Cultura Nacional e Responsabilidade Social Corporativa.

AutorKoprowski, Sirlene

I Introducao

A Responsabilidade Social Corporativa (RSC) tornou-se preocupacao crescente das empresas, que passaram a ser avaliadas nao somente por seu desempenho financeiro, mas tambem pelo desempenho social (Rhou, Singhal & Koh, 2016). Como consequencia das preocupacoes advindas das partes interessas da firma, a RSC emergiu como relevante agenda de pesquisa (Pradhan & Nibedita, 2019), obtendo destaque em virtude do recente debate de sua contribuicao ao desenvolvimento sustentavel e para mitigar impasses contemporaneos que ultrapassam as fronteiras nacionais (Halkos & Skouloudis, 2017).

Ademais, a medida que as empresas expandem seus negocios internacionalmente, precisam considerar as obrigacoes sociais e ambientais, que diferem consideravelmente em cada contexto (Ho, Wang & Vitell, 2012). A literatura aponta que a cultura nacional e uma das principais causas para possiveis divergencias (Halkos & Skouloudis, 2017).

A cultura pode ser definida como um direcionamento coletivo da mente que difere os membros de uma nacao, regiao ou grupo etnico, de outros (Hofstede, 1994). Em virtude dessas diferencas, a importancia e o entendimento do que representa a RSC pode divergir entre os paises em funcao dos aspectos culturais envolvidos (Ho et al., 2012). Considerando esse aspecto, a cultura dos paises desempenha um papel relevante sobre as pressoes sociais e ambientais que as empresas enfrentam (Horak, Arya & Ismail, 2018), moldando as expectativas das partes interessadas das firmas sobre questoes de RSC (GarciaSanchez, Cuadrado-Ballesteros & Frias-Aceituno, 2016).

O meio academico tem investigado o impacto da cultura do pais na RSC das empresas, utilizando para tal as dimensoes culturais propostas por Hofstede (1980, 1994) e Hofstede, Hofstede e Minkov (2010), a exemplo dos estudos de Garcia-Sanchez et al. (2016), Ho et al. (2012), Ringov e Zollo (2007) e Thanetsunthorn e Wuthisatian (2018).

Ringov e Zollo (2007) averiguaram o efeito das dimensoes culturais no desempenho social e ambiental de 463 empresas de 23 paises norte-americanos, europeus e asiaticos. As evidencias empiricas permitiram a suposicao de que um comportamento socialmente responsavel das organizacoes e influenciado pelo contexto cultural.

Ho et al. (2012) analisaram o impacto da cultura nacional e do ambiente geografico sobre o desempenho social das empresas. Ao investigar empresas de 49 paises distintos, totalizando 3.680 observacoes, encontraram evidencias de que as dimensoes culturais de Hofstede exercem influencia significativa sobre o desempenho social das empresas.

Adotando um indice baseado nas diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), Garcia-Sanchez et al. (2016) examinaram a influencia do ambiente institucional sobre a divulgacao de informacoes voluntarias de RSC. Para tanto, consideraram uma amostra de 1.598 empresas de 20 paises distintos, no periodo de 2004 a 2010, e constataram que as dimensoes culturais exercem relevantes pressoes sobre as organizacoes, impulsionando o comportamento corporativo para uma maior transparencia.

Halkos e Skouloudis (2017) investigaram a influencia das dimensoes culturais de Hofstede na RSC nacional. Admitindo a heterogeneidade de 86 paises distintos para essa analise, encontraram evidencias de que a cultura nacional influencia o engajamento do pais em questoes de RSC, tendo o potencial de afetar iniciativas empresariais socialmente responsaveis.

As dimensoes culturais podem, entretanto, influenciar de formas distintas a RSC, considerando diferentes pontos de analise. Um exemplo e o estudo de Kang, Lee e Yoo (2016), que considerou 365 empresas de capital aberto dos EUA do setor de hotelaria, no periodo de 1993 a 2011, para averiguar o efeito das dimensoes culturais sobre tres vertentes de RSC: positiva (pontuacao por atividades socialmente responsaveis), negativa (pontuacao por atividades socialmente irresponsaveis) e pontuacao total. Os resultados demonstraram influencias distintas das dimensoes culturais sobre as tres variaveis de RSC.

Outro exemplo refere-se ao estudo de Thanetsunthorn e Wuthisatian (2018), que avaliaram o efeito das dimensoes culturais sobre a RSC, considerando tres subareas especificas e relacionadas com empregados: i) remuneracao e beneficios; ii) diversidade e direitos laborais; e iii) formacao, saude e seguranca. Para tanto, utilizaram o desempenho em RSC (vertente empregados) de 8.940 empresas de 48 paises de nove regioes diferentes, comprovando que as dimensoes culturais impactam nas atividades de RSC relacionadas aos empregados, porem os resultados em cada subarea apresentaram influencias divergentes em cada tipo de cultura.

Assim, embora existam estudos que consideraram a relacao entre a cultura dos paises e questoes de RSC, percebem-se inconsistencias nos achados do efeito individual de cada dimensao cultural sobre a RSC das empresas. Alem disso, a maioria das pesquisas que trataram sobre essas vertentes e a RSC adotou apenas quatro das seis dimensoes culturais propostas por Hofstede, sendo geralmente desconsideradas as dimensoes de orientacao a longo prazo e indulgencia versus restricao (Thanetsunthorn & Wuthisatian, 2018). Como se percebe, nos estudos anteriores a mensuracao da RSC considerou aspectos de evidenciacao ou de dimensoes ambientais e/ou sociais de forma individual, permanecendo o desempenho global da empresa em RSC uma oportunidade a ser explorada.

Diante desse contexto, pretende-se responder a seguinte questao de pesquisa: qual a influencia das dimensoes culturais de pais no desempenho em Responsabilidade Social Corporativa das empresas? O objetivo do estudo consiste em avaliar se as dimensoes culturais de pais influenciam o desempenho em Responsabilidade Social Corporativa das empresas, no ambito internacional.

Como justificativa do estudo, destaca-se a relevancia que os achados da pesquisa representam no desenvolvimento de estrategias empresariais de internacionalizacao (Kang et al., 2016). O estudo contribui com a tematica ao evidenciar que os fatores culturais em nivel de pais e caracteristicas em nivel organizacional afetam o comportamento das empresas no desempenho em Responsabilidade Social Corporativa. Assim, o desempenho em RSC e dependente da receptividade cultural do pais e de fatores internos da empresa.

2 Revisao da literatura e hipoteses da pesquisa

A cultura nacional pode ser entendida como o conjunto de valores, crencas e objetivos de um pais que norteiam as atitudes de seus membros (Hofstede, 2001). Da mesma forma, os principios aceitos e a percepcao diante de atividades socialmente responsaveis realizadas por empresas tambem variam de cultura para cultura (Kang et al., 2016).

O proprio entendimento sobre o que e responsabilidade social esta ligado a um contexto especifico e a cultura nacional influencia a expectativa da sociedade sobre a forma com que as empresas devem se comportar (Ringov & Zollo, 2007). Assim, a cultura e os valores sociais podem influenciar a postura das organizacoes na forma em que utilizam os recursos (naturais e financeiros) e de seu envolvimento em praticas socialmente responsaveis (Horak et al., 2018).

As dimensoes culturais propostas por Hofstede (1980, 1994) e Hofstede et al. (2010) tem sido utilizadas pelo meio academico com o intuito de averiguar o impacto das diferencas culturais das nacoes no envolvimento empresarial em questoes de RSC. Neste estudo, sao adotadas as seis dimensoes culturais de Hofstede, sendo elas: distancia do poder, individualismo versus coletivismo, masculinidade versus feminilidade, aversao a incerteza, orientacao a longo prazo e indulgencia versus restricao.

2.1 Distancia do poder

A dimensao cultural sobre distancia do poder refere-se a medida em que os individuos menos poderosos das organizacoes esperam e aceitam que a distribuicao do poder seja feita de forma desigual (Halkos & Skouloudis, 2017). Os individuos em paises com alta pontuacao nesta dimensao aceitam uma hierarquia estabelecida e a desigualdade sem precisar de mais justificativas. Por sua vez, os membros pertencentes as nacoes com baixas pontuacoes tendem a ter menor tolerancia na desigualdade de poder, despendendo mais esforcos para igualar tal condicao (Hofstede, 2001; Hofstede et al., 2010).

Evidencias de pesquisas anteriores (Ho et al., 2012; Kang et al., 2016; Thanetsunthorn & Wuthisatian, 2018) apontam para influencia positiva da alta distancia de poder em questoes de RSC. O estudo de Kang et al. (2016) propoe que empresas multinacionais atuantes em paises com alta distancia do poder, dadas sua expressividade e lideranca economica, tendem a realizar atividades socialmente responsaveis.

Dessa forma, pode-se inferir que as empresas pertencentes as culturas com maior distancia do poder, ao decidirem adotar em suas estrategias de negocios iniciativas proativas de RSC, terao apoio de seus empregados e demais membros menos poderosos, os quais aceitam a existencia de uma hierarquia na organizacao, sem maiores contestacoes (Hofstede, 2001; Hofstede et al., 2010), e assim tendem a apoiar mais a gestao em suas decisoes. Portanto, propoe-se a seguinte hipotese:

[H.sub.1]: empresas localizadas em paises com maior distancia do poder apresentam maior desempenho em Responsabilidade Social Corporativa.

2.2 Individualismo versus coletivismo

Essa dimensao se refere ao grau de interdependencia que os membros de uma sociedade mantem entre si (Hofstede Insights, 2019). Em uma sociedade individualista, espera-se que os individuos cuidem de si e das pessoas de sua familia imediata. Ja em paises mais coletivistas, desde o nascimento as pessoas estao inseridas em grandes e fortes grupos, marcados por familias extensas, que se protegem de forma mutua em troca de inquestionavel lealdade (Hofstede, 1994).

Empresas que atuam em sociedades altamente individualistas sao menos propensas a demonstrar grandes preocupacoes sobre o impacto ambiental ou social de seus negocios, a menos que esteja no rol de seus interesses proprios (Ringov &amp...

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