CONSULTÓRIO LGBT: (RE)CONSTRUINDO NARRATIVAS DE COMBATE ÀS VIOLÊNCIAS LGBTFÓBICAS NA SAÚDE EM MACAÉ, RIO DE JANEIRO

AutorPaula Martins Sirelli, Gabrielle Gomes Ferreira, Ana Calorina Rodrigues Dias
Páginas201-224
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GÊNERO | Niterói | v. 20 | n. 2 | p. 201-224 | 1. sem 2020
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CONSULTÓRIO LGBT: (RE)CONSTRUINDO NARRATIVAS DE
COMBATE ÀS VIOLÊNCIAS LGBTFÓBICAS NA SAÚDE EM
MACAÉ, RIO DE JANEIRO
Paula Martins Sirelli1
Gabrielle Gomes Ferreira2
Ana Carolina Rodrigues Dias3
Resumo: Este artigo é fruto de pesquisa realizada com o Consultório LGBT –
projeto desenvolvido no Consultório na Rua, serviço público de saúde da cidade
de Macaé, Rio de Janeiro. Objetivamos publicizar e visibilizar esta experiência,
compreendendo-a como fundamental na narrativa de combate às violências
LGBTfóbicas, com enfoque na transfobia em contextos latino-americanos.
A pesquisa qualitativa com profissionais e usuários do projeto ilustra a
dificuldade de incorporar os ganhos materializados na Política Nacional de
Saúde Integral LGBT, em especial por desinformação, conservadorismo
e preconceito dos profissionais, além dos poucos investimentos da gestão
municipal. O projeto Consultório LGBT contrapõe a histórica violação de
direitos e a violência institucional no Sistema Único de Saúde.
Palavras-chave: LGBTfobia; saúde; conservadorismo.
Abstract: This article is the result of research carried out with Consultório LGBT,
a Project developed in the Consultório na Rua, a public health service in the
city of Macaé, Rio de Janeiro. Our aim was to report on this experience that is
essential for the narrative to combat LGBTphobic violence, particularly regarding
transphobia in Latin American contexts. Qualitative research with professionals
and users illustrates the challenges of incorporating the gains materialized in the
Política Nacional de Saúde Integral LGBT, especially due to the lack of information,
conservatism and prejudice of professionals, in addition to the few investments
made by municipal management. The Consultório LGBT project goes against the
historic violation of rights and institutional violence in SUS.
Keywords: LGBTphobia; health; conservatism.
1 Doutora em Serviço Social pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Brasil. Professora do curso
de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense, Brasil. E-mail: paulasirelli@yahoo.com.br. Orcid:
0000-0002-3573-6283
2 Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense, Brasil. Doutoranda em Serviço Social pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Assistente Social da Prefeitura Municipal de São Pedro da Aldeia (RJ),
Brasil. E-mail: asgabrielleferreira@gmail.com. Orcid: 0000-0003-3338-8761
3 Bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense, Brasil. E-mail: ana_rodriguess13@hotmail.com.
Orcid: 0000-0002-5854-1526
202GÊNERO | Niterói | v. 20 | n. 2 | p. 201-224 | 1. sem 2020
Introdução
O Consultório LGBT da cidade de Macaé (RJ) é uma experiência ino-
vadora no atendimento de pessoas LGBTs, como uma das respostas públi-
cas no combate à LGBTfobia com enfoque na transfobia4. As reflexões que
seguem objetivam visibilizar e publicizar esta experiência, compreendendo
tal iniciativa como fundamental na narrativa de combate às violências nos
contextos latino-americanos.
Localizada no norte do Rio de Janeiro, Macaé apresenta peculiaridades
em relação às demais cidades da região no que se refere ao seu alto e rápido
desenvolvimento econômico. Isso se deu pela instalação da Petrobras no
município, trazendo a exploração do petróleo e transformando a cidade
interiorana em uma capital nacional do petróleo.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2010), no censo demográfico de 2000 a 2010 Macaé apresentou um salto
populacional de 132.461 para 206.728 habitantes. Esse boom teve liga-
ção direta com a migração em busca de oportunidades de emprego, visto
que a cidade era considerada um “ElDorado”. Porém, a força de trabalho
absorvida não só pela Petrobras, mas também por outras empresas atraídas
por ela que se instalaram em Macaé, necessitava de qualificação. Nesse
bojo, um número significativo de pessoas não foi incorporado ao quadro
de trabalhadores da Petrobras nem das demais empresas, tendo que partir
para a informalidade, chegando a ficar em situação de rua. Observou-se a
presença de muitas mulheres trabalhando como profissionais do sexo.
O Consultório na Rua surge em Macaé em 2010, através da luta e orga-
nização de profissionais da rede pública, ao observar a quantidade cada vez
mais expressiva de pessoas em situação de rua na cidade. Este número pode
indicar a urgência de uma instituição capaz de estabelecer um diálogo mais
direto com a população-alvo. A princípio, o Consultório na Rua começou a
funcionar com um quadro pequeno de profissionais, e a partir do concurso
público de 2012 novas pessoas foram incorporadas à equipe, o que qualificou
o trabalho e trouxe múltiplos olhares. Nos dias atuais, a equipe conta com
dois assistentes sociais, dois clínicos-gerias, um psiquiatra, uma enfermeira,
uma técnica em enfermagem, uma psicóloga, duas cuidadoras e estagiários.
4 Destacamos o enfoque para a transfobia, pois apesar do Consultório LGBT atender todo a população LGBT,
as pessoas transexuais e travestis, são o público que mais acionam o serviço. Como também todos as/os usuárias/
os entrevistada/os nesta pesquisa são transexuais. Entendemos que a LGBTfobia, portanto, engloba também os
processos de preconceito e violência a população transexuais e travestis por isso utilizamos essa terminologia.

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