Definição e classificação da teoria retórica realista

AutorTatiana Aguiar
Páginas11-37
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CAPÍTULO 1
DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA TEORIA
RETÓRICA REALISTA
1.1 A retórica realista dentre outras visões retóricas
desde a origem do termo
A retórica é anterior à sua própria história, vez que é im-
possível que o homem tenha se utilizado da linguagem sem o
intuito de persuadir, como nos lembra Olivier Reboul.3
É possível encontrar a retórica (material, como chamare-
mos adiante) entre os povos hindus, chineses, egípcios e he-
breus. Porém, pode-se afirmar que os gregos inventaram a téc-
nica retórica (a retórica estratégica, em nosso dizer).
O termo rhetoriké foi utilizado em suas primeiras vezes no
texto Górgias de Platão, ao mesmo tempo em que Alcidamante
o menciona no “Acerca dos que escrevem discursos escritos, ou
Acerca dos Sofistas”, respectivamente em 387-386 a.C e 390 a.C.4
3. REBOUL, Olivier. Introdução à retórica. Trad. Ivone Castilho Benedetti. São Pau-
lo: Martins Fontes, 1998, p. 01.
4. RENNÓ. Teodoro (Org.) Marcos Martinho. Ensaios de retórica antiga. Belo Hori-
zonte: Tessitura, 2010, p. 15.
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A SUPERPOSIÇÃO DE DISCURSOS VENCEDORES
Em ambos os textos, tal expressão quer se referir à prá-
tica do discurso longo e contínuo, em contraposição à pratica
do diálogo próprio da Filosofia, de modo a se demonstrar a su-
perioridade desta sobre aquela: a uma porque, por se fundar
em crença e não em ciência, a retórica sequer chegava a ser
uma arte; a duas porque a retórica visava ao agradável e ao
prazeroso e não ao útil e ao bom, como a filosofia.
Com tais ideias, pretendia Platão difundir que a retóri-
ca não só era inútil, como também prejudicial, na medida em
que era capaz de convencer alguém que algo injusto, era jus-
to, evitando a punição de quem efetivamente merecia.
Para Platão, falando pela boca da sua personagem
Górgias, a retórica é hábil “em falar contra todos e sobre qual-
quer assunto, de tal modo que, para a maioria das pessoas,
consegue ser mais persuasivo que a qualquer outro com res-
peito ao que quiser”.5
No mesmo sentido caminha Sócrates, no terceiro texto
do Fedro, ao distinguir a retórica da dialética, negando, à pri-
meira, a sua natureza artística, a qual só poderia ser conferi-
da à segunda, vez que esta produzia uma persuasão lenta e
definitiva, à medida que descobria a verdade, enquanto que a
retórica tinha sucesso quando se prestava a manter uma mul-
tidão de ignorantes satisfeitos com uma aparência de verdade
– a verossimilhança – e não com a verdade de fato. Daí por-
que, entendia tal personagem que a retórica não podia persu-
adir efetivamente, da mesma forma que não podia gozar da
infalibilidade inerente às artes.
Porém, para Adriano M. Ribeiro, no Encômio à Helena,
Górgias revelava pensamento diverso do que “pintava”
Platão, o qual é considerado por muitos como o responsável
por difamar tal sofista com a sua personagem homônima.
Isto porque, para esse filósofo da USP, Górgias não visava a
5. Górgias, 457, a. Apud ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo:
Martins Fontes, 2007, p. 1011.

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