Cultura, Historia e Servico Social: entrevista com Suely Gomes Costa.

Autorde Almeida, Carla Cristina Lima
CargoEntrevista

Entrevista realizada com Suely Gomes Costa, assistente social e economista, professora titular (aposentada) da Escola de Servico Social na Universidade Federal Fluminense (UFF). Professora associada do Programa de Estudos Pos-Graduados em Politica Social e do Programa de Pos-Graduacao em Historia, ambos na UFF. Autora de vastissima producao intelectual na area do Servico Social e Feminismo. Esteve presente nos debates da profissao no periodo do Movimento de Reconceituacao, com participacao na elaboracao do Documento de Teresopolis. Seu livro Signos em Transformacao: a dialetica de uma cultura profissional, publicado pela Editora Cortez em 1995, conta-nos a historia do Servico Social pelo vies da cultura enquanto um processo de longa duracao. A entrevista, que ora e publicada, mostra muitos cruzamentos--a historia, a luta feminista, o Servico Social--que envolvem um dialogo intenso com autores afeitos a um fazer historicopolitico marcado pela experiencia e pelo exame dos processos sociais. Nada mais importante em tempos atuais.

Voce tem os historiadores Thompson e Hobsbawm como interlocutores mais proximos. Como esses intelectuais contribuiram e contribuem para o debate de cultura e classes sociais, considerando o debate de Hobsbawm sobre a "invencao das tradicoes"?

Thompson e Hobsbawm tem uma forte inflexao "antropologica" no exame da experiencia humana. E isso, para mim, os tornam bem mais proximos dos processos sociais que examinam. Eles rompem com abordagens marcadas por grandes generalizacoes conceituais sobre o mundo social, essas que escondem muito da vida social. E isso muda muito os resultados do exame das fontes historicas.

Em seu livro "Signos em Transformacao: a dialetica de uma cultura profissional" voce recupera a historia do Servico Social por angulos originais, inspirada na teoria de Thompson: "a cultura profissional"; "perspectiva de longa duracao historica"; "o cotidiano e as acoes dos sujeitos historicos". Fale-nos um pouco desse "fazer historiografico" e sua importancia para a profissao.

A perspectiva da longa duracao historica nos permite colocar em cena as muitas temporalidades de um lugar, e tambem, nelas, a variacao de usos e costumes, lembrando que ha continuidades e rupturas de modos de ser e de viver. Essa perspectiva que e teorico-metodologica torna menos insegura a formulacao de conceitos sobre usos e costumes. Distinguem-se ai tambem continuidades e rupturas de praticas sociais: ha as que permanecem e ha as que mudam. Captura-se--com menos enganos/erros--a dinamica social de um dado tempo. No caso do Servico Social, essa perspectiva permite distinguir--com mais seguranca--a transformacao das praticas sociais e de seus significados em relacao as formas de atender um conjunto de necessidades humanas. Tambem no caso, implica em reconhecer as desigualdades inerentes as relacoes de genero diante de complexas mudancas civilizatorias conduzidas por homens e mulheres. Ha conceitos que mudam rapidamente e ha os que tambem permanecem; tudo isso ao mesmo tempo. Essa complexa configuracao, se desvendada...

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