Copa do Mundo Fifa 2014 e os impactos na vida da população de baixa renda em Fortaleza-CE / 2014 Fifa World Cup and impacts in the life of low-income population in Fortaleza-CE

AutorLarissa de Alcantara Viana
CargoMestranda no curso de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo ? FAU/USP. Bolsista CAPES. E-mail: larissa.aviana@gmail.com
Páginas345-373
Revista de Direito da Cidade vol.07, nº 02. ISSN 2317-7721
DOI: http://dx.doi.org/10.12957/rdc.2015.16951
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Revista de Direito da Cidade, vol.07, nº 02. ISSN 2317-7721 pp.345-373 345
COPA DO MUNDO FIFA 2014 E OS IMPACTOS NA VIDA DA POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA EM
FORTALEZA-
2014 FIFA WORLD CUP AND IMPACTS IN THE LIFE OF LOW-INCOME POPULATION IN FORTALEZA-
Larissa de Alcantara Viana
1
Resumo
O presente trabalho tem como foco expor as ameaças de remoção e a luta da população pobre de
frente às obras realizadas em função do megaevento Copa do Mundo FIFA 2014 na cidade de
Fortaleza CE. Para isso, faz uma recuperação histórica a partir da urbanização da cidade na
década de 1930 e do processo de industrialização atrelado à política habitacional a partir da
década de 1970, onde, neste período, analisa surgimento dos movimentos sociais urbanos e sua
atuação frente à luta para conquistar moradia e bens de consumo coletivo. Posteriormente, com o
anúncio da Copa do Mundo FIFA 2014, expõe as ações do Estado, a realidade das comunidades
ameaçadas de remoção e o surgimento e a atuação de um novo movimento social que questiona
as violações do direito à moradia digna em decorrência do megaevento. Para concluir, questiona a
quem de fato serve esse modelo de cidade e quem usufrui do direito à cidade.
Palavras-chave: Copa do Mundo. Fortaleza. Moradia.
Abstract
This work focuses on exposing the threats of removal and the fight of the poor population in the
face of the works carried out as a result of the 2014 FIFA World Cup mega event in the city of
Fortaleza - CE. For it makes a historic recovery of the urbanization of the city in the 1930s and the
industrialization process linked to housing policy from the 1970s, which, in this period, analyzes the
emergence of urban social movements and their fight for housing and collective consumption
goods. Later, with the announcement of the FIFA World Cup 2014 exposes the State's actions, the
reality of threatened removal commun ities, in addition to the appearance and the performance of
a new social movement that questions violations of the right to decent housing as a result of the
mega event. Finally, the question for who actually serves this city model and who enjoys the right
to the city.
Keywords: World Cup. Fortaleza. Dwelling.
INT RO DU ÇÃ O
1 Mestranda no curso de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo FAU/USP. Bolsista CAPES. E-mail: lari ssa.aviana@gmail.com
Revista de Direito da Cidade vol.07, nº 02. ISSN 2317-7721
DOI: http://dx.doi.org/10.12957/rdc.2015.16951
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Revista de Direito da Cidade, vol.07, nº 02. ISSN 2317-7721 pp.345-373 346
O presente trabalho busca compreender como ocorrem as ameaça e as remoções em
função da Copa do Mundo FIFA 2014 na cidade de Fortaleza CE. Essa população, historicamente
excluída de direitos básicos, há anos luta pelo direito à cidade
2. Para isso faz-se necessário
entender o histórico de urbanização da cidade, como acontecem as ameaças e as remoções da
população de baixa renda em diferentes períodos e o modo de agir do poder público quando a
população pobre encontra-se em locais de interesse público ou privado.
Desta forma o trabalho encontra-se estruturado em 3 momentos:
No primeiro busca-se comp reender o desenvolvimento urbano da cidade, quando a
população pobre começou a se instalar para além do traçado urbano da cidade. Posteriormente o
processo de industrialização atrelado a políticas habitacionais, quando o Estado passou a atuar
como produtor habitacional e a remover a população pobre para conjuntos habitacionais
localizados nas periferias da cidade. Foi ainda nesse período que os movimentos sociais passaram a
atuar questionando direitos básicos negligenciados pelo poder público.
No segundo momento procura compreender a realização da Copa do Mundo FIFA 2014 no
Brasil onde o país tem como intuito adentrar a chamada globalização e como a realização do
megaevento impactou na vida da população que sofreu ameaças e remoções em decorrência das
obras para a realização do megaevento, especialmente a implantação do Veículo Leve sobre Trilhos
(VLT). Nesse momento utiliza-se de entrevistas feitas pela autora com moradores de comu nidades
ameaçadas pelas obras. Os entrevistados têm sua identidade preservada.
Por fim, nas considerações finais, faz-se uma reflexão sobre a forma de atuação do poder público
em relação às ameaças e às remoções nos diferentes períodos, buscando salientar quais são as
características marcantes desses processos.
URB AN IZ ÃO , CRE SC IM EN TO E PO BR EZ A
Historicamente a população de baixa renda concentra-se a oeste da cidade de Fortaleza.
Essa aglomeração a oeste da cidade teve origem no início da década de 30, quando houve uma
2 Seguindo Harvey (2014), que recupera as ideias de Henry Lefebvre, o termo direito à cidade é utilizado
          dividual ou grupal aos recursos q ue a cidade
incorpora: é um dire ito de mudar e reinventar a cidade mais de acordo com n ossos mais profundos desejos.
Além disso, é um direito mais c oletivo do que individual, uma vez que reinventar a cidade depende
inevitavelmente do exercício de um poder coletivo sobre o processo de urbanização. A liberdade de fazer e
refazer a nós mesmos e a nossas cidades [...] é um dos nossos direitos humanos mais preciosos, ainda que
um dos mai s menos prezados. Qual seria, então, a melhor maneira de exercê-lo? [...] Reivindicar o direito à
cidade [...] equivale a reivindicar algum tipo de poder configurado sobre o proce sso de urbanização, sobre o
modo como nossas cidades são feitas e refeitas, e pressupõe fazê-lo de maneira radical e fun
(HARVEY, 2014, p. 28 30)

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