Conhecendo o vazio: congruência ideológica e partidos políticos no Brasil

AutorBruno Bolognesi - Flávia Roberta Babireski - Ana Paula Maciel
CargoCientista político, professor na Universidade Federal do Paraná (UFPR), coordenador do Laboratório de Partidos e Sistemas Partidários (LAPeS) (www.lapesufpr.com.br). Editor associado da Revista de Sociologia e Política (www.scielo.br/rsocp), pesquisador do Núcleo de Estudos dos Partidos Políticos Latinoamericanos (NEPPLA/UFSCar) e professor...
Páginas86-116
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2019v18n42p86
8686 – 116
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Conhecendo o vazio: congruência
ideológica e partidos políticos
no Brasil1
Bruno Bolognesi2
Flávia Roberta Babireski3
Ana Paula Brito Maciel4
Resumo
As classicações ideológicas dos partidos políticos brasileiros são periodicamente atualizadas
a m de captar mudanças e tendências. Contudo, usualmente apenas grandes partidos nacio-
nais são escolhidos em detrimento do sistema partidário como um todo. Tal escolha reduz
a compreensão que temos sobre a representação política no país, na medida em que cada
dia mais a fragmentação partidária se eleva e partidos pequenos passam a ocupar posições
antes reservadas aos grandes. Assim, nosso objetivo aqui é mensurar e validar a medida em
relação a um conjunto de partidos que é frequentemente ignorado pela literatura. Para tanto,
selecionamos oito agremiações menos classicadas pelos cientistas políticos no eixo esquerda-
-direita. A classicação foi realizada utilizando web based survey com a comunidade de ex-
perts brasileiros e brasilianistas. A m de testar a validade, mensuramos a congruência com
estudos anteriores e com os programas e manifestos partidários destes oito desconhecidos.
1 Os autores agradecem a Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) pela colaboração e apoio na condução
do campo da pesquisa aqui apresentada em resultados parciais, aos colegas Adriano Codato e Ednaldo Ribeiro e
aos pareceristas anônimos que melhoraram substancialmente este trabalho. Os erros e equívocos remanescentes
são de inteira responsabilidade dos autores.
2 Cientista político, professor na Universidade Federal do Paraná (UFPR), coordenador do Laboratório de Partidos
e Sistemas Partidários (LAPeS) (www.lapesufpr.com.br). Editor associado da Revista de Sociologia e Política
(www.scielo.br/rsocp), pesquisador do Núcleo de Estudos dos Partidos Políticos Latinoamericanos (NEPPLA/
UFSCar) e professor visitante na University of Oxford, e-mail: brunobolognesi@gmail.com.
3 Doutoranda em Ciência Política na Universidade Federal do Paraná. Pesquisadora do Laboratório de Par-
tidos e Sistemas Partidários - LAPeS/UFPR, e editora chefe da Revista Eletrônica de Ciência Política,
e-mail: flaviababireski@gmail.com.
4 Doutoranda em Ciência Política na Universidade Federal do Paraná. Pesquisadora no Laboratório de Partidos e
Sistemas Partidários - LAPeS/UFPR e editora assistente da Revista Eletrônica de Ciência Política, e-mail: anapau-
labmaciel@gmail.com.
Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 18 - Nº 42 - Mai./Ago. de 2019
8786 – 116
Nossa hipótese é que estes partidos são pouco classicados porque possuem posições ideoló-
gicas latentes e não salientes. Os resultados apontam no sentido da conrmação da hipótese,
ainda que fatores contextuais e sistêmicos tenham peso na diculdade da comunidade cientí-
ca em classicar nossas legendas partidárias.
Palavras-chave: Partidos políticos. Ideologia partidária. Congruência ideológica. Manifestos
partidários.
Introdução
Com 35 partidos políticos registrados, 30 destes representados na
Câmara dos Deputados, o Brasil não é somente um caso patológico de
fragmentação partidária mas também um desao metodológico para en-
contrar padrões e regularidades que nos ajudem a traduzir nosso sistema
partidário. Não são poucos os esforços em tentar classicar as legendas
brasileiras (COPPEDGE, 1997; RODRIGUES, 2002a e 2002b; KINZO,
2005; CARREIRÃO, 2006; BRAGA, 2007; WIESEHOMEIER; BE-
NOIT, 2007; ZUCCO JR., 2009; POWER; ZUCCO JR., 2009; DAN-
TAS; PRAÇA, 2010; MADEIRA; TAROUCO, 2011; DIAS; MENEZES;
FERREIRA, 2012; TAROUCO; MADEIRA, 2013a e 2013b; MELO,
2015; BERLATTO; CODATO; BOLOGNESI, 2016; SCHEEFFER,
2016). Ainda assim, com o surgimento de novas legendas, a chegada ao
governo de partidos antes dados como “nanicos” e a perda de peso das
agremiações tradicionais as tarefas de debater e classicar nossos partidos
necessitam ser constantemente revisitadas.
Apesar de necessárias, as novas classicações tendem a atualizar as colo-
rações ideológicas dos partidos brasileiros sem trazer alternativas palpáveis
e viáveis para resolver um problema recorrente (COPPEDGE, 1997; TA-
ROUCO; MADEIRA; 2015): como classicar partidos pouco conhecidos
por eleitores e analistas? Há um set de legendas que sempre cam de fora
das classicações canônicas por ausência de fontes conáveis, por falta de
conabilidade do dado coletado ou simplesmente porque são organizações
dadas como pouco relevantes. Usualmente, são partidos pequenos que não
possuem bancadas expressivas – quando eles as têm – no legislativo nacio-
nal, governam apenas uma ou outra cidade e suas ideias e programa são
desconhecidos pela maioria.

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