração pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ.
Chapecó, SC. Brasil. E-mail: tiago.camargo@unochapeco.edu.br
Antonio Zanin
Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Professor do Mestrado em Ciências
Contábeis e Administração da Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ. Chapecó, SC. Brasil.
E-mail: zanin@unochapeco.edu.br
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Revista de Ciências da Administração • v. 19, n. 49, p. 86-10 1, dez. 2017
Competitividade de Mercado e Gerenciamento de Resultados: Um Estudo sob a ótica da Teoria da Contingência
Revista de Ciências da Administração • v. 19, n. 49, p. 86-101, dez. 2017 87
1 Introdução
O ambiente institucional de um país é constituí-
do por um conjunto de regras, tanto políticas quanto
sociais, que consolidam a base para a produção, troca
e distribuição dentro de um sistema (CHAKRABARTY,
2009; SAHAYM; NAM, 2013). Quando o mercado
acionário é ativo, quando fornece maior proteção aos
investidores e quando as empresas enfrentam uma
competitividade de mercado mais acirrada em termos
de produtos e de fatores de capital e trabalho, o am-
biente institucional pode ser considerado forte (WEI
et al., 2011).
Por outro lado, um ambiente institucional consi-
derado frágil caracteriza-se por um mercado acionário
menos ativo e com uma proteção legal aos direitos de
propriedade significativamente inferiores (MORCK;
STANGELAND; YEUNG, 2000; BALL; ROBIN; WU,
2003; FEITO-RUIZ; MENÉNDEZ-REQUEIJO, 2010).
Feito-Ruiz e Menédez-Requejo (2010) mencionam que
nesse tipo de ambiente é comum ter companhias com
propriedade altamente concentrada, baixa captação
de recursos em mercado de ações, além de sistemas
de governança deficientes.
De modo geral, em um ambiente institucional
fraco, um conjunto de fatores contribuem para fra-
gilizar o ambiente, causar falhas no mercado e abrir
brechas para o comportamento oportunista de gestores,
aumentando, inclusive, a possibilidade da prática de
gerenciamento de resultados (DYCK; ZINGALES, 2004;
LIAO, LIN, 2016). O gerenciamento de resultados é um
conjunto de práticas ou escolhas contábeis adotadas
pelos gestores com objetivo de alterar informações
contábeis ou gerar resultados desejáveis (PAULO, 2007;
REZENDE; NAKAO, 2012).
Ressalta-se que ainda não há uma teoria especí-
fica que trate do gerenciamento de resultados, o que
existem são estudos que identificam situações nas quais
os gestores o praticam. Então, entender as possíveis
práticas de gerenciamento que podem ser amparadas
dentro das lacunas da legislação, o ambiente de incerte-
zas e de subjetividades ao qual o sistema empresa está
inserido, representa um fértil campo para investigações
(ROSA; TIRAS, 2013).
Nesse contexto, a competitividade pode ser um
fator contingencial que influenciará na prática do ge-
renciamento de resultados, pois, gestores de empresas
situadas em ambientes com maior nível de competi-
tividade estarão em um cenário menos propício para
práticas oportunistas, haja vista que a competitividade
pode exercer um efeito disciplinador (ALMEIDA, 2010;
LAKSMANA; YANG, 2014; LIAO, LIN, 2016).
Portanto, a Teoria da Contingência, que traz
em seu escopo o pressuposto de que as organizações
sofrem influências do ambiente onde estão inseridas,
conforme descreve Donaldson (1999), pode auxiliar
na análise da relação entre competitividade e geren-
ciamento de resultados. Sob este aspecto Lacombe e
Heilborn (2003, p. 428) esclarecem que “[...] a Teoria
da Contingência parte da premissa básica de que as
condições do ambiente é que causam as transforma-
ções no interior das organizações”.
Assim, surge a pergunta de pesquisa que orienta
este estudo: qual é a influência da competitividade de
mercado no gerenciamento de resultados das compa-
nhias abertas listadas na B3? Portanto, o estudo objetiva
verificar a influência da competitividade de mercado no
gerenciamento de resultados das companhias abertas
listadas na B3, sob a ótica da Teoria da Contingência.
Ressalta-se que a maioria das pesquisas empíricas
realizadas sobre gerenciamento de resultados associam
a sua prática a fatores como, por exemplo, adoção de
normas internacionais de contabilidade (GRECCO,
2013; ROSA; TIRAS, 2013; CARDOSO; SOUZA;
DANTAS, 2015; SILVA; FONSECA, 2015; LO, RAMOS;
ROGO, 2017), governança corporativa (MARTINEZ,
2011; ERFURTH; BEZERRA, 2013; PICCOLI; SOU-
ZA; SILVA, 2014; CHI et al., 2015; MAZZIONI et al.,
2015; XUE; HONG, 2016), auditoria (DEBOSKEY;
JIANG, 2011; MARTINEZ, 2011; CUNHA et al., 2014;
SILVA et al., 2014; PERSAKIS; IATRIDIS, 2016), es-
trutura de propriedade (CHI et al., 2015; KAZEMIAN;
SANUSI, 2015; RAZZAQUE; ALI; MATHER, 2016;
BAO; LEWELLYN, 2017; SHAYAN-NIA et al., 2017),
estrutura de capital (RODRÍGUEZ-PÉREZ; HEMMEN,
2010; FUNG; GOODWIN, 2013; BARROS et al., 2014;
MAZZIONI et al., 2015; AN; LI; YU, 2016), investidores
institucionais (HADANI; GORANOVA; KHAN, 2011;
DAI; KONG; WANG, 2013; KIM et al., 2016; LO; WU,
KWEH, 2017), custo de capital (KIM; SOHN, 2013;
CRABTREE; MAHER; WAN, 2014; MOURA et al.,
2016; PERSAKIS; IATRIDIS, 2016; GHOUMA, 2017).
Portanto, a relevância do estudo está no fato
dele buscar relacionar a prática do gerenciamento de

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