O declínio do preço do petróleo e a insolvência do Punto Fijo

AutorFlávio Túlio Ribeiro Silva
Páginas51-58

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A inflexão do preço do petróleo e a diminuição do patamar de produção, contribuindo massivamente para a redução dos ingressos frutos da renda petroleira, mudaram totalmente a conjuntura venezuelana. Foi representativo disto o dia de 18 de fevereiro de 1983 ou identificado como Viernes Negro, quando o presidente Luiz Herrara Campins (1979-1984) foi, conforme relata Maringoni, "obrigado a desvalorizar abruptamente a moeda nacional, fruto em certa medida, da queda substancial dos preços do petróleo, da disparada da dívida pública, [...] e do aumento dos juros dos empréstimos internacionais". (MARINGONI, 2008, p. 67).

Existe um fator prejudicial à situação venezuelana, mas que igualmente atingiu paralelamente uma grande parte da América Latina. Os altos volumes de empréstimos feitos por países desenvolvidos no final

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da década de 1960 e início dos anos 1970 começariam a vencer massivamente, promovendo um descontrole no pagamento a países do exterior e dificultando a disponibilidade de dólares.

A desvalorização da moeda elevou a dívida pública e a dívida externa alcançou os US$ 50.000.000.000. Além de debilitar a economia do país, retirou credibilidade política da capacidade de gestão do Pacto. Ainda que em 1985 as tentativas de reforma do Estado tenham iniciado uma maior democratização com a promulgação das eleições para governadores e alcades25representando uma maior accountability26conforme o começo do puntofujismo. Ascenderam denúncias e processos de corrupção, como o que provocou a fuga do ex-presidente Jaime Lusinchi em 1995, posterior a sua gestão (1984-1989). As condições sociais no país se degeneraram devido à falta de recursos para dar continuidade às políticas de clientelismo e nepotismo.

O enfraquecimento dos partidos e a falta de representatividade tornam-se cada vez mais evidente, originando-se manifestações, como modo de pressionar o governo, até mesmo pela ascensão da abstenção. Foi nesta conjuntura que ocorreu o Caracazo, o maior movimento da população até o momento e como a historiadora Mariana Bruce Baptista analisa:

O Caracazo, em 1989, representa o auge desta crise, quando explode uma revolta popular sem precedentes, resultado do acúmulo de insatisfações aprofundadas com conjunto de revoltas neoliberais implementadas por Carlos Andrés Perez. O estopim para sua eclosão é o aumento em 100%, da noite para o dia, das passagens dos meios de transportes, o que inviabilizou que muitos trabalhadores pudessem sair de suas cidades, passando a ficar em dormitórios que estão ao redor de Caracas.[...] O Caracazo foi, assim, resultado de um conjunto de fatores: o empobrecimento da população em função de uma crítica recessão econômica e do esfacelamento das políticas públicas; da ausência de canais de medição entre camadas alijadas de seus direitos às instâncias do poder... (BAPTISTA, Mariana Bruce Ganem. 2011, p. 36).

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A reação governamental foi de forte represália. Segundo Margarida Lopez Maya, centenas de pessoas foram mortas e houve muitas perdas materiais (LOPEZ MAYA, 2002, p. 18). Todo esse processo nos demonstra não só a decadência do puntofujismo, mas comprova a grande influência petroleira nos desdobramentos da gestão do Estado, como a política de estado fruto desta dependência. As características do país naquele momento eram de desemprego e fuga de capitais iniciado em 1983. A inflação anual pós Caracazo chegou a 81% e a parte da...

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