O comportamento de compra dos consumidores de alimentos orgânicos: um estudo exploratório

AutorPaulo J. Krischke - Naira Tomiello
CargoDoutor (Ph.D.) em Ciência Política pela Universidade de York (Canadá) e professor no PPGICH da UFSC. - Doutoranda no Programa no Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC, Mestre em Administração de Empresas, Graduada em Ciências Sociais e em Filosofia.
Páginas27-43
27
O comportamento de compra dos consumidores de alimentos
orgânicos: um estudo exploratório
The consumer behavior in purchases of organic foods: an
exploratory study
Paulo J. Krischke1
Naira Tomiello2
Resumo
O objetivo deste artigo é identificar as motivações das escolhas dos consumidores
por alimentos orgânicos, para tanto, foi realizada uma pesquisa qualitativa e
exploratória em um supermercado de Florianópolis. O questionamento inicial aos
consumidores foi “o que o (a) leva a escolher alimentos orgânicos?” Entre os
principais resultados destaca-se a identificação das categorias nativas dos
consumidores de tais produtos, sendo que a preocupação com a saúde f oi a mais
mencionada. Além disso, pode-se constatar a complexidade da temática consumo,
que toma como essencial a perspectiva interdisciplinar para análise e interpretação
do comportamento do consumidor.
Palavras-chave: Consumo. Alimentos orgânicos. Categorias nativas.
Abstract
The purpose of this paper is to identify the motivations for consumer choices of
organic foods. A qualitative and exploratory study was conducted at a Florianópolis
supermarket. The initial question posed to consumers was “what leads you to choose
organic foods?” The principal results are highlighted by the identification of the na tive
categories of the consumers of these products, given that health concerns were the
most mentioned. In addition, the complexity of the issue of consumption makes an
interdisciplinary perspective essential for the analysis and interpretation of consumer
behavior.
Key words: Consumption. Organic foods. Native categories
1 Doutor (Ph.D.) em Ciência Política pela Universidade de York (Canadá) e professor no PPGICH da
UFSC.
2 Doutoranda no Programa no Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC, Mestre em
Administração de Empresas, Graduada em Ciências Sociais e em Filosofia.
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1 INTRODUÇÃO
Canesqui (2005) comenta os estudos antropológicos da alimentação a partir
de um recorte histórico. Para a autora, na década de 70, os hábitos e as ideologias
alimentares tinham como um dos focos a observação da distinção entre alimentos
quente/frio; forte/fraco; pesada/leve; de rico/de pobre; boa ou má para saúde. Outro
foco residia nas diferentes práticas sociais e suas significações. Importantes
conclusões das pesquisas dessa época f oram a identificação das marcas regionais,
as associações dos alimentos à identificação de classe social, aos estados corporais
e aos horários de consumo. Tais estudos sobre a alimentação visavam as classes
de baixa renda. Procuravam entender o lugar da alimentação na composição dos
gastos f amiliares, a organização da família, divisão social do trabalho na provisão,
gerenciamento, controle e realização do consumo alimentar, assim como as
crenças, hábitos e cardápios. Destacou-se a importância da família como estratégia
de sobrevivência, especialmente a quem cabe a regra de “fazer economia”.
Na década de 80, seguindo a autora, os estudos etnográficos tornam-se
mais raros, mas novas categorias são analisadas. Passa-s e a associar alimentação
com saúde e doença. A “boa alimentação” garante a saúde, enquanto a falta de
alimentação é associada à fraqueza mental e física, por exemplo. As prevenções de
doenças passam a ser analisadas a partir dos critérios dos hábitos alimentares, da
manipulação dos alimentos, higiene, assim, como a evitação de bebidas alcoólicas e
cigarros. Surge um discurso sobre os alimentos que fazem mal como gordurosos, e
o discurso estético provenientes da valorização dos alimentos que c oncentram
vitaminas, entre outros. O discurso estético diz respeito às classes médias e altas.
Os anos 90 e a década atual são fortemente marcados por alimentos fast-
foods, que representam a redefinição das fronteiras e espaços alimentares.
Também expandem-se as franchises que valorizam as etnias3, assim como a
comida “a quilo” e praças de alimentação em shoppings. Há as comidas com
simbolismos religiosos e outras com identidades regionais. Outras pesquisas
sinalizam a ass ociação do termo “natural” ao saudável, entretanto, esse termo
3 São as comidas japonesas, mexicanas, chinesas etc.

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