Conflitos sociais, ideologia, cultura e Serviço Social

AutorFranci Gomes Cardoso
Cargocardosofranci@uol.com.br. Doutorado em Serviço Social: Política Sociais e Movimentos Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Assistente Social e Professora aposentada vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Páginas223-228
R. Katál., Florianópolis, v. 22, n. 2, p. 223-234, maio/ago. 2019 ISSN 1982-0259
Conflitos sociais, ideologia, cultura e Serviço Social
223DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1982-02592019v22n2p223
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Neste momento histórico de acirramento da luta de classes com expressivos conflitos sociais e com
forte tendência à barbárie mundial, em particular no Brasil, onde as regressões do trabalho ampliam sua
alienação e exploração inerentes ao capitalismo, e avançam na destruição das conquistas trabalhistas e
previdenciárias dos trabalhadores, a Revista Katálysis apresenta ao leitor, em seu segundo número de 2019, o
instigante tema Conflitos sociais, ideologia, cultura e Serviço Social.
O poder da ideologia, na formação da cultura, no ocultamento da realidade e na explicitação dos confli-
tos sociais como expressão dos antagonismos de classes, merece destaque para pensar a sociedade brasileira
inserida no movimento contraditório do capitalismo neoliberal.
Na dinâmica histórica atual do Brasil, com elevado nível de complexidade e com um amplo leque de
políticas regressivas nos diferentes campos da vida social, evidenciam-se, por um lado, processos profunda-
mente violentos mascarados de combate à própria violência e de defesa de princípios morais de preservação
da família e da sociedade orientados pela ideologia neoliberal, sob a hegemonia do capital financeiro e, por
outro, processos de resistência enquanto categoria histórica que se expressa por movimentos de oposição e
protesto à opressão, como força contrária, como reação à subordinação, à exploração e à humilhação inerentes
ao capitalismo, agora em crise mundial.
Tais processos constitutivos da atual conjuntura brasileira, nos remetem ao pensamento de Rosa Luxemburgo
quando, na segunda fase do apogeu do imperialismo expressou, na mesma trilha de Marx, o que teríamos que
enfrentar no futuro: socialismo ou barbárie. Segundo Mészáros (2003, p. 107), a primeira versão dessa ideia Marx
situou “[...] no último horizonte histórico das contradições em evolução”. Isto é, para ele, num futuro indeterminado,
para salvar a própria existência, seríamos forçados a fazer escolhas certas com relação à ordem societária.
Entendemos que o momento presente é aquele futuro apontado, tendencialmente, por Marx. Portanto,
na história atual em movimento, não há lugar para escolhas conciliatórias se pretendemos enfrentar os inúme-
ros problemas mundiais e no Brasil, desde o desemprego estrutural crônico, até os conflitos sociais, econômi-
cos, políticos e militares internacionais e nacionais, em face da incapacidade do capitalismo, em sua fase
histórica de imperialismo hegemônico, dar solução às contradições do sistema. Pois, “[...] somente uma alter-
nativa radical ao modo estabelecido de controle da reprodução do metabolismo social pode oferecer uma saída
da crise estrutural do capital”. (MÉSZÁROS, 2003, p. 108). Um movimento socialista radical de massa na
perspectiva de construção de um futuro civilizado para a humanidade.
Nessa direção, ideologia e cultura têm papel ativo em processos históricos determinados e são catego-
rias ontológicas fundamentais imbricadas entre si e conectadas a outras categorias que dão corpo à teoria de
Gramsci sobre processos históricos revolucionários.
No pensamento gramsciano a ideologia é uma “[...] concepção do mundo, que se manifesta implicita-
mente na arte, no direito, na atividade econômica, em todas [sic] as manifestações da vida individuais e coleti-
vas [...]” (GRAMSCI, 1978, p. 16). A ideologia tem, portanto, um peso decisivo na organização da vida social,
pois se realiza concreta e historicamente, resultando do movimento da estrutura social.
EDITORIAL

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