Corpo e cultura: cartografias da contemporaneidade

AutorLionês Araújo dos Santos
CargoMestre em Estudos de Cultura Contemporânea pelo ECCO/UFMT, graduado em Filosofia/UFMT, Professor efetivo da Rede Estadual de Educação Básica/SEDUC/MT e, atualmente, graduando do Curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso
Páginas49-64
DOI:10.5007/1984-8951.2011v12n100p49
CORPO E CULTURA: cartografias da contemporaneidade
BODY AND CULTURE: cartography of contemporary
Lionês Araújo dos Santos
1
RESUMO
Este artigo procura situar o corpo na cultura contemporânea em relação às
transformações sociais e culturais que vem ocorrendo nas últimas décadas. Destaca
as mudanças na estrutura social da modernidade, as quais parece demonstrarem
dar início a uma nova era, pós-moderna, o que possibilita novas configurações da
sociedade contemporânea. Pensa-se o corpo, a subjetividade, a evidência e
veiculação de um ideal de corpo e de beleza na mídia, a relação com o mercado e o
consumo nos dias atuais.
Palavras-chave: Corpo. Cultura. Contemporaneidade. Consumo.
ABSTRACT
This article seeks to situate the body in contemporary culture in relation to social and
cultural transformations that have occurred in recent decades. Highlights the
changes in the social structure of modernity, which seems to demonstrate initiation of
a new postmodern age which allows new configurations of contemporary society. It is
thought the body, subjectivity, evidence and propagation of an ideal body and beauty
in the media, the relationship with the market and consumption today.
Keywords: Body. Culture. Contemporary. Consumption.
1 INTRODUÇÃO
Hoje é comum dizermos que o homem enfrenta novas forças: o silício e não
mais simplesmente o carbono, o cosmo e não mais o mundo...
[Gilles Deleuze]
O corpo é hoje um desafio político importante, é o analista fundamental de
nossas sociedades contemporâneas.
[David Lê Breton]
1 Mestre em Estudos de Cultura Contemporânea pelo ECCO/UFMT, graduado em Filosofia/UFMT,
Professor efetivo da Rede Estadual de Educação Básica/SEDUC/MT e, atualmente, graduando do
Curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso. lionessantos@hotmail.com
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não Adaptada.
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.12, n.100, p.49-64, jan/jul 2010
Ao longo da história, vários foram os paradigmas
2 que já se lançaram na
tentativa de interpretação das sociedades. A religião, a política, a economia, a
cultura, a comunicação e, mais recentemente, o consumo. Todas essas instâncias
ou fenômenos, em algum momento ocuparam espaço privilegiado na mente e nos
escritos de vários teóricos e intérpretes da sociedade e da cultura. Posto isso, talvez,
podemos dizer que as ciências humanas são ciências “paradigmáticas” por
excelência e, na tentativa da compreensão do humano, estão sempre em crise nos
seus modelos teóricos.
Certamente, a modernidade3 foi um dos períodos mais férteis da história na
concepção de grandes empreendimentos teóricos na tentativa de compreensão da
sociedade e da cultura. O mundo moderno concebeu “audaciosos” projetos e lançou
grandes ideologias. Apoiado na idéia de progresso, nos pressupostos da
universalidade, do individualismo e da autonomia do pensamento, o mundo da
modernidade projetou-se como um período em que as condições para o
esclarecimento eram evidentes, bastando lançar mão do exercício da liberdade4
. Dessa forma, não havia tanto espaço para a dúvida5 nem para as incertezas
e as narrativas pareciam ser insuperáveis. Hoje, no entanto, um sistema filosófico dá
lugar a outro, uma teoria científica substitui outra e não temos mais como saber qual
sistema é mais coerente e qual teoria é a mais verdadeira. Dessa forma, as metas
narrativas - tão caras à modernidade - não são mais acreditadas como fio condutor
dos anseios humanos. A pós-modernidade desencadeou questionamentos sobre o
projeto moderno e suas aspirações. Assim, novos paradigmas são postos e
2 Segundo Thomas Khun, ”paradigmas” são “as realizações científicas universalm ente reconhecidas
que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de
praticantes de uma ciência”. Ver: KHUN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. 4 ed.
Tradução de Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. São Paulo, SP: Editora Perspectiva, 1996. p. 13.
3 O conceito de modernidade, apesar de ter sido tomado como premissa inicial do debate, não será
aqui aprofundada, pois não constitui foco principal da pesquisa e, vale lembrar que as term inologias
acerca do mundo hodierno não são consenso. Inúmeras são as terminologias que, de alguma forma,
tocam a questão. Fala-se em: modernidade líquida, modernidade tardia, modernidade reflexiva, pós-
modernidade, pós-modernização, hiper-modernidade, etc.
4 Na resposta à pergunta: “O que é Esclarecimento”? (Aufklãrung), o filósofo Immanuel Kant (1985)
nos diz que as condições para o esclarecimento e para a autonomia poderiam ser dadas pelo que
chamou de Sapere aude! (ouse saber! lema do esclarecimento). Kant argumenta que o
esclarecimento "é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele pró prio é culpado”, bastando
para isso, fazer uso da razão e “ousar saber”.
5 É importante lembrar que, no século XVII o filósofo René Descartes (1998), um dos principais
fundadores da modernidade, pôs a prova todas as certezas religiosas e, ao fazer isso, Descartes
chegou ao conceito do “cogito erg o sum” (penso, logo existo). A partir daí, as incerte zas poderiam
ser superadas pelo uso do método correto na condução da razão. Na sua obra seminal: Discurso do
Método, Descartes trata do método de como conduzir bem a razão e buscar a verdade no domínio
das ciências.

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